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sábado, 29 de junho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 2ª parte

Terminei a primeira parte dessa análise dizendo que não acredito que a série de manifestações pelo Brasil seja algo espontâneo, apesar do fato de ninguém, grupo ou pessoa ter reivindicado sua liderança. São diversas bandeiras, milhares de reinvindicações e isso dificulta qualquer análise sistemática. O que dá a sensação de espontaneidade a isso é o fato de que as insatisfações populares não são recentes e vêm se acumulando há muito tempo com os reincidentes escândalos políticos que aparecem no país. Apesar disso como já afirmei não se pode apontar que tudo isso ocorreu naturalmente sem intervenção de grupos que há muito tempo em nome da democracia visam na verdade implantar um programa autoritário com o intuito de cada vez mais estender a ação estatal até que o Estado interfira nas mais básicas ações da vida particular.
 Boa parte dos manifestantes não tem a mínima ideia de que mesmo ao levantar bandeiras com justas reivindicações, como a diminuição dos gastos públicos, auxiliam o projeto que em longo prazo tem o objetivo justamente de promover o contrário.  Isso acontece porque quem está preparado para colher os frutos, menos os amargos, dessa “revolução popular” não são aqueles que representam a vontade do povo, são o que tem uma agenda progressista que já está sendo posta em movimento há muito tempo.
As reações governamentais já começaram e o populismo está “correndo solto”. Com medo do que as multidões vão dizer já articulam projetos no sentido contrário do bom senso que deve prevalecer, pois as multidões não são confiáveis no sentido da promoção da justiça como nos aponta o excepcional trecho transcrito abaixo.

“Sócrates- Logo, meu excelente amigo, não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si. Assim sendo, para começar, não apontas o bom caminho quando nos prescreves que nos inquietemos com o pensamento da multidão a respeito do justo, do belo, do bem e de seus contrários. A multidão, no entanto, dirá alguém, é bem capaz de nos matar.”

Fonte: Platão. Critão (Críton) ou do Dever

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 1ª parte

Alguns alunos têm me procurado querendo saber minha opinião acerca das manifestações que se espalharam Brasil afora, muitos visivelmente animados com o “espreguiçamento do gigante chamado Brasil” que estaria prestes a acordar definitivamente por meio de um levante popular. Não acredito que o caso seja este nem pretendo dar “opiniões”, que podem ser infundadas, algo que considero estar por detrás da péssima qualidade do jornalismo brasileiro, que prefere se pautar em opiniões desconexas que em fatos e argumentos bem documentados e elaborados. Pois bem feitas essas considerações iniciais passemos em revista aos fatos.
Há alguns dias em São Paulo iniciou-se uma série de manifestações contra o aumento da passagem de ônibus na cidade. Enquanto isso também eclodiram manifestações em outras partes do país a partir do dia 15/06, dia da abertura da Copa das Confederações, tendo em vista mostrar a insatisfação contra o alto custo público do evento. Para bem analisar esses fatos há que se fazer um distanciamento metodológico a fim de entender com mais elementos tudo o que tem ocorrido nesses últimos dias. Primeiramente há que se destacar a cobertura jornalística em torno dos fatos que não esconde uma seleção dos aspectos a serem mostrados ao grande público. Digo isso porque recentemente em Brasília houve um ato público de milhares de protestantes (evangélicos pentecostais em sua maioria) que mereceu tão somente uns poucos segundos nas coberturas televisivas e poucas páginas nos grandes jornais (clique aqui para mais informações). Também na França houve um ato de enormes proporções (aqui) que a grande imprensa fez questão de ignorar o que não ocorreu com a chamada “primavera árabe” que prometia rosas, mas só distribui espinhos.
Não devemos nos limitar também a analisar somente aquilo que é veiculado pelas confusas lideranças como sendo o objetivo dos protestos que se diz apartidário, mas tem vínculos ideológicos com os partidos que abertamente se declaram socialistas. E isso é essencial para compreendermos essa série de protestos. Disse aos meus alunos para observarem as diferenças nos discursos de quem aderiu às manifestações de forma assistemática querendo apenas reclamar melhores condições de vida e transparência política, daqueles que já possuem experiência no jogo político e conseguem articular melhor os seus objetivos que são manifestos claramente por uma terminologia revolucionária dizendo que tais manifestações devem ser vistas como um momento de insatisfação proletária daqueles que são explorados e reivindicam uma “tomada popular do poder”, um eufemismo da famosa “ditadura do proletariado”.  Estrategicamente alguns grupos políticos serão obviamente favorecidos mesmo que isso não seja claro no momento. Quando disse isso um aluno espantado disse que defendia as manifestações, mas não compactuava com os ideais socialistas o que o faria ver com outros olhos o que se afirma acerca de tais manifestações.
Quando digo tudo isso algumas pessoas se dizem boquiabertas com meu “espírito reacionário” e como eu enquanto um professor posso compactuar com os “poderosos”. Na verdade eu é que deveria estar boquiaberto com essa interpretação, o fato de não apoiar alguém não significa que você apoia o inimigo deste alguém, o fato de não apoiar as manifestações tendo em vista o fundo revolucionário anárquico ou socialista destas não significa compactuar com os altos preços dos serviços e produtos ou mesmo a corrupção que nos assola. Simplesmente não defendo os caminhos tomados por nossos governantes nem os que serão tomados pelos revolucionários que hoje aparentemente não têm um projeto bem definido ao grande público, mas evidentemente já os têm nas pessoas que se apresentarão como defensores da moral e da pátria quando a poeira baixar, haja vista que não sou tão ingênuo para achar que tudo isso é uma ação espontânea do povo.  

