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terça-feira, 30 de abril de 2024

Pensamento avulso XCIX

Quando alguém sem honra recebe um prêmio sem mérito não é o desonrado que se eleva é a premiação que se rebaixa. 

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Pensamento avulso XCVIII

Parece que muita gente reduziu os pecados capitais à avareza ou à ira, mas esquecem que o dinheiro ou sua busca desordenada não são as únicas fontes do mal. A soberba do homem moderno não poucas vezes o leva a ser mais réprobo do que sua ganância, pois ele é desobediente a Deus e sobrepõe à vontade Dele a sua própria vontade.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Pensamento avulso XCVII

Os escolásticos estavam certíssimos quanto à procura incessante pela precisão conceitual. Perdida essa busca, vista como perfumaria por seus detratores, alcançamos um tempo que faz a Torre de Babel parecer um exemplo de concórdia linguística. No mundo pós-moderno, ou como queiram chama-lo, impera não apenas a imprecisão dos conceitos, mas a afirmação de sua impossibilidade, o que ficou conhecido como pós-verdade. Vide o exemplo do uso do termo fascismo. Há uma definição precisa dessa ideologia política que remete ao ideário de Mussolini, mas que é abandonada para que o termo fascismo seja usado como um xingamento ou mesmo para acusar ideologias diversas ou mesmo antagônicas ao mesmo, porque é menos trabalhoso e angaria publicidade, além de exalar um certo intelectualismo, como se a mera pronúncia do termo em determinados contextos fizesse a pessoa parecer mais inteligente do que realmente é.

sábado, 6 de abril de 2024

Política: do bem comum ao jogo de poder

 

O conceito de política é um conceito que, tomando de empréstimo a lógica aristotélica, chamaríamos de equívoco em nosso contexto, ou seja, um conceito em que para um único nome ou termo há diferentes conceitos mentais associados. Isso significa que apesar do nome “política” ser único, há diversidade de significados que variam ao longo da história.

A fins didáticos iremos distinguir neste texto duas grandes matrizes de definição do que é política, buscando transformar esse conceito num conceito análogo, onde tomando de empréstimo os dizeres do filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, obtenhamos uma “síntese da semelhança e da diferença” entre as duas visões de política.

Podemos dizer, em linhas gerais, que em qualquer cenário a política diz respeito à sociabilidade humana e às relações de poder. No entanto, o entendimento acerca desses fundamentos da política não implica numa mesma definição desta. Como já dissemos, há duas linhas que iremos investigar.

A primeira advém da compreensão clássica que permeou a filosofia política desde a Antiguidade ao Medievo. Essa compreensão é definida por alguns estudiosos das ciências sociais, como idealismo político. Certamente esse é um termo controverso, mas que resumidamente indica que a visão clássica colocaria a teoria sobre o que deveria ser a política à frente da política concreta, como se o que deve ser estivesse acima daquilo que é. Se observarmos mais atentamente as obras de política de um Aristóteles ou de um Raimundo Lúlio, por exemplo, vemos que não há uma sobreposição da teoria sobre a prática, do vir a ser sobre o que é, mas a busca pela universalidade própria da Filosofia ou do entendimento da realidade concreta por meio de valores e princípio universalizáveis.

Em meio à essa definição clássica podemos considerar que a política deve ser vista como a busca pelo bem comum. Política e ética, nesse contexto, são complementares, devendo a política refletir o bem próprio do horizonte moral:


O governo que serve ao interesse dos governantes é tirânico. Só o governo que promove a vida boa dos governados é bom.

[...] Para ser bom, o governo tem de ter uma autoridade reconhecida e aceita pelos governados, não o mero poder ou força ao qual eles se submetem por medo. (ADLER, 2010, p. 127)   

 

Apesar das divergências acerca da política ao longo dos séculos, o núcleo conceitual comum permaneceu inalterado, entretanto as circunstâncias históricas, bem como sua análise conceitual, alterou-se e na virada que erigiu a Modernidade uma nova forma de enxergar a política surgiu. Para contextualizar e nos situarmos historicamente cabe mencionar alguns eventos do período como a queda do império romano no Oriente em Constantinopla (1453), as Grandes navegações (séc. XIV-XV) e as Guerras Italianas entre 1494 e 1559.

É nesse contexto que Nicolau Maquiavel (1469-1527) tem uma percepção sobre a política que promove uma reviravolta na história das ideias, inaugurando o que muitos teóricos convencionaram chamar de realismo político, bem como a ciência política. Em oposição aos “idealistas políticos”, a proposta era partir da realidade “nua e crua” daquilo que passou a ser o núcleo da noção de política, a saber, o conceito de poder.

