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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pensamento avulso VII


Recentemente o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu ao peemedebista Jader Barbalho tomar posse como senador, após considerar a lei da Ficha Limpa inaplicável ao pleito. Feitas estas considerações gostaria de propor uma questão: parece quase um consenso neste país que a democracia, vista como uma “entidade” intocável, é a máxima instância de valoração à qual podemos almejar. Sendo assim gostaria de saber por quê tanta gente se levanta indignada contra a eleição de Barbalho e sua confirmação jurídica, afinal ele foi escolhido democraticamente com mais de um milhão e meio de votos?
Vejam também o site do agora senador e vejam como ele justifica tudo (http://www.jaderbarbalho.com/site/): é a vitória da democracia!

domingo, 20 de novembro de 2011

Breve exposição sobre o dualismo moderno e a posição tomista (parte 1)

No livro, “O Princípio Vida”, Hans Jonas reúne artigos escritos entre 1950 e 1965. Segundo o autor no prefácio da obra, a intenção é fornecer uma interpretação “‘ontológica’ dos fenômenos biológicos” (JONAS, 2004, p.7). O que interessa para este artigo é mais precisamente a análise do dualismo na modernidade e as respectivas respostas inseridas na própria modernidade. São elas, a saber, o “monismo materialista” e o “monismo idealista” de acordo a terminologia jonasiana. A partir disso apresentarei a posição tomista associada à compreensão oficial da Igreja apresentada no Catecismo Tridentino. Demonstrarei que a caracterização dualista não se aplica a uma filosofia autêntica e autenticamente crista.
Iniciando a análise procedo a um resumo do texto de Jonas que considero esclarecedor[1]para compreender como a filosofia e o pensamento moderno em geral se configuram a partir da divisão dualista cartesiana entre res cogitans e res extensa. De acordo com Jonas (2004) a humanidade num primeiro momento enxergava vida em tudo, ou seja, atribuía característica dos seres animados aos inanimados (animismo, hilozoísmo). Logo, a grande questão posta ao ser humano era a morte como negação da ampla experiência da vida. Como resolução ao problema desta magnitude emergia a crença na vida após a morte ou mesmo a negação da morte. Poderíamos acrescentar as pesquisas arqueológicas e antropológicas que demonstram o quão antiga é essa ideia. Essa concepção panvitalista e animista encerra o que Jonas chama de “monismo integral panvitalista”.
Com a descoberta do “eu” no ocidente e sua relativa e posterior independência do mundo externo e inanimado se instaura um marco histórico separando o unilateralismo animista do dualismo. Alma e mundo se tornam excludentes a ponto de se declarar “soma-sema”, ou seja, “o corpo um túmulo” [2]. Essa separação acentua-se na modernidade com o cogito cartesiano. Nesse momento o panvitalismo cedia e emergia o “predomínio ontológico da morte” (JONAS, 2004, p.22); se antes a morte era o grande mistério já que tudo era vida, na modernidade a morte (ou o que é inanimado) é o que há de mais certo e a vida surge como grande mistério e empecilho à explicação científica do universo.
Frente ao dualismo surgem duas alternativas, a primeira o “monismo materialista”, já indicado acima com a “ontologia da morte” e é apontada por Jonas como a mais séria e considerável entre as posições. A segunda alternativa, mais fraca do ponto de vista explicativo, é a do “monismo idealista”. Cada uma delas toma um dos termos do dualismo e trata o outro como epifenômeno, logo há o fracasso da explicação da consciência para o materialismo e da “coisa em si” para o idealismo. Essas posições pós-dualistas, no entanto, não respondem satisfatoriamente ao problema já que não conseguem fugir da distinção estanque entre consciência e matéria. Apesar do aparente sucesso explicativo da posição materialista a vida continua inexplicada:
Mas a vida não admite destilação; ela ocupa algum lugar entre os aspectos purificados lá onde se encontra sua realização concreta. Abstrações não possuem vida. Na verdade, repetimos, a consciência pura vive tão pouco quanto a matéria pura que se lhe opõe, mas em compensação ela é também tão pouco mortal. Vive como vivem os espíritos descarnados, não conseguindo mais entender o mundo. (JONAS, 2004, p. 31).
 Apresentado minimamente o problema do dualismo passo agora a uma análise do ponto de vista cristão sobre o tema, deixando claro desde já que o dualismo citado não se aplica ao cristianismo como o atestam o filósofo S. Tomás de Aquino e documentos da Igreja.
   
Referências bibliográficas:
BARROS, Manuel Correia de. Filosofia tomista. 2.ed. Porto: Livraria Figueirinhas, sd.
JONAS, Hans. O Princípio Vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Petrópolis: Vozes, 2004. 278 p. Titulo original: Das Prinzip Leben: Ansatze zu einer philosophichen Biologie. (Textos filosóficos) ISBN: 85-326-3084-7.


[1] Isso não significa que eu partilhe plenamente de sua posição ou que esta esgote o assunto.

