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domingo, 13 de setembro de 2015

Indústria da multa?

O problema das leis é tema recorrente neste blog (para mais detalhes conferir aqui e aqui). Pois bem, retorno ao tema após um fato ocorrido há aproximadamente três meses. Antes, porém, de retratar o caso gostaria de iterar a função de uma lei recorrendo à sabedoria cristã sobre o assunto esclarecida pelo próprio Jesus Cristo:

“E dizia-lhes: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado[...]’” (S. Marcos 2, 27)
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem, contudo deixar o restante.” (S. Mateus 23, 23)

Essas palavras iluminam a questão não sendo, por isso, necessário recorrer a extensas teorias jurídicas ou intricadas especulações de filosofia moral. Percebe-se, partindo do exemplo evangélico, que a lei não é fim em si mesma, mas algo que visa garantir ou proteger um fim verdadeiro, logo não é um princípio isolado da ação humana estando por sua vez subordinada a instâncias superiores tomando aqui de empréstimo o vocabulário jurídico. Em outros tempos dizer isso seria “chover no molhado”, mas hoje é preciso reiterar essa característica da lei frente à dissolução de valores e conceitos até então basilares para as sociedades ocidentais.
Tais considerações nos ajudam a compreender a situação que presenciei e que mencionei brevemente acima. Minha esposa e eu havíamos indo ao centro de Belo Horizonte num domingo de manhã e enquanto eu estacionava o carro ela foi para a feira onde nos encontraríamos. Na véspera a BHTRANS, empresa responsável pelo trânsito na cidade, havia feito diversas modificações no trânsito da área central confundindo as pessoas. Pois bem, minha esposa que estava grávida quase foi atropelada por ciclistas e skatistas praticamente ao lado de um agente de trânsito que tentava sozinho e em vão organizar o fluxo de veículos. O fato que me indignou nessa circunstância foi que enquanto um agente apenas tentava organizar o trânsito eu via outros dois agentes acompanhados por policiais rebocando carros estacionados em local proibido, pois só era permitido parar.
Retomo aqui a reflexão sobre a função de uma lei, não com o objetivo de questionar a legitimidade das autuações aplicadas pelos os agentes que multavam os donos dos veículos estacionados irregularmente, mas com o intuito de questionar se o real objetivo dos agentes da BHTRANS é proteger as pessoas no trânsito ou não. Atitudes como a que acabo de citar colocam em xeque as prioridades do Estado, representado pelos agentes em questão, bem como dão razão à existência de termos como “indústria da multa” e “arrecadação extra” que são mui justamente atribuídos a agências como a BHTRANS. Cai por terra também aquele papo furado de que a “ideia não é multar, mas educar”. Isso porque o discurso é um e a prática é outra e quem não percebe isso ou é muito inocente ou age de má fé.
Está claro no Brasil que a lei é manipulada conforme a vontade dos agentes públicos e a imensidão da máquina pública movida a burocracia joga com a lei. Dessa forma ela não serve ao bem público que deveria ser o seu objetivo, bem como o da política, mas conforme as conveniências de determinados setores que controlam a máquina estatal. Surge então fenômenos como a da indústria da multa que se baseando inicialmente em algo bom acaba servindo à prática do mal porque inverte a ordem das coisas e dos valores. Voltamos então ao questionamento de Jesus se a lei está servindo realmente ao homem.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Pensamento avulso XVIII

A maior parte dos magnânimos analistas políticos que se indignam hoje com o problema dos refugiados do Oriente Médio e da África são os mesmos que ficaram em polvorosa com a "Primavera Árabe" há uns três anos atrás. O que esses "jênius" não conseguem compreender é o nexo causal entre a dita primavera e o caso atual dos refugiados. Eu que sou quase uma ameba intelectual consigo compreender isso, mas tais analistas que são bem formados, muito bem pagos e que deveriam saber não conseguem compreender. Resta saber o motivo de não saberem se é ignorância pura e simples ou se é má vontade proposital. Eu apostaria numa mistura dos dois provocada pelo orgulho de quem não sabe reconhecer seus próprios erros.