Em sua obra prima, “O Príncipe”, Maquiavel lança mão de seus principais conceitos que exploraremos a seguir. Essa obra que a princípio serviria de manual ao príncipe, no caso Lourenço de Médici (1492-1519) a quem dedicou o livro, tornou-se base de entendimento para a nova visão de política que até hoje é fundamental para compreendermos a política não apenas na dimensão da ciência política, mas principalmente na prática da política.

Para delimitarmos nossa exposição focaremos em dois pontos principais: a separação entre ética e política e a virtù (virtude) necessária ao exercício do poder pelo príncipe. Se o horizonte da política na Antiguidade era o bem comum, na Modernidade o núcleo da política torna-se a conquista e manutenção do poder. Nesse conceito se destaca a separação entre ética e política, afinal nesse processo de manutenção do poder, o príncipe estaria justificado a agir em desconformidade com os valores e princípios morais socialmente aceitos, como podemos observar no trecho abaixo:

 

Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter, aprender a não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade. (MAQUIAVEL, 1986, p. 90)

 

Podemos perceber com isso, que de um lado, a ética (moralidade) está inserida na esfera privada, enquanto a política está inserida na esfera pública. Fica a questão prática: como o príncipe deve agir politicamente? Frente ao cenário da distinção citada, primeiramente o político deve ser capaz de captar o amor e o temor dos seus súditos, mas na incapacidade de alcançar ambos, seria preferível alcançar o temor. Para gerir o horizonte do poder, o príncipe deveria ter em mente dois conceitos: o de virtù e fortuna. Este teria a ver com as situações que escapam do controle do governante, enquanto aquele teria a ver com a capacidade do príncipe em lidar com tais situações.

Poderíamos exemplificar essa relação com uma situação prática em que haja uma situação de seca em que os grãos estão sendo produzidos em baixa quantidade. O príncipe não teria responsabilidade com a seca diretamente, mas deve ser capaz tanto de se precaver quanto de agir de tal modo que os grãos produzidos, ainda que em menor quantidade possam atender os súditos.

 

Referência bibliográfica:

ADLER, Mortimer J. Aristóteles para Todos. tradução. Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe.11 ed. tradução. Roberto Grassi. São Paulo: Bertrand Brasil, 1986.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Espírito acusatório

Todo ano na quaresma escuto algumas falas que acredito também sejam ouvidas pelo meu leitor que busca viver esse tempo em conformidade com o que manda a Santa Igreja. Trata-se de expressões como: “Do que adianta não comer carne e ficar fazendo coisa errada” ou “a pessoa bebe o ano todo, mas acha que parar na quaresma vai adiantar alguma coisa”. Certamente há nelas um fundo de verdade, mas o que elas expressam é antes um espírito acusatório do que um espírito admoestativo, uma censura ao bom comportamento com a aparência de uma crítica a uma suposta hipocrisia. O propósito deste texto é justamente mostrar a malícia que há nesse modo de proceder que não deve amedrontar ou desanimar a quem que, com o coração sinceramente contrito, queira viver uma santa e piedosa quaresma.

Lembro-me que certa vez em que eu, recém saído da adolescência, fiz a abstinência de carne na Quinta-feira Santa. Pois bem, nesse dia como em muitos outros, saí para almoçar com alguns colegas da empresa em que eu estagiava para comer num restaurante especializado em carnes. Qual não foi a surpresa deles quando pedi um omelete. Alguns manifestando uma surpresa autêntica, alguns dando de ombros e outros ainda ironizando e dizendo que Deus não havia pedido esse tipo de atitude. Fiquei firme em minha resolução e comi um ovo frito, pois não estavam servindo omelete.


Não conto essa história para me gabar, afinal o fazia mais por tradição e resolução fraca do que pela compreensão de partilha com o Sagrado Sacrifício de Nosso Senhor, mas ainda assim lucrava os benefícios espirituais da prática. O que quero na verdade é mostrar uma prática comum que as falas reproduzidas no início do texto representam e que chamo de “espírito acusatório”. Esse “espírito” é que motivava o alerta de Nosso Senhor no evangelho de S. Mateus capítulo 23, versículo 13, em que Ele repreendia os fariseus que não entravam e não deixavam os outros entrarem. Observe o meu leitor que geralmente quem faz essas críticas aos católicos não fazem eles mesmos nenhum tipo de sacrifício ou vivem a religião. Repetem as atitudes dos fariseus quando acusam os outros de farisaísmo.