[2] Representada pelo orfismo e pela gnose.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pensamento avulso VI


Será apenas coincidência que crises e mais crises assolem a Europa justamente quando esta mais renega suas raízes cristãs?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pensamento avulso V


O cético procede à acusação daqueles que tentam de alguma maneira fundamentar em filosofia caracterizando-os como dogmáticos, entretanto não há dogmatismo maior do que dizer que não se pode ter certezas, dado que esta é uma grande certeza, se não for a maior. Concordo com o que nos aponta a Ética do Discurso, ainda que eu tenha ressalvas ao conjunto da mesma: o cético entra em contradição performativa toda vez que argumenta contra a possibilidade de argumentação. O que resta dizer contra o cético radical é o seguinte: somos todos dogmáticos inclusive o senhor!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011


Vejo de tudo o que foi e há
Aprendo com o que se esvai na história
E vejo que realmente se aprende a amar,
Quando se tranca a dor na memória
                                               Set./2011

sábado, 29 de outubro de 2011

Visões de mundo e ação: resposta a uma amiga

Conversando outro dia com uma amiga começamos a falar de filosofia, assunto do qual dificilmente eu escapo, e ela me disse algumas coisas que fazem parte do modo como ela vê o mundo, mas que não é isolada, pois é eco de uma compreensão mais ampla defendida por muitas outras pessoas. Tratávamos de religião e moral e ela manifestou descrédito quanto às instituições, mas não em relação às crenças pessoais de cada crente. Daí para dizer que cada um pensa de um jeito e tem uma ideia diferente e temos que respeitar suas posições foi um pulo, quase um salto de seis pra meia dúzia. Na hora balbuciei uma reação nada convincente, mas que deveria ter a seguinte estrutura: essa ideia é insustentável. Se deixei a desejar naquele momento pretendo ser mais claro neste texto. Então vamos então aos motivos.
Cada ideia, pensamento e principalmente crença tem uma prática subjacente, inclusive as ideias científicas, que geram reações de entendimento ou não, de estupefação ou indiferença, etc. Sabendo disso verificamos que concepções de mundo diferentes geram hábitos e ações diversas, não poucas vezes contrárias e conflituosas umas com as outras. Em muitos casos, que o diga a diplomacia brasileira, não tomar posição é justamente tomar a pior posição possível devido à omissão o típico “ficar em cima do muro”. Logo a opinião de que toda opinião tem o mesmo valor, não deixa de ser opinião (cf. http://linobatista.blogspot.com/2011/05/impossibilidade-logica-do.html) e enquanto tal autoafirmativa. Portanto dizer que não existem verdades absolutas já é dizer uma verdade absoluta, então do ponto de vista lógico a posição de minha amiga é insustentável e aqui cito Aristóteles: “[...] porque, embora nos sejam caros, a piedade exige que honremos a verdade acima de nossos amigos.” (Ética a Nicômaco. 1096a). E olhe que Aristóteles foi o grande discípulo de Platão.
 
É uma questão que merece outra postagem...
Cont.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O poder do marketing


Costumo dizer que os publicitários brasileiros são muito criativos e muitas vezes é mais interessante assistir às propagandas do que aos próprios programas. Mas nem sempre toda essa criatividade manifesta ideais nobres voltando-se somente a apologia de um consumismo sem limites e sem escrúpulos. A competição nem sempre é leal e o poder de persuasão exercido por argumentos fortes pode trazer prejuízos a pessoas que não conseguem discernir o que é útil e proveitoso do que não é.
Sendo mais pontual decidi fazer uma análise comparativa entre dois comerciais promovidos por empresas do ramo automobilístico. O primeiro é a de um cachorro simpático que começa a falar por estar no carro, que possibilitou que ele tivesse um assunto pra falar (http://www.youtube.com/watch?v=fG07zf5ONRQ&feature=related). O outro é a de um homem sem gasolina que consegue carona num carro bonito e potente e percebe que ele é bem melhor do que o carro que ele tem. Ao voltar ele simplesmente utiliza a gasolina para explodir o seu carro (http://www.youtube.com/watch?v=1Pqt-YEYpS4). Mais do que analisar tecnicamente as propagandas, por exemplo, a posição de câmeras, a linguagem, fotografia, sonoplastia, etc. a ideia é analisar as concepções mercadológicas por detrás do próprio comercial. O sentimento de desdém com carros que não sejam o da marca visada na segunda propaganda é gritante. Numa época na qual se valoriza o consumo exacerbado, comerciais desse tipo figuram como sintomas e proliferadores de uma visão de mundo especifica: a mercadológica. O primeiro comercial apesar de também ter forte apelo não é tão violento, pelo contrário é bem sutil. Este demonstra sagacidade e auto valorização, aquele demonstra a que ponto chegamos quando o assunto é consumo e venda de produtos.
Ponderar as estratégias de marketing nos permite tanto verificar o que correntemente se propõe como valor, tomando aqui o sentido mais amplo do termo valor, como também permite analisar o que se projeta como valor no futuro. Reproduz como no segundo exemplo a ideia de que vale a pena prescindir do que conquistamos para adquirir novidades não importa com que radicalidade. Não está em jogo somente um carro que seja ou não descartável, pois inclusive nossas relações afetivas também se tornam descartáveis, se alguém me desagrada eu descarto essa pessoa da minha vida, mas em contrapartida eu não vejo que também eu posso ser a pessoas que desagrada alguém. O marketing não pode ser pensado despretensiosamente mesmo porque ele não está isolado do mundo, mas é por ele criado e nele se constrói.
Continua... 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre Razão e Fé


A questão que proponho é a seguinte: a “razão abrange toda a atividade espiritual do ser humano”? Há que se distinguir aqui o termo abrange: se ele é analítico, ou seja, se a razão analisa toda a atividade espiritual do ser humano, inclusive ela própria, ou se ele é constitutivo, logo, se a razão encerra nela mesma toda a dimensão espiritual do homem. No primeiro sentido a razão enquanto atividade da inteligência estaria corretamente situada já que a sinergia do Espírito (inteligência e vontade) estaria mantida. O segundo sentido, caso seja o próprio, estaria equivocado, pois a Inteligênica (razão) não estrutura a Vontade, ou melhor, a Vontade não emerge da razão[1], mas juntamente à Inteligência compõe o Espírito.
Outra questão, surge de uma possível confusão que pode causar a benção introdutória da encíclica “Fides et Ratio” do papa João Paulo II. Ela coloca numa metáfora fé e razão como “duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Entretanto sabemos pela Tradição e pelas filosofia e teologia cristãs católicas que a fé tem a primazia e complementa a insuficiência da nossa razão. Pela metáfora das asas parecem que ambas contribuem de igual maneira para se alcançar a Verdade que é o próprio Cristo: “Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” Jo 14,6.
Chegamos então ao seguinte quadro: a fé ilumina, a inteligência acolhe e a vontade impulsiona. A fé (credo) se caracteriza segundo o “Catecismo Romano” do Concílio Tridentino da seguinte forma:

“Neste lugar, a palavra ‘Creio’ não tem a significação de ‘pensar’, ‘dar opinião’. [...] Crer é ter uma profunda convicção em seu íntimo. As verdades de fé devem ser aceitas com firmeza pela inteligência.” p. 90. (Edição Brasileira, Ed. Vozes, 1951.).

Lino Batista
Obs.: Esse texto surge de discussões realizadas num curso que estou fazendo e versa sobre a “racionalidade da fé”.


[1] Razão = manifestação da Inteligência.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O conceito de lei em Tomás de Aquino


Para São Tomás de Aquino, a lei é "uma determinação da razão em vista do bem comum, promulgada por quem tem o encargo da comunidade" (Rationis ordinatio ad bonum commune ab eo, qui curam communitatis habet, promulgata – S.th. I-II 90, 4 ad 1). Entretanto é importante observar que ele era um cristão na Idade Média que tendo Deus como centro percorre um caminho ordenado para essa conclusão.
Para ele Deus é causa de todo movimento, e podemos aqui aludir a Aristóteles, e toda criatura retorna a Ele como objetivo e fim último. Diante desse pressuposto o homem como criatura de Deus feito à sua imagem e semelhança (razão e vontade), deve alcançar a Deus pela lei e pela graça, a primeira pela “vontade humana” e a segunda pelo auxílio divino. Assim a lei é como uma pedagoga indicando ao homem o caminho para chegar ao seu objetivo: “conhecer e amar a Deus”.
A lei é divida em três: lei eterna, lei natural e lei humana. A lei eterna é fonte de todas as demais, inserida no coração do homem. A lei natural engloba as leis da natureza, como a gravidade, e também a moral contemplada pela razão, dirige-se aos princípios básicos do homem expressos em alguns mandamentos como não matar. A lei humana ou positiva deve ser sujeitada a ambas as leis anteriores e têm por característica normatizar a sociedade, mantendo os vínculos sociais. 
 Lino Batista
Texto elaborado em 02/2008

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A covardia do terror


Passaram-se dez anos daquele que ficou conhecido como o maior atentado terrorista da história. Após esse período vejo com outros olhos o trágico episódio, com menos ódio esquerdista adolescente e com mais maturidade e sensatez. Por mais equivocada que seja ou que fosse a política externa americana, e ela realmente é, a única explicação que me vem a mente para descrever a motivação de tamanha atrocidade é a covardia. Seus autores na impossibilidade de enfrentar frente a frente seu desafeto apelam para o vil ataque a civis inocentes, grande parte deles trabalhadores que pagaram com suas vidas sem saberem o porquê.
Essa não é nem de longe como as guerras antigas e medievais ou mesmo como outras guerras contemporâneas nas quais inimigos declarados mostravam sua face e se dispunham a combater com um mínimo de honra. Nos atentados terroristas isso não acontece, não se dá à vítima a menor possibilidade de defesa. O que impressiona nisso é que os autores covardes desses atentados se apresentam como exemplos de moralidade!
Disse e repito por mais que os EUA adentrem em guerras ilegítimas isso não abre precedentes para o terror, um erro não justifica o outro, o sangue inocente clama por justiça, que talvez prevalecesse caso a máxima socrática fosse levada a sério: “é melhor sofrer uma injustiça do que praticar uma”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Base aliada ou base conluiada



Começo este texto com a seguinte questão: quem em sã consciência se submeteria a uma cirurgia cardíaca operada por um calouro em medicina ou pior, operada por alguém que conheça medicina como Tiririca conhece a gramática da língua portuguesa ou a  atribuição de um deputado?
Pois bem, parece que o governo brasileiro não anda muito são. Verifica-se um claro jogo político[1] e amadorismo crasso nas escolhas de cargos importantes. Cargos que não deveriam ser setorizados por partidos, mas sim preenchidos por pessoas competentes para realizar as tarefas cabíveis a cada um deles. Os critérios para as escolhas deveriam ser exigentes e compostos por fatores como experiência comprovada, carreira ilibada e capacidade técnica, diferentemente das indicações arbitrárias de partidos interesseiros. A configuração atual apenas demonstra a preocupação “bairrista” e mesquinha que busca satisfazer egos e relações promíscuas deixando de lado o bem estar do país. Preocupa-me sobremaneira a estratégia propagandista que possibilita o seguinte paradoxo: a maior parte dos brasileiros não acredita nos políticos, mas os índices de aprovação do ex-presidente Lula e da atual Dilma são altos.
As notícias e os comentários na grande mídia tratam as demissões de cinco ministros em nove meses como uma faxina da presidente que se esforça para conter a corrupção. Até agora ninguém teve coragem de apontar a presidente como culpada também, afinal foi ela quem assinou as nomeações e foi eleita para isso. O medo da imprensa chega a dar pena. Eles não têm coragem de desafiar a opinião pública e as "estatísticas" e questionar mais veementemente a presidente porque ela tem feito escolhas tão ruins e porque tem cedido tanto ao jogo dos partidos. Como ela, e Lula antes dela, têm a extrema capacidade de não saberem de nada é um mistério tão grande quanto o do ET de Varginha e nos faz pensar se não é hora de trocar não os ministros do governo, mas o oftalmologista que cuida da saúde das vistas dos presidentes.



