A
eleição de Donald Trump pode parecer a muitos uma grandiosíssima
surpresa principalmente se a principal fonte de informações do
surpreso em questão for a mídia brasileira representada pela nada
imparcial e honesta Rede Globo. A cobertura dela faria corar de
vergonha o mais ferrenho marketeiro do partido democrata ou encabular
o mais entusiasmado ativista pró-Hillary. Algo parecido aconteceu no
já remoto ano de 2005 quando houve o referendo do desarmamento e
mais recentemente quanto à saída da Grã-Bretanha da União
Europeia por intermédio também de um referendo, o famoso Brexit.
Mas o que afinal de contas esses casos têm a ver um com o outro?
Respondo. Em todos eles a
grande mídia deixou de lado sua principal tarefa, a saber, informar.
Houve uma nítida inversão na qual a descrição dos fatos deu lugar
à transformação engajada dos mesmos, de tal forma que os fatos
deveriam se adequar ao discurso e não o contrário. Essa postura tão
comum tem por base a ideia de que não há fatos a serem descritos,
mas perspectivas a serem narradas. A tentativa árdua, mas
necessária, de buscar a isenção por parte do repórter foi
abandonada, pois afinal não existe a verdade, mas verdades
manipuláveis conforme o desejo de quem as publica. Ficou claro nesse
processo da eleição americana, principalmente por parte de quem
acompanhou pela mídia brasileira, que a imprensa noticiava não o
que estava vendo e ouvindo, mas tão somente o que queria ver e
ouvir.
Enquanto o nosso jornalismo
continuar a proceder dessa forma permanecerá errando feio em todas
suas previsões que surgem num processo evidente de desinformação
intencional ou não. Afinal nem tudo é (des)contruível e fatos
existem. Se os jornalistas não aprenderam isso ainda a realidade
continuará dando suas lições ou ocorrerá o que previa Joseph
Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária,
demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.