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segunda-feira, 11 de abril de 2022

Memórias da Semana Santa

Ao ser perguntado se me lembrava das músicas cantadas na Via Sacra respondi o seguinte:

Toda vez que inicio o "a morrer crucificado..." me sucedem memórias, afetos e sentimentos que estimulam a vontade de rezar e meditar sobre as dores de Nosso Senhor no calvário. Lembro da minha mãe, dos meus tios e tias avós, das senhoras mais velhas, pejorativamente chamadas de antigas, das ruas de Pedro Leopoldo onde a procissão quilométrica entoava cantos piedosos. Lembro da esquife de Nosso Senhor com o cheiro agradável de ervas aromáticas, como o manjericão. Lembro da belíssima imagem de Nossa Senhora das Dores e da procissão do encontro onde ainda pequeno não dimensionava a dor de ver um filho sofrer e ainda hoje nem sequer arranho nesse ponto, pois Nossa Senhora via ali ensanguentado Seu Filho, mas também o Seu Senhor. Quanto sofrimento não carregou aquele coração puro!

Lembro do silêncio e das velas, e da minha mãe a se negar a nos comprar pipocas na encenação da paixão. Aquele não era momento para comer pipocas dizia ela, aquele não era um espetáculo qualquer e o nosso pequeno sacrifício em seus dizeres não era nada comparado ao sacrífico da cruz.

Eu vivi os últimos suspiros, já vacilantes, de um tempo onde a semana santa ainda não tinha virado um feriado prolongado e onde ainda se viam os homens abaixarem seus chapéus ao verem o cortejo. Até os prostíbulos abaixavam as portas e algumas mulheres saíam  de lá com um olhar lacrimoso rumo ao esquife que era levado com profundo respeito por homens "antigos", já calejados.

Por último me lembro das matracas...

Que som incômodo e monótono, o som de um mundo deicida, um som áspero, mas que no fundo anunciava um novo tempo onde uma nova canção de alegria entoaria.

Sim, eu me lembro...