[1] - Pode parecer ao leitor desavisado que demonizo a política, mas minha intenção não é esta. Trato o termo político no sentido clássico e, por isso, considero-a como dimensão importante do ser humano tido por Aristóteles como zoon politikon, ou seja, animal (ser vivente) político.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Projetos


Graça e Paz!

Darei início no blog a dois projetos. Em um deles me proponho um estudo da literatura brasileira a partir da leitura de obras importantes de nossa história literária, produzidas por autores como Machado de Assis, Lima Barreto, Aloísio de Azevedo, José de Alencar.
No outro estudo a proposta é disponibilizar no blog os resultados de meus estudos na filosofia em geral e mais especificamente a tomista. Estou a disposição para sugestões de leituras (principalmente literárias) e questionamentos que devem ser deixados nos comentários das postagens ou no e-mail: aporia_bh@yahoo.com.br.

Lino Batista

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre Economia e Ética: abordagem inicial


 Mais uma crise econômica mundial foi deflagrada, desta vez  no início do mês passado e presidentes, ministros e economistas concederam entrevistas tentando acalmar os ânimos ou propor soluções mais ou menos radicais. Nesses discursos percebe-se claramente a preocupação com impactos econômicos de uma crise, a menção esporádica e secundária de seu impacto social e o quase nulo referimento às implicações éticas de uma crise global. Quando nos deparamos com os diversos depoimentos verificamos que a economia ou as relações econômicas são determinantes para todas as escolhas, cortes de gastos – ainda que em serviços essenciais – medidas para se preservar o mercado, o crescimento e o lucro. O horizonte máximo de perspectiva é dado não pela bondade ou ordenamento dos atos tendo em vista o bem ou algo que lhe equivalha, mas tão somente a “saúde” do mercado.
O mercado é “antropomorfizado” através de adjetivos como nervoso, calmo, satisfeito e ele assume o estatuto de uma espécie de entidade à qual devemos nossas vidas. Qualquer semelhança com os antigos deuses não é mera coincidência. Põe-se em relevo também a questão valorativa: estaria a economia a serviço do homem? O que se verifica nas repercussões sobre a crise é a de justamente se recuperar dela e retornar a crescer. O que não se explicita é o crescer para onde e para quê. Alguns dizem que com o crescimento econômico e tecnocientífico as pessoas terão mais acesso a suas benesses e suas vidas melhorarão. Entretanto, os fatos não confirmam esta tese, afinal milhões de pessoas ainda morrem sem o acesso a serviços básicos e a disparidade entre ricos e pobres se eleva.
Ora, diz-se que a economia está a serviço da humanidade – os governantes geralmente – mas a prática é outra, as ações não acompanham os discursos. O sistema financeiro é o centro das ações políticas e a personificação do mercado é retrato mais evidente disso, levam-se em consideração assim suas “emoções” nem sempre explicadas ou explicáveis. Uma das "explicações" possíveis seria a de que a economia associada à tecnociência se configura como único espaço possível de objetividade, mas ausenta-se princípios normativos claros para orientá-la.   

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Introdução ao estudo da Idade Média

“Primeiro, porque nenhum corpo move sem ser movido, como claramente se induz dos casos singulares.” p.83.
Adivinhe quem escreveu este trecho:
( ) Isaac Newton
( ) Galileu
( ) Einstein
( ) Stephen Hawking
( ) Darwin
( ) Richard Dawkins
( ) S. Tomás de Aquino
Acerta quem marcou a última opção.
Aos pouquinhos vamos desmascarando a mentira descabida de que a “Idade Média” foi a Idade das Trevas. Além disso, poderíamos também pensar em outro nome para batizar este período dado o sentido pejorativo que deu origem ao termo Idade Média. Que tal mudarmos para Idade do Juízo ou Idade da Plenitude, afinal nessa época se respeitava a Lei de Deus e esta, ainda que não praticada por todos e muitas vezes burlada, figurava como baluarte público de decência.
Em tempo - o trecho inicial é retirado de:
Tomas, de Aquino, Santo. Suma teologica: 1ª parte - questoes 1-13: da essencia de Deus. Sao Paulo: Faculdade de Filosofia "Sedes Sapientiae", 1944. 419 p. V. 1.

sábado, 20 de agosto de 2011

“Igreja Normalista”

Outro dia tentando assistir um programa ao menos razoável na TV, por exemplo, um telejornal menos esquerdista, passei por um canal onde uma jovem se encontrava num confessionário. A cena não passava de uma sátira e a suposta confissão desta jovem era atendida por um “padre” da também suposta igreja “Normalista” [1]. Tal confissão é evidentemente uma paródia da Igreja Católica, sendo que ao confessar sua traição ao marido a jovem tanto não é dissuadida pelo “padre” como é incentivada por este que para sinalizar o vanguardismo da tal igreja a beija no final. O próprio nome da igreja é muito sugestivo nesse sentido, “igreja Normalista”, onde tudo é normal, onde tudo é permitido e aceitável, onde as pessoas não devem, como fica entendido na cena, se confessar afinal o pecado não existe é apenas uma construção social...

O mais triste nisso tudo é que há um fundo muito forte de verdade na paródia já que muitos padres católicos dão motivos para essa crítica. Extremamente relativistas já não atendem confissões e quando o fazem simplesmente dizem que pecar é a coisa mais normal do mundo não nos devemos preocupar com isso. O que é realmente preocupante é que uma sátira desse teor tenha correspondentes na realidade, o que torna muito difícil combater esse tipo de ataque à Igreja de Cristo.

