No livro, “O Princípio Vida”, Hans
Jonas reúne artigos escritos entre 1950 e 1965. Segundo o autor no prefácio da
obra, a intenção é fornecer uma interpretação “‘ontológica’ dos fenômenos
biológicos” (JONAS, 2004, p.7). O que interessa para este artigo é mais
precisamente a análise do dualismo na modernidade e as respectivas respostas
inseridas na própria modernidade. São elas, a saber, o “monismo materialista” e
o “monismo idealista” de acordo a terminologia jonasiana. A partir disso
apresentarei a posição tomista associada à compreensão oficial da Igreja apresentada
no Catecismo Tridentino. Demonstrarei que a caracterização dualista não se
aplica a uma filosofia autêntica e autenticamente crista.
Iniciando a análise procedo a um
resumo do texto de Jonas que considero esclarecedor[1]para
compreender como a filosofia e o pensamento moderno em geral se configuram a
partir da divisão dualista cartesiana entre res
cogitans e res extensa. De acordo
com Jonas (2004) a humanidade num primeiro momento enxergava vida em tudo, ou
seja, atribuía característica dos seres animados aos inanimados (animismo, hilozoísmo). Logo, a grande
questão posta ao ser humano era a morte como negação da ampla experiência da
vida. Como resolução ao problema desta magnitude emergia a crença na vida após
a morte ou mesmo a negação da morte. Poderíamos acrescentar as pesquisas
arqueológicas e antropológicas que demonstram o quão antiga é essa ideia. Essa
concepção panvitalista e animista encerra o que Jonas chama de “monismo
integral panvitalista”.
Com a descoberta do “eu” no ocidente e
sua relativa e posterior independência do mundo externo e inanimado se instaura
um marco histórico separando o unilateralismo animista do dualismo. Alma e
mundo se tornam excludentes a ponto de se declarar “soma-sema”, ou seja, “o corpo um túmulo” [2].
Essa separação acentua-se na modernidade com o cogito cartesiano. Nesse momento o panvitalismo cedia e emergia o
“predomínio ontológico da morte” (JONAS, 2004, p.22); se antes a morte era o
grande mistério já que tudo era vida, na modernidade a morte (ou o que é
inanimado) é o que há de mais certo e a vida surge como grande mistério e
empecilho à explicação científica do universo.
Frente ao dualismo surgem duas
alternativas, a primeira o “monismo materialista”, já indicado acima com a
“ontologia da morte” e é apontada por Jonas como a mais séria e considerável
entre as posições. A segunda alternativa, mais fraca do ponto de vista
explicativo, é a do “monismo idealista”. Cada uma delas toma um dos termos do
dualismo e trata o outro como epifenômeno, logo há o fracasso da explicação da
consciência para o materialismo e da “coisa em si” para o idealismo. Essas
posições pós-dualistas, no entanto, não respondem satisfatoriamente ao problema
já que não conseguem fugir da distinção estanque entre consciência e matéria. Apesar
do aparente sucesso explicativo da posição materialista a vida continua
inexplicada:
Mas a vida não admite destilação; ela ocupa algum lugar entre os
aspectos purificados lá onde se encontra sua realização concreta. Abstrações
não possuem vida. Na verdade, repetimos, a consciência pura vive tão pouco
quanto a matéria pura que se lhe opõe, mas em compensação ela é também tão
pouco mortal. Vive como vivem os espíritos descarnados, não conseguindo mais
entender o mundo. (JONAS, 2004, p. 31).
Apresentado minimamente o
problema do dualismo passo agora a uma análise do ponto de vista cristão sobre
o tema, deixando claro desde já que o dualismo citado não se aplica ao
cristianismo como o atestam o filósofo S. Tomás de Aquino e documentos da
Igreja.
Referências bibliográficas:
BARROS, Manuel Correia de. Filosofia
tomista. 2.ed. Porto: Livraria Figueirinhas, sd.
JONAS, Hans.
O Princípio Vida: fundamentos para
uma biologia filosófica. Petrópolis:
Vozes, 2004. 278 p. Titulo original: Das Prinzip Leben: Ansatze zu einer
philosophichen Biologie. (Textos filosóficos) ISBN: 85-326-3084-7.
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