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terça-feira, 26 de março de 2024

O escritor é maior que o agitador

Confesso que não sei o que se produz na academia acerca da Literatura, se bem que vez ou outra deparo-me em meu trabalho como professor com referências a essas produções. Portanto, o que direi aqui me chega majoritariamente à boca miúda ou de manifestações espaçadas de descontentes com o "sistema", seja lá o que isso for. 

Trata-se de acusações ao escritor maior da literatura brasileira: Machado de Assis. Tais acusações mencionam sua suposta indiferença política, quando na verdade o que tais acusadores esperavam dele era o perfil de um agitador de DCE, o que graças a Deus não seria possível, afinal Machado não pisou nos corredores da universidade, mesmo quando essa era mais respeitável.

O problema desses acusadores é de  não compreenderem um verdadeiro artista, pois consideram a arte como uma ferramenta estritamente política, na pior acepção do termo. O ativista de plantão não consegue compreender uma mente complexa, e sejamos sinceros, nem uma mente simples, mas tão e somente conseguem compreender minimamente mentes simplórias como as dele, onde um abismo de ignorância, engole outro num círculo vicioso de simplismos. Certamente há escritores em que se evidencia uma contundência crítica maior no que tange à realidade social e política, como no caso de Lima Barreto e Graciliano Ramos, no entanto, ainda nesses casos a literatura que produzem não se resume  a panfletagem ideológica, mas se constituem em obras de verdadeiro valor artístico.

Dirijo-me aos parvos críticos de Machado, que num anacronismo sem par buscam nele um militante identitário: Machado de Assis fez mais contra o racismo do que mil militantes de DCE, demonstrando que a inteligência, o refino de raciocínio e o esforço pessoal superam o arrivismo. Qualquer negro ou pardo se beneficia muito mais da leitura de suas obras do que na leitura de cartilhas que desconsideram que as tragédias humanas são ainda maiores que o racismo, sendo esta uma tragédia entre outras. 

E para que não me venham importunar como se eu estivesse a defender toda a situação deplorável que a sociedade brasileira vivenciava à época, lanço mão de uma estrofe de “O Navio Negreiro”, do poeta Castro Alves:


Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?! 

Ó mar, por que não apagas 

Co'a esponja de tuas vagas 

De teu manto este borrão?... 

Astros! noites! tempestades! 

Rolai das imensidades! 

Varrei os mares, tufão! 


Segunda-feira Santa 25 de março de 2024

Festa da Anunciação transferida

segunda-feira, 25 de março de 2024

O que é Filosofia?

 

A pergunta que intitula nosso texto é das mais comuns quando alguém, principalmente estudante, depara-se pela primeira vez com a matéria. Diferentemente das demais disciplinas escolares em que o objeto de estudo é bem determinado e específico, a Filosofia tem uma amplitude investigativa mais extensa. Isso significa que a Filosofia é uma disciplina que tem aspiração à universalidade, enquanto as outras disciplinas são particulares, ou seja, a Filosofia tenta enxergar o todo dando-lhe uma unidade cognoscível[1], enquanto as ciências buscam analisar ou compreender objetos específicos.

Para compreender essa relação podemos fazer uma analogia com o jogo de xadrez. Enquanto as ciências como a Física e a História, por exemplo, focariam em peças específicas como um peão ou uma torre, a Filosofia veria o tabuleiro como um todo relacionando as peças entre si.

Com as considerações acima temos um esboço da resposta ao que é Filosofia, a saber, um conhecimento sobre a totalidade ou conjunto dos próprios conhecimentos adquiridos. Ao longo de sua história, a Filosofia teve alterações em sua abordagem, mas essa busca parece ser sua sina. Além dessa busca a definição clássica, ou seja, desenvolvida entre os filósofos gregos Antigos como Platão e Aristóteles, passando pelos pré-socráticos e helenistas, tinha por base o uso da razão natural como instrumento de entendimento da realidade em sua totalidade. Eis então o substrato ou essência da filosofia clássica que se manteve durante séculos como paradigma da filosofia como podemos observar no trecho abaixo:

 

“A filosofia é um conjunto de conhecimentos naturais metodicamente adquiridos e ordenados, que tende a fornecer a explicação fundamental de todas as coisas.” (RAEYMAEKER, 1969, p. 36)   

 

Podemos verifica que Raeymaeker destaca, como dissemos acima, os termos “conhecimentos” e “todas as coisas” que representam a racionalidade e universalidade próprias do saber filosófico. Entretanto, podemos perceber outras duas dimensões fundamentais da filosofia clássica que ainda hoje serve de bússola aos filósofos contemporâneos, a saber, a ordem e o caráter natural do empreendimento filosófico. O primeiro indica que há uma organização e métodos no “trabalho” do filósofo que procede ordenadamente, supondo também uma ordem na realidade. Já o segundo ponto indica que a filosofia se limita ao conhecimento natural não recorrendo a elementos sobrenaturais em suas investigações, ainda que muitos filósofos reconheçam e pressupunham uma realidade sobrenatural.

PS: esse texto foi escrito com o intuito de esclarecer aos alunos do Ensino Médio o significado resumido da disciplina Filosofia.

Referência bibliográfica:

RAEYMAEKER, Luís de. Introdução à Filosofia. 2. ed. tradução. Alexandre Correia. São Paulo: Herder, 1969.


[1] Que pode ser conhecida.