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domingo, 20 de novembro de 2011

Breve exposição sobre o dualismo moderno e a posição tomista (parte 1)

No livro, “O Princípio Vida”, Hans Jonas reúne artigos escritos entre 1950 e 1965. Segundo o autor no prefácio da obra, a intenção é fornecer uma interpretação “‘ontológica’ dos fenômenos biológicos” (JONAS, 2004, p.7). O que interessa para este artigo é mais precisamente a análise do dualismo na modernidade e as respectivas respostas inseridas na própria modernidade. São elas, a saber, o “monismo materialista” e o “monismo idealista” de acordo a terminologia jonasiana. A partir disso apresentarei a posição tomista associada à compreensão oficial da Igreja apresentada no Catecismo Tridentino. Demonstrarei que a caracterização dualista não se aplica a uma filosofia autêntica e autenticamente crista.
Iniciando a análise procedo a um resumo do texto de Jonas que considero esclarecedor[1]para compreender como a filosofia e o pensamento moderno em geral se configuram a partir da divisão dualista cartesiana entre res cogitans e res extensa. De acordo com Jonas (2004) a humanidade num primeiro momento enxergava vida em tudo, ou seja, atribuía característica dos seres animados aos inanimados (animismo, hilozoísmo). Logo, a grande questão posta ao ser humano era a morte como negação da ampla experiência da vida. Como resolução ao problema desta magnitude emergia a crença na vida após a morte ou mesmo a negação da morte. Poderíamos acrescentar as pesquisas arqueológicas e antropológicas que demonstram o quão antiga é essa ideia. Essa concepção panvitalista e animista encerra o que Jonas chama de “monismo integral panvitalista”.
Com a descoberta do “eu” no ocidente e sua relativa e posterior independência do mundo externo e inanimado se instaura um marco histórico separando o unilateralismo animista do dualismo. Alma e mundo se tornam excludentes a ponto de se declarar “soma-sema”, ou seja, “o corpo um túmulo” [2]. Essa separação acentua-se na modernidade com o cogito cartesiano. Nesse momento o panvitalismo cedia e emergia o “predomínio ontológico da morte” (JONAS, 2004, p.22); se antes a morte era o grande mistério já que tudo era vida, na modernidade a morte (ou o que é inanimado) é o que há de mais certo e a vida surge como grande mistério e empecilho à explicação científica do universo.
Frente ao dualismo surgem duas alternativas, a primeira o “monismo materialista”, já indicado acima com a “ontologia da morte” e é apontada por Jonas como a mais séria e considerável entre as posições. A segunda alternativa, mais fraca do ponto de vista explicativo, é a do “monismo idealista”. Cada uma delas toma um dos termos do dualismo e trata o outro como epifenômeno, logo há o fracasso da explicação da consciência para o materialismo e da “coisa em si” para o idealismo. Essas posições pós-dualistas, no entanto, não respondem satisfatoriamente ao problema já que não conseguem fugir da distinção estanque entre consciência e matéria. Apesar do aparente sucesso explicativo da posição materialista a vida continua inexplicada:
Mas a vida não admite destilação; ela ocupa algum lugar entre os aspectos purificados lá onde se encontra sua realização concreta. Abstrações não possuem vida. Na verdade, repetimos, a consciência pura vive tão pouco quanto a matéria pura que se lhe opõe, mas em compensação ela é também tão pouco mortal. Vive como vivem os espíritos descarnados, não conseguindo mais entender o mundo. (JONAS, 2004, p. 31).
 Apresentado minimamente o problema do dualismo passo agora a uma análise do ponto de vista cristão sobre o tema, deixando claro desde já que o dualismo citado não se aplica ao cristianismo como o atestam o filósofo S. Tomás de Aquino e documentos da Igreja.
   
Referências bibliográficas:
BARROS, Manuel Correia de. Filosofia tomista. 2.ed. Porto: Livraria Figueirinhas, sd.
JONAS, Hans. O Princípio Vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Petrópolis: Vozes, 2004. 278 p. Titulo original: Das Prinzip Leben: Ansatze zu einer philosophichen Biologie. (Textos filosóficos) ISBN: 85-326-3084-7.


[1] Isso não significa que eu partilhe plenamente de sua posição ou que esta esgote o assunto.

[2] Representada pelo orfismo e pela gnose.

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