“Até quando, Senhor,

triunfarão os ímpios?

Até quando se desmandarão em discursos arrogantes,

E jactanciosos estarão esses obreiros do mal?”

(Sl 93, 3-4)



[1] - Refiro-me aqui estritamente ao nome dado pelo programa em questão e não a uma igreja Normalista real da qual desconheço a existência.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pensamento avulso IV

As utopias, modernas, diga-se de passagem, nada mais são do que os frutos da própria ideia moderna de objetivação do mundo pelo homem, o que leva Marx a dizer que não cabe ao filósofo somente a tarefa de compreender o mundo, mas modificá-lo. Tal modificação não é simplesmente no sentido mais restrito do horizonte ético imediato, mas o de fortalecimento ou engajamento na Revolução. O ideal moderno é imodesto e pretensioso não pretendendo transformar somente a ação humana, mas toda a realidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Acerca da crise moral (cont.)

Por isso, só tem sentido se preservar valores cristãos se, se preserva o cristianismo que os plenifica. Dessa forma ao se desconsiderar Deus e seus mandamentos se enfraquece a proposta de ação e, portanto, a ética que lhe é subjacente. Toda ética ou sistema ético como nos comprova a história da filosofia está inserida num conjunto mais amplo que a fundamenta, metafísica, teoria do conhecimento, estética associadas à ética formam este conjunto. Isso configura uma visão da realidade, uma compreensão de mundo que possibilita determinada ética. A ação (práxis) de um cristão não foge a esta regra, pois ao agir livremente de acordo com os valores propostos por sua fé e conseguinte moral, o cristão cumpre preceitos advindos de uma visão teocêntrica, ou seja, Deus fundamento e fim último do seu próprio ser deve ser alcançado pela fé e obras piedosas. O valor de uma ação não se limita assim ao que é agradável ao sujeito, ela está ordenada a Deus que legitima a intenção e a ação.
Sabendo disso vemos a fragilidade em se tentar recuperar valores sem se recuperar junto a estrutura que a sustenta e lhe pressupõe. Em uma próxima postagem detalharei com exemplos como não tem dado certo as iniciativas que visam retomar os valores perdidos sem a correspondente visão de mundo e de humanidade.

sábado, 6 de agosto de 2011

Acerca da crise moral

A maior parte dos valores que herdamos dos nossos antepassados é herança cristã, no que tange aos valores essenciais são todos de origem cristã. Numa época onde se acentuam as crises, econômicas, políticas, etc., grande parte de natureza moral, muitas pessoas reclamam o retorno ou preservação desses valores, entretanto, querem prescindir de seu caráter cristão ou na impossibilidade disso minimizar até onde for possível a influência cristã, mais precisamente do catolicismo, manifestação verdadeira da mensagem de Cristo. No entanto, esta pretensão não se sustenta, é como se quisesse construir um belo telhado sem nada que o sustente. As mais belas ações cristãs, no caso o telhado que se quer manter, tem por sustento uma compreensão da realidade também cristã, uma ordenação que se baseia no mandamento: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13, 34.). Como vemos não é qualquer “amor” é o amor que teve o próprio Cristo, autêntico exemplo de doação e serviço, sem pieguice, sem “bom mocismo”.
(cont.)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pensamento avulso III

Sobre o fim do ensino da gramática:

Quando o nível de ignorância de uma nação chega a tal ponto, a situação torna-se mais que preocupante, torna-se patológica. Confundir-se um instrumento de possibilidades com uma algema beira a loucura, loucura de não distinguir bem as coisas, o real do irreal, o certo do errado... (pretendo seguir a reflexão num texto mais detalhado).

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre a tolerância

Sobre a tolerância (texto extraído do discurso proferido na câmara municipal de Pedro Leopoldo):

Segundo o dicionário Houaiss tolerância significa: “ato ou efeito de tolerar; indulgência, condescendência, tendência a admitir, nos outros, maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes ou mesmo diametralmente opostas às adotadas por si mesmo”. A tolerância consiste dessa forma no reconhecimento da fragilidade não apenas dos outros, mas também nossa. A partir desse reconhecimento é possível conceder ao outro e a nós mesmos um espaço de perdão e diálogo.

Jesus Cristo como é relatado no Evangelho é tolerante com as pessoas, perdoa os seus pecados, entretanto, essa tolerância não se estende ao erro, em relação ao pecado e às atitudes errôneas Jesus é extremamente intolerante. Uma passagem que ilustra bem o que quero dizer é o conhecido trecho bíblico da mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Nela Jesus demonstra que não veio para julgar e condenar, mas para acolher e perdoar, nos ensinando a fazer o mesmo. Os escribas e fariseus, com o coração cheio de malícia procuravam testar a Jesus colocando-o numa situação difícil se Ele dissesse que não a apedrejassem estaria indo contra a lei, se aceitasse que a apedrejassem estaria indo contra sua pregação. Jesus inteligentemente percebendo a intenção deles fica em silêncio a princípio, rabiscando no chão, com a insistência, que muitas vezes é a nossa, Jesus nos dá uma grande lição, derrubando fórmulas de puritanismo vazio: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” (Jo 8, 7).

Os escribas e fariseus tiveram a atitude que muitas vezes temos em relação às outras pessoas queremos exercer o papel de acusadores, juízes e carrascos, mas nos esquecemos que também somos pecadores. A tolerância demonstrada por Jesus se manifesta àquela mulher e a todos nós, mas é necessário um compromisso firme de não mais pecar, a tolerância exige em contrapartida renúncia e firmeza de caráter daquele que é acolhido.