  

Mas isso não é uma atitude isolada ou fortuita, afinal vivemos num mundo e numa era hostil,onde as práticas cristãs são apontadas como sinais de hipocrisia. Por vezes a hostilidade é clara e virulenta, mas muitas vezes ela aparece sutilmente. Neste caso, o acusador tece elogios aos valores que se julgam cristãos, mas têm ojeriza à sua prática real, talvez porque tais práticas exponham sua tibieza. Entretanto, fato é que pesa, aos olhos do mundo, ao católico convicto a fama de falso moralista quando tal definição caberia melhor aos acusadores que imitam o primeiro acusador.


Quaresma de 2024


Pensamento avulso XCVI

O credo (creio) não expressa um sentimento, mas uma adesão das potências superiores da alma (inteligência e vontade) às verdades Reveladas. 
Tal adesão é sinal de uma profunda humildade que se opõe à soberba e ao orgulho do pecado original.

terça-feira, 26 de março de 2024

O escritor é maior que o agitador

Confesso que não sei o que se produz na academia acerca da Literatura, se bem que vez ou outra deparo-me em meu trabalho como professor com referências a essas produções. Portanto, o que direi aqui me chega majoritariamente à boca miúda ou de manifestações espaçadas de descontentes com o "sistema", seja lá o que isso for. 

Trata-se de acusações ao escritor maior da literatura brasileira: Machado de Assis. Tais acusações mencionam sua suposta indiferença política, quando na verdade o que tais acusadores esperavam dele era o perfil de um agitador de DCE, o que graças a Deus não seria possível, afinal Machado não pisou nos corredores da universidade, mesmo quando essa era mais respeitável.

O problema desses acusadores é de  não compreenderem um verdadeiro artista, pois consideram a arte como uma ferramenta estritamente política, na pior acepção do termo. O ativista de plantão não consegue compreender uma mente complexa, e sejamos sinceros, nem uma mente simples, mas tão e somente conseguem compreender minimamente mentes simplórias como as dele, onde um abismo de ignorância, engole outro num círculo vicioso de simplismos. Certamente há escritores em que se evidencia uma contundência crítica maior no que tange à realidade social e política, como no caso de Lima Barreto e Graciliano Ramos, no entanto, ainda nesses casos a literatura que produzem não se resume  a panfletagem ideológica, mas se constituem em obras de verdadeiro valor artístico.

Dirijo-me aos parvos críticos de Machado, que num anacronismo sem par buscam nele um militante identitário: Machado de Assis fez mais contra o racismo do que mil militantes de DCE, demonstrando que a inteligência, o refino de raciocínio e o esforço pessoal superam o arrivismo. Qualquer negro ou pardo se beneficia muito mais da leitura de suas obras do que na leitura de cartilhas que desconsideram que as tragédias humanas são ainda maiores que o racismo, sendo esta uma tragédia entre outras. 

E para que não me venham importunar como se eu estivesse a defender toda a situação deplorável que a sociedade brasileira vivenciava à época, lanço mão de uma estrofe de “O Navio Negreiro”, do poeta Castro Alves:


Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?! 

Ó mar, por que não apagas 

Co'a esponja de tuas vagas 

De teu manto este borrão?... 

Astros! noites! tempestades! 

Rolai das imensidades! 

Varrei os mares, tufão! 


Segunda-feira Santa 25 de março de 2024

Festa da Anunciação transferida

segunda-feira, 25 de março de 2024

O que é Filosofia?

 

A pergunta que intitula nosso texto é das mais comuns quando alguém, principalmente estudante, depara-se pela primeira vez com a matéria. Diferentemente das demais disciplinas escolares em que o objeto de estudo é bem determinado e específico, a Filosofia tem uma amplitude investigativa mais extensa. Isso significa que a Filosofia é uma disciplina que tem aspiração à universalidade, enquanto as outras disciplinas são particulares, ou seja, a Filosofia tenta enxergar o todo dando-lhe uma unidade cognoscível[1], enquanto as ciências buscam analisar ou compreender objetos específicos.

Para compreender essa relação podemos fazer uma analogia com o jogo de xadrez. Enquanto as ciências como a Física e a História, por exemplo, focariam em peças específicas como um peão ou uma torre, a Filosofia veria o tabuleiro como um todo relacionando as peças entre si.

