Outro dia eu estava dirigindo
e de repente o trânsito travou. Um carro havia parado em local
proibido para que alguns passageiros pudessem descer. Em meio à
bagunça momentânea que se instalou, já que a região é
movimentada, um carro de polícia passou na outra pista e o policial
que dirigia decidiu multar o carro parado. Até aí tudo bem já que
faz parte de sua função, no entanto, ele estava dirigindo e por
pouco não bateu o carro.
É impressionante como o
brasileiro médio tem perdido o bom senso e a noção de prioridade,
o bom e velho senso comum em coisas tão banais, a capacidade
racional de avaliar uma situação concreta, a
phrónesis
(sabedoria prática) como diria Aristóteles. Esse pensamento de
cumprir uma regra a qualquer custo, no caso a de multar, sem analisar
se há outra regra superior, no caso preservar a vida de quem estava
na via impossibilita o alcance da virtude que segundo Aristóteles
trata-se de encontrar um meio termo entre dois vícios. Isso de modo
resumido poderíamos dizer é justamente a capacidade de analisar em
situações reais como agir de modo a evitar a ocorrência dos
extremos.
Esse
caso prosaico é indicativo como outros da perda do sentido de
proporcionalidade e prioridade que é vista na mais comum das pessoas
em sociedades civilizadas. Adquirir e retomar essa noção moral tão
básica é em certo sentido uma das mais urgentes necessidades de
nosso país.