A tolerância vivida por Jesus se funda na misericórdia, mas ao contrário do que muita gente pensa, não é uma aceitação total e irrestrita de tudo o que se possa fazer. Antes da tolerância vem o amor, e é a partir do amor que temos a tarefa de corrigir o erro para desta forma nos tornamos verdadeiramente tolerantes e não insensatos que dizem sim ao pecado, com a justificativa de serem tolerantes. Tal atitude não se configura como tolerância e sim permissividade.

Em sua obra Ética a Nicômaco Aristóteles destaca que a virtude é alcançada como meio termo, ou seja, para ser virtuoso é necessário encontrar um equilíbrio entre os extremos. Citamos um exemplo do próprio livro que cita a mansidão uma virtude moral que se encontra entre a ira e “simplicidade”. Esse meio termo não advém da aritmética e da própria situação vivida, em questões éticas não deve se generalizar, a partir de princípios gerais deve se partir para cada caso, tendo como “operador” da medida a phrónesis (sabedoria prática). Como tolerância também significa “diferença ou margem de erro admissível em relação a uma medida ou a um padrão”, deve nesse sentido estar equilibrada nem tanto a mais nem tanto a menos em relação ao que é necessário para que possamos fazê-la procedente do amor.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A tradição dos presépios

Segue abaixo texto escrito no último Natal:

Para nós católicos vem se aproximando uma das mais belas festas do calendário, o Natal. Certamente as recentes notícias de perseguições e assassinatos de nossos irmãos em Cristo, mais precisamente o massacre em Bagdá no Iraque e o caso de Asia Bibi no Paquistão tornam mais tristes os nossos preparativos, mas nos lembram que o próprio Jesus Cristo ainda criança foi duramente perseguido e segundo ele mesmo nos disse devemos tornar nossa tristeza alegria: “Felizes de vós, se fordes insultados e perseguidos, e se disserem toda a espécie de calúnia contra vós por causa de Mim.” (Mt 5,11).
O Natal para nós é o momento de celebrarmos em família o nascimento de Jesus, o nosso Salvador. E, quanto mais família e nascimento são execrados hodiernamente, mais devemos rezar pedindo a Deus a santificação das famílias e a preservação da vida daqueles que ainda nascerão, pois o ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, sendo amado por Ele como filho dileto. O Natal enquanto celebração do nascimento é, por isso, momento oportuno de defesa da vida.
No entanto, a cada ano que passa vejo cada vez mais a celebração do Natal perder sua sacralidade no mesmo ritmo em que o próprio Deus é expulso das nossas relações sociais. O Natal se tornou hoje uma festa de confraternização qualquer, dessas de fim de ano e muitas crianças não sabem sequer do nascimento do menino Jesus. Um fenômeno claro dessa perda ou como dizem alguns, dessa ressignificação cultural onde Cristo já não ó centro do Natal (e da vida das pessoas!) é o fim cadenciado da tradição dos presépios. Último entre os itens de “decoração” natalina perde para a enfeitada árvore de Natal, para os reluzentes pisca-piscas, o gordinho boneco do Papai Noel e suas “meinhas” para os presentes e perde, inclusive, para a televisão nova, item indispensável para muitos.
Questiono-me bastante acerca disso: Por que algo que nos lembra diretamente o nascimento de Cristo foi relegado a segundo plano entre os “enfeites natalinos”? Estaria isso relacionado ao fato de que Cristo mesmo está sendo relegado a segundo, terceiro, milionésimo, último plano?
Sei que muitas tradições importantes do catolicismo vem sendo esquecidas e a própria tradição dos presépios pode ser mais uma, o que seria bem triste diga-se de passagem, pois é tão bonito quando adentramos uma casa e vemos aquelas figuras tão pequenas e muito humildes ocupando um lugar de destaque na residência, o que nos lembra quando o menino Jesus, tão pequeno, frágil e humilde ocupa um lugar de destaque no coração daqueles que acolhem sua vinda. Mesmo que soe clichê afirmo que a época de Natal não se resume em dar e receber presentes, muito menos em um período de arrotar bom mocismo ou demonstrar caridades inexistentes. O Natal muito mais do que isso é a celebração cristã da vida e da família, da caridade, da alegria de se saber que Deus nos deu o maior presente que poderíamos ter recebido: o seu próprio Filho!
“Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2,14).
A todos um Feliz e Santo Natal!
24 de dezembro de 2010
Lino Batista

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Comunicado

Saúde e Paz!

Dado o excesso de obrigações acadêmicas no último mês não pude me dedicar como queria ao blog. Com essa jornada praticamente terminada posso dedicar um pouco mais ao blog. Espero que os textos sejam úteis a todos que acessarem o blog.

Ad Maiorem Dei Gloriam

Lino Batista

Pensamento avulso II

A mentira deve estar sempre rodeada de algumas verdades (“meias verdades”), pois do contrário seria facilmente percebida. Graças a tal sutileza a mentira funciona...

Deve ser por isso que se gasta tanto em marketing para encobrir mentiras com algumas verdades. Mas, observando bem, devido à inversão de valores hodiernos, quem nos garante que essas “verdades” são assim tão verdadeiras. Ou quem sabe no fim das contas as pessoas prefiram acreditar em mentiras tornadas verdades, para evitarem o incômodo de combatê-las...?!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quando o conluio político supera a justiça

No meu último texto, “Política no Brasil: alguém duvida que a vaca foi para o brejo?”, refleti um pouco sobre os descaminhos da política brasileira e o que não faltam são exemplos desse mal que nos atinge. O caso mais recente foi a libertação do ASSASSINO Cesare Battisti (chamá-lo de “ativista” não passaria de um eufemismo). Contra todas as evidências e o julgamento legal ao qual ele foi submetido na Itália o então presidente do Brasil, Lula, decidiu não extraditá-lo o que culminou em sua libertação ontem por decisão do STF. É interessante observar que tal não foi a sorte dos pugilistas cubanos que não contaram com a bondade lulista (cf. http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/03/02/lula-nao-falou-com-pugilistas-cubanos-diz-planalto-754650084.asp).

