“Este sistema belíssimo
do sol, planetas e cometas só poder ter surgido do conselho e domínio de um Ser
inteligente e poderoso. E se as estrelas fixas são centros de outras sistemas
similares, estes, sendo formados por um conselho sábio semelhante, devem estar
todos sujeitos ao domínio de Alguém, especialmente porque luz das estrelas
fixas é da mesma natureza que a luz do sol, e de cada sistema a luz passa para
todos os outros sistemas. E para evitar que os sistemas das estrelas fixas
caíssem um sobre o outro por suas gravidades, ele colocou estes sistemas a
imensas distâncias entre si.
Este Ser governa todas
as coisas, não como a alma do mundo, mas como Senhor sobre tudo.” (Isaac
Newton)
O trecho acima é retirado do livro que inaugurou a física
clássica. Se Galileu e outros iniciaram o processo foi Isaac Newton quem
sistematizou e deu contornos mais bem definidos à ciência da natureza, ainda
chamada de filosofia natural, e estabeleceu um marco na história das ciências.
Pois bem o trecho acima não parece a um leitor contemporâneo ter saído de um
livro de ciências, mais precisamente de um tão marcante, mas de um livro de
apologética cristã.
Tal
sensação ocorre porque muitas pessoas no mundo contemporâneo, acentuadamente no
ocidente, não conseguem compreender o fenômeno da fé, não conseguem dimensionar
o poder da fé, talvez porque a tentem medi-la, como o diz o ditado “com sua
própria régua”. Não que a fé seja rechaçada por completo, mas é tida como uma
motivação secundária e que só poderia ter uma explicação psicológica ou
ideológica de motivações primárias sejam econômicas como diriam os marxistas ou
pela pura ignorância como diria um Dawkins.
No
entanto a história nos mostra que grandes cientistas não negaram suas crenças
podendo citar aqui como exemplo a famosa anedota de Pasteur que lia sua Bíblia
num trem até que foi interrompido por um jovem entusiasta da modernidade para
quem a Bíblia era resquício de um período de obscurantismo e que esse jovem ao
perceber a quem se dirigia vai-se amuado, a refletir. Poderia mencionar mais
outros nomes destacando dois sacerdotes católicos Gregor Mendel, pai da
genética, e Georges Lemaître, pai da teoria do Big Bang, mas permaneçamos por
aqui.
Antes
porém de darmos sequência à temática destacando as figuras de Alexis Carrel e
Jérôme Lejeune é preciso fazer duas observações pertinentes uma delas tendo por
base o livro, “Imitação de Cristo”, de Tomás Kempis. A primeira é que a
qualidade de um trabalho científico independe da crença ou ausência de crença
do cientista. Os trabalhos de Stephen Hawking ou de Madame Curie, p. ex., não
deixam de ser bons por conta da descrença, no entanto o número de gênios
cristãos que alteraram o curso do conhecimento humano supera e muito o número
de descrentes. O segundo ponto é a necessidade da humildade, essa virtude tão
essencial, além da graça de Deus como nos diz T. Kempis: “Prefiro sentir a
contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesse de cor toda a
Bíblia e a sentença de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a
caridade e a graça de Deus?” (KEMPIS, 2012, p. 21).
Pois bem feitas tais
considerações analisemos os testemunhos de dois médicos e grandes cientistas
Dr. Alexis Carrel e Dr. Jérôme Lejeune que conseguiram cumprir com excelência
tanto o critério técnico/científico quanto o critério religioso/moral.
Dr. Alexis Carrel (1873-1944): o viajante de Lourdes
Homem observador e que se
viu ainda jovem tentado pelo ambiente universitário a renegar suas crenças
consideradas pueris (tendo cedido a tais argumentos) ou em termos positivistas
uma crença própria de um estágio inferior no desenvolvimento da humanidade rumo
ao conhecimento. Carrel formou-se e a revelia de seus mestres criou métodos
próprios de cirurgião tendo sido agraciado em 1912 com o prêmio Nobel de
Fisiologia ou Medicina por suas pesquisas sobre transfusão de sangue e
transplantes. O grande marco que o fez abandonar o agnosticismo e mesmo o
ateísmo foi o fato de presenciar uma cura milagrosa em Lourdes. Num desses
eventos tidos por “acaso” ele acompanhava uma jovem que ao ser banhada nas
águas da gruta de Lourdes se recuperou de um mal incurável o que abalou as
certezas científicas do jovem médico e o fez questionar o próprio valor que
atribuía às ciências naturais. Desde então inquietou-se e foi pouco a pouco
retornando à casa, pois toda conversão é apenas um voltar-se ao criador. Carrel
foi membro da Academia de Ciências do Vaticano e escreveu excelentes obras nas
quais questionou a falta de fé de sua época bem como exortou todos a orar, pois
os efeitos das orações são extraordinários.
Dr. Jérôme Lejeune (1926-1994): defensor da
vida desde a concepção
Reconhecido pelas suas
pesquisas acerca dos cromossomos, Lejeune é o principal responsável pelo
descobrimento das causas da Síndrome de Down além de ter sido pediatra e o
primeiro professor de Genética fundamental da Faculdade de Medicina de Paris.
Certamente seria agraciado pelo prêmio Nobel se não fosse por sua defesa
veemente da vida sendo, por isso, um árduo combatente contra a legalização do
aborto. Se o mundo recusou o cristianismo de Lejeune ele foi reconhecido pelo
Vaticano fazendo parte da Academia da Vida. Atualmente há um processo aberto de
beatificação além de uma importante fundação de defesa da vida com o seu nome:
“Cada uno de nosotros comienza a existir en un
momento preciso en el que toda la información genética necesaria y suficiente
la recoge una sola célula, el óvulo fecundado, y éste es el momento de la fecundación.
No hay la menor duda de ello, y sabemos que esta información está inscrita en
un tipo de listón que llamamos DNA.” Dr. Lejeune.
* Este texto foi elaborado em
vista do encontro de formação do NUEC (Núcleo de Estudos Católicos) em parceria
com o MUR (Movimento Universidades Renovadas realizado no dia 26/08 às 18h45min na Escola de Engenharia da UFMG,
bloco 4, sala 2298.
Referências:
CARREL, Alexis. A oração: seu poder e
efeitos. Porto: Tavares Martins, 1945. Titulo original: La priere.
KEMPIS,
Tomás de. Imitação de Cristo. Petrópolis:
Vozes, 2012. (Vozes de bolso).
LELOTTE,
F.. Convertidos do século XX. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1966. Titulo
original: Convertis du XX siecle.
NEWTON,
Princípios matemáticos de filosofia
natural: Livros I e III/ O sistema
do mundo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
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na Internet:
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