A moralidade tem um princípio externo que é o próprio Deus e outro princípio interno que em última instância também se direciona a Deus, já que temos a marca de Deus em nosso íntimo, afinal fomos criados à Sua imagem e semelhança.
Em busca de sabedoria em tempos de relativismo professo. Talvez um pouco de classicismo seja necessário, um retorno aos paradigmas perdidos... Procuro dessa forma momentos de lucidez para além de razões e desrazões extremadas. Neste blog coloco à vossa disposição textos de minha autoria nos quais como católico apostólico romano busco alcançar sabedoria verdadeira. Com a graça de Deus poderei combater o bom combate contra a mentira que reina quase absoluta hodiernamente. ¡VIVA CRISTO REY!
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
domingo, 19 de dezembro de 2021
Um pouco da política do dia em Pedro Leopoldo
domingo, 5 de dezembro de 2021
Pensamento avulso LXVI
Controvérsias sempre compuseram a ciência, mas em nossa época evocar uma objeção consciente e racional a supostas "verdades" científicas soa como "negacionismo" a ouvidos desacostumados à legítima disputa, um costume, quem diria, medieval.
sábado, 4 de dezembro de 2021
Sobre a relação entre Filosofia e Teologia
Antes de respondê-la é
necessário fazer algumas considerações importantes. Primeiramente é preciso
deixar claro que os conhecimentos de filosofia e teologia não são necessários à
salvação. A doutrina de Cristo abarca sábios e ignorantes, sendo a salvação
dada pela graça divina diferentemente das doutrinas gnósticas em que
conhecimentos iniciáticos esotéricos, ou seja, conhecimentos fechados num grupo
de iluminados são exigidos para se elevar espiritualmente e se salvar.
O segundo ponto é que nem
toda filosofia é compatível com a teologia cristã, pois que muitas filosofias
negam a dimensão sobrenatural ou mesmo a legitimidade da fé. Além disso, há que
se atentar para a superioridade da teologia sobre a filosofia, tanto pelo seu
objeto, no caso o próprio Deus, quanto por sua abrangência já que a filosofia
está restrita aos limites da razão natural, enquanto a teologia pressupõe a fé
sobrenatural, uma virtude teologal.
Feitas tais considerações
podemos lidar diretamente com a pergunta recorrendo à afirmação de S. Tomás de
Aquino de que a “graça pressupõe a natureza”[1]. Isso significa dizer que
nós, diferentemente das criaturas angélicas, somos constituídos de um corpo
material, logo não somos “puro espírito” recebendo, por exemplo, as graças
sacramentais por meio de elementos naturais como no caso do batismo em que a
matéria sacramental é a água. Desse modo, para compreendermos a ação de Deus na
história que se dá por intermédio de sua Criação faz-se preciso o uso da razão
natural que é capaz de apreender as causas, afinal como diria Aristóteles
reafirmado por S. Tomás de Aquino: conhecer é conhecer as causas.
Se
concordarmos com o princípio filosófico[2] de que falamos por
palavras enquanto Deus nos fala pelas palavras e pelas coisas não é de pouco
valor o conhecimento das coisas, proporcionado pela inteligência em que a razão
se dirige ao seu objeto próprio. Assim, sendo a filosofia a máxima ciência no
que tange ao uso da razão é, até mesmo por sua universalidade, fundamental na
compreensão da natureza criada por Deus. Como a teologia, que é a Ciência da
Graça não pode também como a própria graça prescindir do que é natural, é
preciso que ela recorra à máxima ciência do natural para que os efeitos da
própria graça se tornem para nós inteligíveis, ou seja, devidamente
compreensíveis. A implicação disso é que a filosofia é necessária à teologia
como a ciência que lhe concede o aparato conceitual para que nossa inteligência
compreenda aquilo que lhe é possível no horizonte do mistério, ainda que
saibamos que só a fé como nos diz o Tantum
ergo no hino Pange lingua é capaz
de completar as lacunas dos sentidos.
Para nossa resposta não
ficar demasiada teórica podemos recorrer ao seguinte exemplo para deixá-la mais
clarividente: diz a doutrina que com a elevação da hóstia e do cálice pelo
sacerdote, juntamente à pronúncia das palavras do cânon, o pão e o vinho se
convertem no corpo e sangue de Cristo. Obviamente essa é uma sentença que nos
toca a fé, no entanto, temos diante de nós a matéria do pão e do vinho. Desse modo
resta a questão: o que houve nesse momento tão sublime? Respondem os teólogos:
houve a transubstanciação que consiste na mudança substancial do pão e do vinho
sem a alteração de seus acidentes. Tal distinção explicada por S. Tomás de
Aquino advém da metafísica, que é matéria filosófica, mais especificamente da
metafísica aristotélica onde a substância é constituída pela essência e pelo
acidente.
A essência seria o que o ser
(ente) de fato é, aquilo que o define enquanto tal. Já os acidentes consistem em
atributos que são, mas que poderiam ser de outra forma sem alterar sua
essência. Como o que define o homem, em última instância, é sua alma racional,
enquanto sua altura seja 1,7; 1,8 ou 1, 95m não o define essencialmente. Assim,
pão e vinho substancial e essencialmente se tornam Cristo mesmo, mas mantêm
seus atributos materiais acidentais. Podemos perceber com isso que a teologia
usa conceitos filosóficos para explicar parcialmente fenômenos “teológicos”.
Espero com essas palavras
ter dissipado a dúvida apresentada, bem como ter contribuído para um
entendimento mais amplo acerca do papel da filosofia no estudo da teologia.
Que Maria Santíssima
interceda a Deus por nós!
[1]
“A fé pressupõe
o conhecimento natural, como a graça pressupõe a natureza, e a perfeição o que
é perfectível”. “Fides praesupponit cognitionem naturalem, sicut gratia
naturam, et ut perfectio perfectibile” Fonte: TOMÁS DE
AQUINO. Suma teológica. Ia, q. 2, a. 2., ad 1.
[2]
Mais do que um
princípio filosófico essa afirmação constitui uma sentença teológica como deixa
evidente a afirmação de S. Boaventura: “Como,
porém, Deus não fala só pelas palavras, mas também por fatos - pois que sua
palavra é ação e sua ação é palavra -, e como todas as criaturas, como efeito
de Deus, acenam para sua causa: por isso, ·o que foi divinamente legado na
Escritura não
deve significar apenas palavras , mas
também fatos.” (BOAVENTURA, São. Brevilóquio. BOAVENTURA, São. Obras escolhidas. Org. Luis Alberto De
Boni; tradução Luis Alberto De Boni, Jerônimo Jerkovié e Frei Saturnino
Schneider. Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Liv.
Sulina Ed.; Caxias do Sul, Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1983.)