Sem ir aos detalhes do caso, o que já foi feito em muitos espaços na internet, gostaria de analisar o jogo político envolvido, já que a discussão feita em relação à libertação de Battisti tem girado não em torno à correção ou não do ato da libertação, mas aos interesses políticos envolvidos. Dessa forma se relativiza a gravidade do crime e se absolutiza os motivos ideológicos que conduzem a ele.

A tendência de se politizar os crimes com a eterna desculpa de que crimes também são cometidos pela direita é uma estratégia antiga da “esquerda”. E aqui não venho defender crimes cometidos pelos membros da “direita”, afinal ambos desconsideram em maior ou menor grau o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas quero nesses escritos dizer que para além dos conluios políticos existe a verdade e para defendê-la existe a justiça, ou pelo menos deveria ser assim.

A questão não poderia se pautar na oposição política entre direita e esquerda, mesmo que tenha relevância a discussão, pois não importa se alguém é da direita ou da esquerda, de cima ou de baixo, se é jovem ou se é idoso, se é rico ou se é pobre, nesses casos importa mais a justiça, uma vez que alguém cometeu um crime deve ser punido por isso de acordo com a lei. Podemos questionar a isenção do processo perpetrado contra Battisti ou mesmo da lei, mas a ninguém cabe estar acima desta, a não ser que impelido por uma lei superior, o que não era o caso. A única justificativa possível é que a ideologia comunista professada por ele e por Lula emitiu uma lei suprema corroborando o terrorismo, o que tornaria o assassinato moralmente defensável. Infelizmente isso aconteceu e a lei suprema que rege o Brasil é a mesma que rege a vigarice e a mentira e que culminaram no assassinato covarde não apenas das quatro vítimas de Battisti, mas dos milhões de vítimas justificadas por tal ideologia. Tristes tempos estes nos quais somos obrigados a viver...

Lino Batista 10/06/11

Texto em resposta aos comentários do seguinte site: http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/battisti-e-os-conceitos-de-justica/

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Política no Brasil: alguém duvida que a vaca foi para o brejo?


Tenho o projeto de escrever em breve sobre as atitudes politicamente incorretas de Jesus. Mas enquanto isso não acontece lanço neste texto uma análise da política brasileira na atualidade, manifestando já de início meu posicionamento contrário à democracia liberal, socialismo, liberalismo em geral, em acordo com a Igreja:
eles (os governantes), porém, quiseram, sobre as bases do liberalismo e do laicismo, levantar outros edifícios sociais que à primeira vista pareciam poderosas e magníficas construções, mas bem depressa se viu que careciam de sólidos fundamentos, e se vão miseravelmente desmoronando, um após outro, como tem que desmoronar-se tudo quanto não se apoia sobre a única pedra angular, que é Jesus Cristo. (Pio XI, Encíclica: Divini Redemptoris).
Conferir também a encíclica Omnia instaurare in Christo do papa S. Pio X.
Mesmo sem recorrer à sabedoria da Igreja podemos por nossa própria razão perceber, verificando os fatos, o quanto o sistema político brasileiro é pernicioso. A campanha eleitoral do ano passado serve bem de modelo para o que quero dizer sobre o reino da mentira e da incoerência sob o qual vivemos. A falta de coerência, como disse um amigo, é talvez o que mais irrite nisso tudo. Mas tal incoerência não é mero fruto da ignorância, e sim é uma das faces da mentira. E a história nos mostra que bandidos são falseadores sem compromisso algum com a verdade. Pois voltemos à campanha eleitoral do ano passado, quando o bispo de Guarulhos, D. Luiz Gonzaga Bergonzini, no pleno gozo do seu direito e mesmo dever acusou a então candidata Dilma Roussef e o PT de serem favoráveis a legalização do aborto provando, como 2 mais 2 são quatro, a sua acusação, imediatamente entraram em ação os militantes (popularmente conhecidos como “os puxa-saco”) tentando impedir a divulgação do material. Como essa estratégia não funcionou e a comoção popular foi grande mudaram a estratégia e de repente a atual presidente da república se tornou devota, pessoalmente contrária ao aborto como se ela nunca tivesse afirmado que o aborto era uma questão de saúde pública (sic). Ó santa convicção!
O descaramento e a cara de pau são tão grandes que a queda dos índices educacionais em avaliações internacionais é vista como positiva e um enorme passo rumo à democratização. Depois ainda afirmam que “contra fatos não há argumentos”. Sinceramente só posso ver isso como uma declaração aberta, por parte deles, de que nós os brasileiros somos idiotas incapazes de distinguir entre um pato e um burro!
Agora, fato é que a apatia daqueles que deveriam clamar contra a degradação moral e intelectual da sociedade serve de impulso para os nefastos oportunistas. Enquanto o tal “Kit Gay”, que invade a privacidade da família, é quase enfiado goela abaixo de nossas crianças, um padre, isso mesmo um padre (cf. http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/05/12/padre-contraria-cnbb-elogia-supremo-por-legalizar-uniao-de-casais-gays-no-brasil-924449881.asp) comemora o reconhecimento do casamento homossexual pelo STF.
Mas, o “Kit Gay” não foi aprovado graças a intercessão “milagrosa” da presidente Dilma Roussef (como é unida a equipe do governo), afinal o Kit foi elaborado por pessoas indicadas pela própria Roussef... Poderíamos imaginar que enfim um mínimo de senso moral a comoveu, mas não acredito nisso, como não acredito que tenha nevado no Rio de Janeiro no verão deste ano. Tal iniciativa tem menos a ver com princípios do que com interesse político, afinal Palocci braço direito dela está na corda bamba e a população brasileira, para infelicidade dos vermelhos vestidinhos de branco e verde, ainda é conservadora.
Ainda existem pessoas esperançosas com a política brasileira, mas com tristeza já não vejo nenhuma solução enquanto a maior parte dos bispos e religiosos brasileiros compactuarem com essa verdadeira destruição de nossa civilização. A vaca já está no brejo e para tirá-la do atoleiro só com braço forte e resolução, disposições que infelizmente não se encontra nos políticos brasileiros.
Lino Batista 26/05/11
Nas próximas postagens pretendo analisar a política brasileira a partir da obra de Aristóteles...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Pensamento avulso I

