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domingo, 24 de junho de 2012

Imprensa, diplomacia e o caso Lugo


Certamente não sou a pessoa mais indicada para analisar a situação paraguaia após o impeachment do então presidente Fernando Lugo, entretanto, não posso deixar passar em branco a cobertura da grande mídia brasileira e as reações diplomáticas, também a brasileira, frente ao que se convencionou chamar de “golpe de estado parlamentar” (sic). Digo isso, pois a análise girou em torno de um suposto ataque à democracia pelo parlamento paraguaio o que não aconteceu se verificarmos com isenção ideológica os fatos. Para deixar mais claro o que quero dizer vou dividir a análise em três pontos.
O primeiro ponto está vinculado a uma compreensão unilateral equivocada de democracia que permeia a maior parte das discussões sobre o assunto. Por mais que eu tenha ressalvas à democracia contemporânea, neste caso particular que analiso aqui não ponho em xeque o processo eleitoral que levou Lugo ao poder. A questão não é essa. Pressupondo que ele tenha chegado ao poder por vias legais e moralmente defensáveis isso não o torna intocável. Como já se repetiu milhares de vezes o processo que levou ao seu impeachment foi legal e mencionar o respeito à democracia para contrariar a decisão parlamentar não passa de uma falácia, afinal “democracia” não significa a supremacia do eleito sobre a lei como o querem fazer parecer Hugo Chaves e cia. Logo o fato de Lugo ter sido eleito democraticamente não fazem dele um ser supremo, intocável acima das leis do país, portanto também ele enquanto presidente poderia e deveria ter sido processado, como de fato foi, caso houvesse cometido crimes ou não houvesse cumprido satisfatoriamente suas funções.
O segundo ponto é a cobertura jornalística da grande mídia brasileira que em sua maioria vêm endossando a falácia acima analisada. É impressionante a parcialidade e passionalidade das críticas. Até agora somente uma reportagem da Record News abordou objetivamente os fatos questionando tanto acusadores como defensores do presidente, mencionando com ressalvas o termo “golpe de estado”. O restante das críticas que vi parecem ter sido escritas por um mesmo autor num somatório de achismos, sem rigor e repetindo chavões, concedendo espaço para analistas[1] suspeitos por partilharem a ideologia de determinado grupo político com redes continentais. Não se respeitou minimamente o justo princípio jornalístico de conceder a acusadores e defensores a oportunidade de se manifestarem. Pareceu-me que estavam todos comprometidos de alguma forma com a defesa do ex-presidente e tudo isso, pasmem, com o intuito de defender princípios democráticos. Ora, ora! Façam-me o favor de respeitar minha inteligência e a coerência lógica!
Seguindo a reflexão chegamos ao terceiro ponto que é a vergonhosa posição do Ministério das Relações Exteriores do Brasil que nem bem tinha analisado o caso já se pronunciava por meio do seu ministro Antonio Patriota e também da presidente acusando o parlamento paraguaio de promover um golpe de estado. Num caso delicado assim a presidente e o ministro deveriam ter mais bom senso e lucidez para analisar o caso com mais frieza antes de se pronunciar e posicionar-se em nome do povo brasileiro e não da cumplicidade ideológica que partilham com o ex-presidente Lugo que venhamos e convenhamos nunca foi um exemplo de dignidade moral e respeito pela verdade, afinal já havia traído publicamente os votos feitos à Igreja Católica enquanto membro do clero.
Enfim, espero com esta pequena crítica ter demonstrado que o recente caso de impeachment tem sido tratado no Brasil de forma absurda sem comprometimento com a justiça e carregada de ideologias falaciosas que não visam o bem público de quem quer que seja, mas somente a vitória política de suas posições arbitrárias. Mídia e Ministério das Relações Exteriores envergonham o Brasil ao tratar o caso dessa forma.
Lino Batista  06/2012


[1] Alguns chegaram a afirmar que a elite, sempre ela, como se eles não fossem parte da mesma havia planejado tudo para voltar ao poder. Este argumento pode ter um fundo, bem fundo, de verdade, mas não serve para desqualificar a atitude dos parlamentares que deve ser vista como justa ou não acima de qualquer partidarismo.