(Continua)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pensamento avulso XII

Deparo-me com a notícia de que foram presos chefes de uma quadrilha “especializada” no crime popularmente conhecido como “saidinha de banco” (para mais informações clique aqui). Leio a notícia e fico a pensar na famosa tese sociológica de que o crime se origina num cenário social desfavorável ao criminoso que impossibilitado de prover o seu sustento de forma honesta é obrigado a recorrer a atividades ilícitas, criminosas. Acontece que os criminosos em questão não se enquadram nesse perfil de maneira alguma, são todos bem nutridos e utilizam o dinheiro não para sobreviverem para bem viverem, de forma luxuosa.
Evidentemente devo excluir então a hipótese de que a saidinha de banco seja um “crime de fome”. Mas, ainda há a tentação, que está por detrás da tese acima apontada, em continuar se analisando o crime como resultante unicamente de processos sociais discriminatórios nos quais a maior culpa sempre é da sociedade ou a culpa inteira. Utiliza-se então todo tipo de subterfúgios, de justificativas escorregadias para manter o núcleo dessa argumentação sociológica. Daí surge teóricos e especialistas para afirmarem que os padrões analíticos da tese de que a sociedade é culpada pelo crime permanecem. A tese então se desdobra da seguinte forma: a sociedade impõe modelos de consumo através da valorização propagandística de pessoas afortunadas em detrimento daqueles que não conseguem se estabelecer como consumidores quantitativamente relevantes. Então, aqueles que não se enquadram nesse perfil buscam a todo custo ascender social e economicamente mesmo que seja através do crime. Isso não é culpa direta dessas pessoas, mas da “sociedade” que os instiga.
 Tal argumentação é extremamente equivocada e fragmentária afinal considera o homem somente a partir de critérios materialistas como se este fosse uma caixa preta na qual certos estímulos produzem respostas bem definidas. Um equívoco claro é culpar a “sociedade” pelos crimes, afinal se tomamos uma sociedade tão heterogênea quanto a atual vemos que o fato de se culpar a sociedade pelo crime estendendo tal culpa a todos, inclusive a quem discorda do padrão consumista, chega a ser uma desonestidade intelectual.
Estendi-me demais nessa que era para ser apenas uma breve postagem. O objetivo era o de demonstrar sucintamente utilizando um exemplo claro que não se deve atribuir a todos membros da sociedade a culpa por todos os crimes, pois pode se chegar a tamanho absurdo de se dizer que a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza que foi queimada por possuir apenas trinta reais em sua conta bancária era culpada, ainda que simbolicamente, pelo atentado criminoso que sofreu e culminou em sua morte.


(Certamente tudo isso será tema de outras postagens).