A humildade intelectual cristã se ancora na noção mesma do Mistério. Pensamos temporalmente e nos inserimos no tempo, por isso, nossa razão por si só é incapaz de acessar a Verdade, o que não significa que Ela não exista, afinal ela é o próprio Cristo: “Jesus respondeu: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim’.” (Jo 14,6.)

A filosofia moderna e contemporânea tendo como medida apenas o homem não consegue conceber isso, logo relativiza tudo e nega a Verdade. A ideia de tempo é aí paradigmática: como pode um ser temporal reter o que é intemporal? Somente a fé possibilita isso e quando a fé é relegada o homem perde sua oportunidade de se desvencilhar do tempo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mentirinha básica que nos ensinam na escola

Deve-se dizer que a diversidade de razões no conhecer determina a diversidade das ciências. Tanto o astrônomo como o físico chegam à mesma conclusão: a terra é redonda. Mas o primeiro se utiliza de um raciocínio matemático, que prescinde da matéria; ao passo que o físico por um raciocínio que tem em conta a matéria. (TOMÁS, 2001, p.139)

Quem já não ouviu de um professor, já não leu num jornal, ou soube de alguma outra fonte que a Igreja é obscurantista e, portanto, inimiga da ciência. Pois é, um dia também eu ouvi e acreditei nesse tipo de besteira que virou "dogma" com o avanço do Iluminismo. E nesse rol de histórias mentirosas e absurdas está a de que a Igreja afirmava categoricamente que a terra não era redonda (sic.). Entre as inúmeras provas de que isso não era verdade cito acima um trecho da, “Suma Teológica”, de Santo Tomás de Aquino um dos mais importantes, senão o maior, dos filósofos católicos.

Cabe ressaltar que S. Tomás de Aquino viveu em pleno século XIII, apogeu da Idade Média onde as universidades correspondiam a tal designação. São pensadores desse período: S. Alberto Magno, S. Boaventura, Roger Bacon e Roberto Grosseteste. O alto nível das discussões de tais pensadores supera e muito, vários dos debates que se realizam em nossas universidades atuais.

Se tivéssemos pesquisadores mais sérios e comprometidos com os fatos que estudam e não com as ideologias que “professam”, talvez menos lixo intelectual fosse produzido no país e a verdade pudesse prevalecer...

Referência bibliográfica:

TOMÁS, de Aquino, Santo. Suma teológica: teologia, Deus, trindade: volume 1: parte 1: questões 1-43. 2.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

Indicações:

CHESTERTON, G. K. S. Tomás de Aquino. 3.ed. Braga: Cruz, 1957. 271p. (Colecção Critério ; 3).

LIMA VAZ, Henrique C. de, SJ. Escritos de filosofia VII: Raízes da modernidade. São Paulo: Loyola, 2002. 291p. (Filosofia; 55).

Lino Batista 20/05/11

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Impossibilidade lógica do perspectivismo

Um dos pilares do relativismo é a “tese” perspectivista que defende não haver uma visão unívoca sobre a realidade e que todas as perspectivas são igualmente válidas. Tal formulação pode ser resumida na seguinte frase: “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. A contraposição que faço aqui é em relação à falha lógica do perspectivismo, tomando como analogia o paradoxo do mentiroso podemos falar de um paradoxo do perspectivista. Tomemos, pois, a formulação do paradoxo do mentiroso.

Se alguém faz a afirmativa, “Eu só digo mentiras”, verifica-se um problema, já que a verdade dessa assertiva é auto contraditória pois se o sujeito só diz mentiras não pode pronunciar nenhuma verdade como a frase que pronunciou e se for mentira tal assertiva ao menos uma verdade ele pronuncia, já que a negação do universal afirmativo implica pelo menos a afirmação do particular negativo “em algum momento eu não digo mentiras”.

A menção ao paradoxo do mentiroso é apenas ilustrativa para o que pretendo desenvolver que é, a saber, a constituição do paradoxo do perspectivista: Suponhamos que exista uma perspectiva P1, de acordo com a tese ela é tão válida como qualquer outra, inclusive com sua perspectiva contrária. Imaginemos que a perspectiva P1 diga que o mundo vai acabar em 2012 e que a perspectiva P2 diga que o mundo nunca vai se acabar. Oras se uma tiver correta a outra é incorreta, logo a tese perspectivista não se sustenta.

Obs.: Uma possível contraposição ao que digo pode passar pela distinção entre verdade e validade, mas como uma reflexão inicial isto é o bastante.

Lino Batista 17/05/11