Exposição
no NUEC (Núcleo
Universitário
de Estudos
Católicos)
da UFMG em
novembro de 2013.
Afirma-se
com veemência no seio da Santa Madre Igreja que a Fé é conditio
sina quae non para a salvação, como podemos ver a seguir. Mas e
os que não tiverem acesso ao conteúdo da Revelação e aos
sacramentos, especialmente o batismo, chamado por Santo Agostinho de
“sacramento da fé”? Eles estariam condenados de antemão? A
resposta a esta pergunta é não, como também vemos no trecho
abaixo, e é justamente o intuito dessa exposição demonstrar o
porquê dessa resposta.
136.
Será
o Batismo absolutamente necessário para a eterna salvação?
O Batismo é de absoluta necessidade para os infantes, que o devem
receber de fato. Assim sempre se fez na Igreja Católica, desde os
tempos primitivos. Os adultos também devem batizar-se; mas, se não
puderem receber o Batismo real e sacramentalmente, conseguem a
justificação mediante a contrição perfeita, acompanhada do desejo
de batizar-se, ou então mediante o sacrifício da própria vida pela
fé em Jesus Cristo. (CR,
Sumário Catequístico, p. 630)
Antes
de darmos sequência à explicação sobre os casos em que as pessoas
não tem acesso à fé revelada, cabe enfatizar a posição da Igreja
em relação à Fé. A fé de acordo com a Tradição da Igreja é
uma virtude sobrenatural ou em outros termos é uma virtude teologal
que provém diretamente da Graça de Deus. Diferentemente das
virtudes humanas que são “inatas” e aperfeiçoadas através do
hábito, as virtudes teologais nascem da iniciativa divina e exigem a
adesão do ser humano. Acerca da fé temos a seguinte definição da
Igreja:
Nas
Divinas Escrituras, o termo “fé” admite várias significações.
Aqui vamos falar daquela virtude pela qual assentimos plenamente a
tudo quanto nos foi revelado por Deus.
Ninguém
terá justo motivo de duvidar que essa fé seja necessária para a
salvação, mormente por estar escrito que “sem fé não é
possível agradar a Deus”
.
Realmente,
o fim que se propõe ao homem para sua bem-aventurança, é tão
elevado que o não poderia descobrir a agudeza do espírito humano.
Era, pois, necessário que o homem recebesse de Deus tal
conhecimento. (CR,
1ª parte, 1º Cap., § 1, p. 87)
Partindo
das considerações já mencionadas destacamos a importância do
Batismo o Sacramento que nos faz renascer como Filhos de Deus
possibilitando que purificados pela água salutar do Batismo sejamos
purificados do pecado e assim possamos adentrar dignamente a morada
eterna. Isso ocorre não por nosso mérito, mas pela “Graça” por
intermédio de nosso Salvador Jesus Cristo. O Catecismo afirma o
seguinte, destacando a importância do Batismo:
É
muito útil, para os fiéis, o conhecimento das verdades que até
agora temos ensinado. Urge mais ainda explicar-lhes que Deus impôs a
todos os homens uma lei, obrigando-os a receberem o Batismo.
Por conseguinte, os que não renasceram para Deus pela graça
do Batismo, são criados para a eterna miséria e condenação, quer
sejam filhos de pais fiéis, quer de pais infiéis.
Devem,
pois, os pastores explicar mais vezes aquela passagem do Evangelho:
“Se alguém não renascer da água e Espírito [Santo], não pode
entrar no reino de Deus”
.
(CR, 2ª parte, 2º Cap., § 30, p. 237)
O
Batismo é tão importante para a salvação que a Igreja permite
algo que pode soar estranho aos nossos ouvidos ou nos parecer
inusitado. Vejamos que fato é esse:
Em
caso de necessidade, até os judeus, os infiéis, e os hereges podem
exercer este ministério, contanto que se proponham a fazer o que faz
a Igreja Católica, quando confere o Batismo.
(CR,
2ª parte, 2º Cap., § 23, p. 233)
Aqui
já se começa a prefigurar em nossa exposição um ponto importante
acerca dos mistérios da redenção: o fato de ser batizado não nos
torna seres dotados de perfectibilidade, mas nos fornece elementos
para resistir na luta e de outro lado nos confere uma enorme
responsabilidade perante Deus e o mundo. Aquele que tem maior
conhecimento tem maior culpa ou como diz o ditado bíblico: “a quem
muito foi dado, muito será cobrado”.
Tal
crime [o de crucificar a Cristo através do pecado – observação
minha] assume em nós um caráter mais grave, do que no caso
dos judeus; porquanto estes, no sentir do Apóstolo, “nunca
teriam crucificado o Senhor da Glória, se [como tal] O tivessem
conhecido”.
Nós, porém, que [de boca] afirmamos conhecê-lO, nem por isso
deixamos, por assim dizer de levantar as mãos contra Ele, todas
vezes que O negamos em nossas obras. (CR, 1 parte, 5º Cap., 4º
art. § 11, p.129. Destaque meu)
Sabemos
então que a Igreja, sendo católica, ou seja, universal não pode
ser reduzida a limites regionais, culturais ou étnicos, como
nos deixa claro Mons. Sanahuja quando em sua obra, “Cultura da
Morte: o grande desafio da Igreja”, cita os documentos da
Igreja produzidos no século XX reiterando esse princípio.
(Continua)