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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Pensamento avulso LXVII

A moralidade tem um princípio externo que é o próprio Deus e outro princípio interno que em última instância também se direciona a Deus, já que temos a marca de Deus em nosso íntimo, afinal fomos criados à Sua imagem e semelhança.

domingo, 19 de dezembro de 2021

Um pouco da política do dia em Pedro Leopoldo

O pedroleopoldense simples, sem muito estudo, vê uma fábrica que poderia oferecer emprego a muita gente desistir do empreendimento e se revolta. Nessa revolta diz algumas coisas que de fato destoam de alguns aspectos formais do problema, mas que em sua essência estão corretas. O problema é que o sistema acusatório e jurídico envoltos nas complexidades do Direito contemporâneo, burocrático, enfadonho e o pior, completamente desconexo da realidade, esquecem-se das pessoas que supostamente visam defender.

Esse caso é uma mostra clara de que o “Fiat iustitia, et pereat mundus” (faça-se justiça e que o mundo pereça) alegado por alguns “operadores do Direito” não é justo, mas faz de fato o mundo de muitos ruir. Esse é o problema da “justiça” sem responsabilidade apegada à letra, mas que na verdade utiliza a letra por conveniência. Com isso fazem valer um princípio alheio mesmo ao que levou a letra a ser o que é.

Em resumo: o povo se revolta porque os que dizem defender o povo “coam o mosquito e engolem um camelo” e não propõem soluções reais para problemas reais. São os burocratas de sempre que no quinto dia útil do próximo mês terão os seus salários na conta. E o povo? Que se vire!

domingo, 5 de dezembro de 2021

Pensamento avulso LXVI

Controvérsias sempre compuseram a ciência, mas em nossa época evocar uma objeção consciente e racional a supostas "verdades" científicas soa como "negacionismo" a ouvidos desacostumados à legítima disputa, um costume, quem diria, medieval. 

sábado, 4 de dezembro de 2021

Sobre a relação entre Filosofia e Teologia

(Vídeo aqui)

 Analisemos a seguinte questão: Por que é necessário estudar filosofia para entender teologia?

Antes de respondê-la é necessário fazer algumas considerações importantes. Primeiramente é preciso deixar claro que os conhecimentos de filosofia e teologia não são necessários à salvação. A doutrina de Cristo abarca sábios e ignorantes, sendo a salvação dada pela graça divina diferentemente das doutrinas gnósticas em que conhecimentos iniciáticos esotéricos, ou seja, conhecimentos fechados num grupo de iluminados são exigidos para se elevar espiritualmente e se salvar.

O segundo ponto é que nem toda filosofia é compatível com a teologia cristã, pois que muitas filosofias negam a dimensão sobrenatural ou mesmo a legitimidade da fé. Além disso, há que se atentar para a superioridade da teologia sobre a filosofia, tanto pelo seu objeto, no caso o próprio Deus, quanto por sua abrangência já que a filosofia está restrita aos limites da razão natural, enquanto a teologia pressupõe a fé sobrenatural, uma virtude teologal.

Feitas tais considerações podemos lidar diretamente com a pergunta recorrendo à afirmação de S. Tomás de Aquino de que a “graça pressupõe a natureza”[1]. Isso significa dizer que nós, diferentemente das criaturas angélicas, somos constituídos de um corpo material, logo não somos “puro espírito” recebendo, por exemplo, as graças sacramentais por meio de elementos naturais como no caso do batismo em que a matéria sacramental é a água. Desse modo, para compreendermos a ação de Deus na história que se dá por intermédio de sua Criação faz-se preciso o uso da razão natural que é capaz de apreender as causas, afinal como diria Aristóteles reafirmado por S. Tomás de Aquino: conhecer é conhecer as causas.

Se concordarmos com o princípio filosófico[2] de que falamos por palavras enquanto Deus nos fala pelas palavras e pelas coisas não é de pouco valor o conhecimento das coisas, proporcionado pela inteligência em que a razão se dirige ao seu objeto próprio. Assim, sendo a filosofia a máxima ciência no que tange ao uso da razão é, até mesmo por sua universalidade, fundamental na compreensão da natureza criada por Deus. Como a teologia, que é a Ciência da Graça não pode também como a própria graça prescindir do que é natural, é preciso que ela recorra à máxima ciência do natural para que os efeitos da própria graça se tornem para nós inteligíveis, ou seja, devidamente compreensíveis. A implicação disso é que a filosofia é necessária à teologia como a ciência que lhe concede o aparato conceitual para que nossa inteligência compreenda aquilo que lhe é possível no horizonte do mistério, ainda que saibamos que só a fé como nos diz o Tantum ergo no hino Pange lingua é capaz de completar as lacunas dos sentidos.

Para nossa resposta não ficar demasiada teórica podemos recorrer ao seguinte exemplo para deixá-la mais clarividente: diz a doutrina que com a elevação da hóstia e do cálice pelo sacerdote, juntamente à pronúncia das palavras do cânon, o pão e o vinho se convertem no corpo e sangue de Cristo. Obviamente essa é uma sentença que nos toca a fé, no entanto, temos diante de nós a matéria do pão e do vinho. Desse modo resta a questão: o que houve nesse momento tão sublime? Respondem os teólogos: houve a transubstanciação que consiste na mudança substancial do pão e do vinho sem a alteração de seus acidentes. Tal distinção explicada por S. Tomás de Aquino advém da metafísica, que é matéria filosófica, mais especificamente da metafísica aristotélica onde a substância é constituída pela essência e pelo acidente.

A essência seria o que o ser (ente) de fato é, aquilo que o define enquanto tal. Já os acidentes consistem em atributos que são, mas que poderiam ser de outra forma sem alterar sua essência. Como o que define o homem, em última instância, é sua alma racional, enquanto sua altura seja 1,7; 1,8 ou 1, 95m não o define essencialmente. Assim, pão e vinho substancial e essencialmente se tornam Cristo mesmo, mas mantêm seus atributos materiais acidentais. Podemos perceber com isso que a teologia usa conceitos filosóficos para explicar parcialmente fenômenos “teológicos”.

Espero com essas palavras ter dissipado a dúvida apresentada, bem como ter contribuído para um entendimento mais amplo acerca do papel da filosofia no estudo da teologia.

 

Que Maria Santíssima interceda a Deus por nós!

 

 

 

 



[1] “A fé pressupõe o conhecimento natural, como a graça pressupõe a natureza, e a perfeição o que é perfectível”. “Fides praesupponit cognitionem naturalem, sicut gratia naturam, et ut perfectio perfectibile” Fonte: TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Ia, q. 2, a. 2., ad 1.

 

[2] Mais do que um princípio filosófico essa afirmação constitui uma sentença teológica como deixa evidente a afirmação de S. Boaventura: “Como, porém, Deus não fala só pelas palavras, mas também por fatos - pois que sua palavra é ação e sua ação é palavra -, e como todas as criaturas, como efeito de Deus, acenam para sua causa: por isso, ·o que foi divinamente legado na Escritura não

deve significar apenas palavras , mas também fatos.” (BOAVENTURA, São. Brevilóquio. BOAVENTURA, São. Obras escolhidas. Org. Luis Alberto De Boni; tradução Luis Alberto De Boni, Jerônimo Jerkovié e Frei Saturnino Schneider. Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Liv. Sulina Ed.; Caxias do Sul, Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1983.)