Diz o ditado que peixe morre pela
boca e o Roberto Jeferson está doido para ser a boca do Bolsonaro.
Dito isso, eu gostaria de relembrar um fato nada antigo que foi o ataque ao
prédio em que morava a ministra Cármen Lúcia, à época uma inimiga do
progressismo do MST. Muita gente da "direita" decidiu agir e limpar a
frente do prédio deixando flores para a ministra. Sabendo que tais ministros
trocam de posição como trocam de roupa e que esse gesto seria encarado com
escárnio pelos aspirantes a editores do Brasil me mantive fora do ato, ainda
que soubesse das boas intenções da maior parte dos que dele participaram.
E não é que eu estava certo. Cármen Lúcia na semana passada mostrou sua
verdadeira face ao julgar o ato de censura feita ao Brasil Paralelo. Disse ser
contra a censura, "pero no mucho". Alguns diriam se tratar de fala
inspirada nos sofistas, mas eu diria que não. Os sofistas eram ao menos sutis
em suas argumentações, enquanto a ministra... Digamos que não foi lá tão sutil
assim.
Agora ela sai aplaudida por aqueles que a queriam matar, amarrando uma mordaça
vermelha naqueles a queriam bem. Não há como não lembrar do velho soneto de
Augusto dos Anjos que reproduzo em parte abaixo:
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Agora eu digo:
Lembrem-se, amigos!
Que no jogo moderno do poder
O maior dos castigos
É confiar sem descrer
Cármen Lúcia é somente mais uma pessoa que para sobreviver joga pelo ralo seus
valores. Em nome da democracia que diz defender toma uma decisão que a destrói.
Por essas e outras não se esqueçam dessa lição que nos lega a política moderna
sintetizada por Maquiavel e praticada por Robespierre: o temor (ou terror) é
mais forte do que o amor. Nesse processo palavras como democracia e respeito à
constituição nada mais são do que conceitos vazios de significado que são
preenchidos conforme as conveniências do dia.