Quando recebemos no Brasil notícias como
a da aprovação da lei que descriminaliza o aborto (que ocorreu na última semana
no Uruguai), várias pessoas e entidades celebram o “progresso civilizatório” de
tais nações acusando o Brasil e outros países não “progressistas” de
obscurantismo. Assume-se geralmente sem nenhuma análise crítica a ideia de
progresso, sem questionamento, sem cautela. Progresso significa então a
aceitação de ideias novas, vanguardistas, et
cetera, et cetera, pelo simples fato de serem novas e/ou supostamente
valorizarem a liberdade humana?
Parece-me que a resposta à questão
acima tem sido sim, o que deveria nos preocupar sobremaneira, afinal essa
antiga tendência às novidades progressistas gerou grandes “avanços” no decorrer
do século XX como, por exemplo, a “limpeza” promovida pelo nacional-socialismo
(nazismo) e o extermínio de milhares de ucranianos pela União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Antes disso, também um sinal do progresso
humanista, foi a guilhotina da revolução francesa. O que não se consegue
perceber entre o grande público, talvez pela pusilanimidade dos formadores de
opinião, é que o progresso por si só não se justifica. O encadeamento lógico e
natural dos eventos nos demonstra que todo progresso visa um fim e o fim do
progresso ininterrupto não é discutido.
Quando se fala de progresso meramente
técnico os problemas são menores, mas quando tal ideia é aplicada a questões
morais a discussão se torna mais complexa. Dessa forma uma defesa irrefletida
do progresso em detrimento de valores que sustentam nossa cultura é bastante
questionável e o fato de se aceitar ideias progressistas sem considerar a
dimensão cristã já milenar em nossa cultura não indica de modo algum evolução,
a não ser que se tome a barbárie por sinônimo de evolução. Nesse caso seria
preferível não evoluir. Para esclarecer melhor as consequências da defesa de um
progressismo façamos a análise a seguir.
Muitos dos defensores do progresso
pelo progresso admitem, alguns com ressalvas, a importância que a civilização
cristã teve no processo de valorização da dignidade da pessoa humana
independentemente de sua posição social. Um dos sustentáculos desta cultura
certamente é a família cristã que estrutura com a transmissão de seus valores a
ideia de que todo ser humano possui dignidade na medida em que todos são
chamados à conversão e ao perdão. Acontece que a família cristã que permite
com sua vivência que todos sejam tratados dignamente pela sociedade é uma das
instituições mais atacadas pelos progressistas que promovem, inclusive
legalmente (veja o caso que inicia esta postagem), a destruição de tal
instituição.
Assim os progressistas ferem
justamente um dos pilares que garantem a sua liberdade e dignidade. Com isso dão-se um tiro no pé ou como diz o ditado “cospem no prato que comem”. Criticam o
modelo que erigiu a sociedade que os permite sobreviver “culturalmente” e
pretendem colocar no lugar sob as insígnias do progresso uma sociedade que
desvaloriza a vida, a liberdade e a dignidade condenando inocentes a priori, provendo a derrocada dos
valores que sustentam nossa sociedade. Repreendendo toda moralidade surgem
figuras com ar de superioridade que se consideram evoluídos, abertos ao mundo,
esclarecidos, como se não estivessem eles próprio arrogando a si mesmos a
tarefa de instituir uma moralidade da mesma forma que aqueles que eles
recriminam.
Ó quanta coerência!!!