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sábado, 1 de abril de 2023

O homem sensato e a rocha

    Esses dias lendo e meditando sobre os evangelhos, mais precisamente o de S. Mateus deparei-me com uma parábola contada por Nosso Senhor. Não era a primeira vez que a lia, mas foi a primeira vez que eu refleti mais profundamente sobre seu significado. Acredito que o meu leitor também já conhece a parábola do homem sensato versus o homem insensato, mas permita-me compartilhar contigo o que espero não ser um devaneio.

    Pois bem, nessa parábola Nosso Senhor distingue dois tipos de homem e suas atitudes. O sensato que constrói sua casa sobre a rocha e o insensato que a constrói sobre a areia. O primeiro pensamento que me veio é que nada é dito sobre o tamanho ou outra característica da casa, mas somente sobre onde ela se assenta. Devemos construir a casa, pequena que for, mas devemos fazê-la sobre a rocha firme da Igreja, sobre Pedro a rocha que o próprio Cristo nos deu. Nesse sentido, devemos proceder imitando o caminho dos santos que se fizeram pequenos quando construíam a casa de sua vida espiritual.

    No entanto, a agitação do mundo nos conclama a construir imensas mansões, grandes casas de orgulho e “direitos” e de grande confiança nos feitos humanos. A questão é que hoje ou amanhã tais casas cairão, pois foram alicerçadas na areia das opiniões e na fluidez do mundo onde o que hoje é, ontem não o foi nem ao menos amanhã será. Meditando acerca disso e vislumbrando o vaivém do mundo, outro entendimento dessa figura da sensatez e da insensatez se fez presente.

    O homem sensato se funda na rocha que representa o que é fixo e firme, dando-lhe a segurança necessária de que sua obra não sucumbirá em meio às instabilidades do mundo. E como podemos alcançar essa rocha em meio à lama movediça que se tornou o mundo “pós-cristão”? O primeiro passo é compreender, aceitar e acatar a realidade como foi criada e como ela se encontra após a Queda, afinal a revolta contra o que Deus determinou é a fonte de todo pecado e todo mal. A rocha firme é a realidade da obra da Redenção. E nesse ponto é importante fazer algumas considerações. A primeira é em relação ao pecado primeiro que consiste justamente em não aceitar a realidade, em não aceitar o que se é, mas revoltar-se contra essa realidade e acreditar-se ser maior do que se é. Eis o pecado de Lúcifer, eis a desobediência que fez caírem Adão e Eva e com eles a humanidade. Aí está a areia do homem insensato.

    A segunda consideração encontra-se nos salmos de Davi em que o salmista pede ao Senhor que o livre da confusão, que consiste justamente em não enxergar a realidade. Esse é um dos maiores castigos que podemos padecer: a confusão mental. Ela nos faz enxergar a rocha como areia e vice-versa. Tal confusão hoje é imperativa no mundo em suas múltiplas ideologias, sendo preciso para construir na rocha nos afastarmos do orgulho de querer ser o que não somos e aceitarmos o que somos com humildade.

    S. Tomás de Aquino nos diz que a humildade é uma virtude que modera o nosso anseio de grandeza nos orientando pela reta razão. Eis aí o modo de lidarmos com as areias movediças da contemporaneidade: reconhecer a rocha da realidade, rebaixando as nossas vontades com humildade.