Com as considerações acima temos um esboço da resposta ao que é Filosofia, a saber, um conhecimento sobre a totalidade ou conjunto dos próprios conhecimentos adquiridos. Ao longo de sua história, a Filosofia teve alterações em sua abordagem, mas essa busca parece ser sua sina. Além dessa busca a definição clássica, ou seja, desenvolvida entre os filósofos gregos Antigos como Platão e Aristóteles, passando pelos pré-socráticos e helenistas, tinha por base o uso da razão natural como instrumento de entendimento da realidade em sua totalidade. Eis então o substrato ou essência da filosofia clássica que se manteve durante séculos como paradigma da filosofia como podemos observar no trecho abaixo:

 

“A filosofia é um conjunto de conhecimentos naturais metodicamente adquiridos e ordenados, que tende a fornecer a explicação fundamental de todas as coisas.” (RAEYMAEKER, 1969, p. 36)   

 

Podemos verifica que Raeymaeker destaca, como dissemos acima, os termos “conhecimentos” e “todas as coisas” que representam a racionalidade e universalidade próprias do saber filosófico. Entretanto, podemos perceber outras duas dimensões fundamentais da filosofia clássica que ainda hoje serve de bússola aos filósofos contemporâneos, a saber, a ordem e o caráter natural do empreendimento filosófico. O primeiro indica que há uma organização e métodos no “trabalho” do filósofo que procede ordenadamente, supondo também uma ordem na realidade. Já o segundo ponto indica que a filosofia se limita ao conhecimento natural não recorrendo a elementos sobrenaturais em suas investigações, ainda que muitos filósofos reconheçam e pressupunham uma realidade sobrenatural.

PS: esse texto foi escrito com o intuito de esclarecer aos alunos do Ensino Médio o significado resumido da disciplina Filosofia.

Referência bibliográfica:

RAEYMAEKER, Luís de. Introdução à Filosofia. 2. ed. tradução. Alexandre Correia. São Paulo: Herder, 1969.


[1] Que pode ser conhecida.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Pensamento avulso XCV

Parece-me, tem hora, que o espírito brasileiro se resume em duas figuras literárias: o medalhão de Machado e o homem que sabia javanês de Barreto. Aquele apego a formalismos estéreis e à falsidade...

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Uma distinção fundamental

Outro dia, voltando para casa de uma festa, passei em frente a uma das diversas igrejas protestantes no meu bairro e em poucos segundos de dentro do ônibus ouvi algo que imediatamente acendeu um sinal de alerta em minha mente. Uma voz masculina, provavelmente de um pastor, dizia não haver um “pecômetro” para medir o pecado, de tal modo que o roubo de uma agulha equivaleria ao roubo de algo muito mais caro, que não consegui compreender o que era. Esse tipo de análise do pecado cabe bem ao protestantismo, mas também já ouvi de católicos, sacerdotes inclusive, que diziam não haver pecadinho e pecadão.

De fato todo pecado é um mal que ofende a Deus e rebaixa o homem, de modo tal que para nos livrar de todo pecado foi necessário o sacrifício do Próprio Filho que derramou o Seu sangue para libertar cada ser humano da escravidão e jugo do pecado. No entanto, essa realidade não altera o fato de que nem todo pecado tem a mesma gravidade, pois como disse o Senhor frente a Pilatos, quem O entregava cometia pecado maior.

A Igreja, mãe e mestre, em posse legítima das Sagradas Escrituras e de sua interpretação, distinguindo a gravidade dos pecados dividiu-os em veniais e mortais. O pe. João Batista Lehmann em sua obra, “Na luz perpétua - vol. 1”, diz-nos o seguinte acerca deles:


O pecado mortal é de todos o mal maior e deve ser evitado a todo custo, porque é ele que nos exclui da felicidade eterna. Pecados veniais não têm este efeito, mas predispõem a alma a consentir em infidelidades maiores e preparam o caminho para o pecado mortal. (p. 70)


Como podemos observar, essa doutrina do pecado não visa diminuir o impacto ou gravidade dos pecados como insinuam alguns críticos da Igreja, mas dimensionar devidamente as ações humanas, pois Deus possui a totalidade da misericórdia concomitante à totalidade da justiça. Como justo juiz, Nosso Senhor pesa e pondera e conhece as profundezas da intimidade de cada um e no uso de Sua misericórdia nos legou o sacramento da confissão que apaga em nós os pecados, ainda que não completamente os seus efeitos.

