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sábado, 14 de outubro de 2023

Pensamento avulso LXXXVII

O que os incautos "intelectuais" ocidentais, de direita ou esquerda, embebidos no materialismo ateu, ainda não entenderam é que para muitos povos economia e bem-estar não são fatores primários na tomada de decisões. Não adianta utilizar o "follow the money" para compreender tudo.
Por isso eles não entendem a mentalidade de grupos que vão do Hamas aos austeros monges tibetanos. No fim das contas não conseguem perceber sentido nem em atos cotidianos ao seu redor, como os da mãe que sacrifica uma noite de sono em vigília por um filho doente.

domingo, 8 de outubro de 2023

Pensamento avulso LXXXVI

Não adianta exigir coerência, veracidade e tutti quanti de quem possui uma mentalidade revolucionária. Ao fim e ao cabo o sujeito dirá que esses são princípios burgueses que podem ou não ser úteis conforme o fim almejado. Só os ingênuos, para dizer o mínimo, não entendem isso.

domingo, 1 de outubro de 2023

Considerações ao católico que ensina e educa - parte I

 Palestra: II Congresso Imaculada Conceição – Apostolado Beato Padre Victor

Pensei em algumas forma de iniciar esta conferência cujo objeto é a educação desde uma perspectiva católica. Nesse sentido, cogitei inicialmente conceituar educação e tratar da pedagogia e suas dificuldades, mas nós católicos estamos hoje como que à deriva e como todo náufrago precisamos nos situar antes de proceder a qualquer ação, que no presente caso seria a própria ação pedagógica.

Partindo dessa constatação somos movidos a ir ao princípio de tudo para compreender o que se passa com a educação, como na ordenação das causas precisamos nos direcionar ao começo para nos inteirarmos da causa final. Pois bem, o evento histórico primordial marco não apenas para compreender a educação, mas tudo o que diz respeito ao ser humano é a Queda.

O homem fora criado de tal modo que as potências de sua alma estavam perfeitamente ordenadas. Com isso em Adão e consequentemente em Eva havia uma hierarquia em que a sensibilidade estava subordinada à vontade e esta ao intelecto. A sensibilidade, cabe aqui esclarecer, é a potência da alma vinculada às moções ou movimentos dos sentimentos e paixões. Poderíamos incluir aqui a inclinação a agir ou não agir em vista aos sentimentos provocados.

Já a vontade e a inteligência configurariam potências superiores da alma que o homem possui por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. A vontade é o que direciona e impele à ação voluntária, ou seja, sem uma (pré)determinação extrínseca. Já a inteligência ou racionalidade é a capacidade de apreensão da realidade gerando entendimento sobre a mesma. Originalmente essas potências estavam ordenadas de tal maneira que a sensibilidade se voltava ao belo, a vontade ao bem e o intelecto à verdade. Com a queda (pecado original) essa ordem foi desvirtuada. E nisto consiste o mal: em desejar um bem de forma desordenada em desconformidade ao seu fim.

A verdadeira educação não pode prescindir dessa realidade fundamental, a saber, de que o homem ferido pelo pecado só a muito custo consegue minimamente reaver tal ordem em que a inteligência é capaz de governar a vontade para o bem que lhe é próprio. Para alcançar tal intento o primeiro ponto[1] é estritamente religioso com o acesso aos sacramentos e por meio de uma vida de oração. Só que não se chega a esse ponto sem que se passe de algum modo pelo segundo ponto, a saber, a educação e aqui cabem algumas considerações.

A primeira é que o mundo moderno desde Descartes cindiu o homem ao meio e desde então dificultou-se ainda mais a compreensão de que fé e razão não se contradizem, mas se complementam com a primazia daquela sobre esta. Em segundo lugar, podemos também destacar que o termo educação adquiriu um caráter mais amplo envolvendo não apenas os conhecimento teóricos, mas também comportamentais, enquanto o termo ensino ficou restrito à aquisição de saberes técnicos e científicos.

A segunda consideração é que uma educação verdadeiramente católica não pode, senão metodologicamente e frente ao Estado, aceitar tais cisões modernas. Ela precisa passar pela questão fundamental sobre o fim do homem que leva à pergunta: o que é o homem? O ser humano é uma criatura divina composta de corpo e alma espiritual, como dissemos no início desta conferência, dotada de sensibilidade, vontade e inteligência. Com o pecado original sua natureza foi ferida e os dons preternaturais[2] perdidos. No que interessa mais propriamente à educação ocorre-lhe a perda da ciência infusa, ou seja, a capacidade do intelecto de conhecer de forma imediata. Desse modo, o estudo com afinco se torna conditio sine qua non para adquirir o conhecimento.

Como tudo que existe tende ao seu fim próprio, também o homem tende a um fim, a saber, a beatitude, a perfeita felicidade que consiste na visão de Deus em que repousa tanto seu intelecto quanto sua vontade. S. Tomás de Aquino aponta uma tendência do homem a buscar o que é necessário a tal fim como podemos observar no trecho abaixo da obra, “De Magistro” (Quaestiones Disputatae de Veritate): “os hábitos das virtudes antes da consumação delas, preexistem em nós em algumas inclinações naturais[...]”.



[1] Ele é primeiro na ordem espiritual, mas não em relação à ordem temporal.

[2] São eles: integridade, impassibilidade, imortalidade e ciência infusa.