Somente à luz do conjunto da doutrina, ou seja, da totalidade do mistério da Redenção resguardado pela Igreja, é possível entender devidamente o pecado e a sua estrutura desde a Queda. É justamente esse desconhecimento ou afastamento da verdadeira doutrina que gera falas como a que descrevi no início no texto, que podem se assentar num princípio verdadeiro, a saber, que o todo pecado gera um mal, mas que falha ao se concentrar nisso sem considerar outras dimensões dessa realidade, que é de fato terrível. Esse procedimento se enquadra no conceito de heresia que consiste literalmente numa separação ou escolha arbitrária de um ponto da doutrina em detrimento dos demais. Aos católicos nos cabe eliminar em nós tal proceder.  


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Pequenos sinais de incivilidade

Hoje, em minha epopeia diária para ir trabalhar pela manhã, seguia apressado por um corredor da estação de ônibus S. Gabriel para a última baldeação rumo ao último ônibus que me levaria a meio quilômetro do meu destino. Apesar de ter percorrido esse caminho dezenas de vezes, foi apenas nesse dia que notei algo no mínimo inusitado para não dizer absurdo.

Nesse amplo corredor de acesso que serve a milhares de passageiros que ali trafegam diariamente, há um extintor de incêndio, o que não apenas é recomendável, mas até mesmo obrigatório. Até aí tudo bem, mas como dizem os memes da internet: “algo de errado não estava certo”. O extintor estava trancado e se não bastasse o absurdo havia um recado que mandava procurar, salvo engano, a administração da estação ou um segurança para destrancá-lo.

Logo imaginei a situação de um incêndio e as pessoas se acotovelando em busca de fugir do local, enquanto algumas pessoas tentariam em vão acessar o extintor, desesperadas e incapazes de encontrar a tal administração. Queira Deus que isso nunca aconteça, mas não é justamente essa a função do aparelho que deve servir em situações de perigo?

Diz-se com essa medida evitar depredações e vandalismos que de fato destroem e dão muito prejuízo, mas essa justificativa para esse procedimento apesar de em certo grau ser procedente, pode mascarar o absurdo da situação, sendo-nos necessário uma análise mais substancial dessa insensatez.
O primeiro ponto que gostaria de destacar é que a muitos pode ser parecer uma bobagem, algo de pouca importância, mas enganam-se, pois situações como essa são sinais escancarados de incivilidade ou barbárie. É o demonstrativo de uma falência na capacidade de sociabilidade básica. Uma sociedade em que pessoas causam estragos, impunemente, a objetos que podem salvar a vida não apenas de outrem, mas delas mesmas não tem como se manter como tal a não ser que a anomia social seja revertida.
E para que haja tal reversão é preciso que tais ações não sejam consideradas como de menor importância, afinal quem não é confiável no pouco, muito provavelmente também não o é no muito. Se uma sociedade é incapaz de garantir que um extintor seja mantido incólume no corredor de uma estação de ônibus, como ela será capaz de se manter enquanto tal?
Infelizmente não temos um povo, mas uma massa disforme, visível em pequenos e grandes sinais. Ainda nos mantemos, mas até quando?


Belo Horizonte, 29 de novembro de 2023


sábado, 6 de janeiro de 2024

Pensamento avulso XCIV

As obras de misericórdia corporal tornam-se puro assistencialismo se não se aliarem à caridade própria que emana das obras de misericórdia espiritual.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Pensamento avulso XCIII

Um dos maiores erros da filosofia moderna é sobrepor a lei positiva à lei natural. Daí à negação pós-moderna desta lei foi um pulo.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Sobre educação X

Como quase todo jovem educado no Brasil nas últimas décadas e que prestava alguma atenção levando a sério o que era ensinado, eu fui um entusiasta do pensamento de esquerda e da revolução. Como militante eu nutria em consonância com tantos autores, como o capitão-mor Karl Marx, uma desconfiança com o Estado.

Atualmente olhando para trás e vendo os atuais militantes é interessante observar a mudança. Hoje, num grupo de professores onde se “discutia” acerca de material didático, um professor perguntou se o material de determinada escola era “credenciado pelo MEC”. Como se tal credenciamento ou aprovação fosse uma garantia de qualidade, de segurança.

Essa posição atual de militantes da esquerdistas pode parecer uma negação dos seus primórdios, mas na verdade é seu acabamento, afinal com a revolução em curso bem avançado o MEC já não parece mais com uma agência que serve a interesses externos e quase já não escuto mais acerca do acordo MEC-USAID. Com o MEC já "tá tudo dominado!".

Aos que de fato prezam pela educação aconselho que fujam tanto de um quanto de outro modelo de centralização educacional.