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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Uma nova concepção de ciência: (breve análise a partir de T. Kuhn)

Quando se fala de ciência no quotidiano ou mesmo entre a comunidade acadêmica percebemos que as pessoas a associam com teorias e leis infalíveis, a respostas satisfatórias e únicas para a realidade. Certamente a ciência é um saber rigoroso e necessário nas inovações tecnológicas, no entanto, não é o único e infalível. Ao contrário do que grande parte de pesquisadores e leigos pensam a ciência não segue um padrão pré-determinado de evolução e acúmulo de conhecimentos. Thomas Kuhn, por exemplo, defende a tese de que a ciência caminha através de revoluções de quebras de paradigmas, ou seja, se afirma em meio a tensões.
O conceito de paradigma, que é essencial para uma crítica da ciência tem um significado bem definido, são:

[...] realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. (KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. tradução. Beatriz V. Boeira; Nelson Boeira. Perspectiva: São Paulo, 1975.)

A partir de um paradigma questões metodológicas-experimentais são propostas e com isso a ciência normal se edifica dentro desse “limite” imposto pelo paradigma, aquele que não se adequa a ele deve trabalhar isoladamente. Antes de se consolidar o paradigma há um período pré-paradigmático, onde teorias parciais e particulares se confrontam, sendo importante dizer que tais teorias são influenciadas por crenças metodológicas, ao contrário do que pensa a comunidade científica que prega sua neutralidade.                                            


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pensamento avulso XIII

A Filosofia nasce do esforço de apreender do Real aquilo que ele tem de inteligível, por isso, não se reduz a fórmulas aforísticas de autoajuda ou a discursos pomposos, prolixos e enfadonhos sobre qualquer coisa. A Filosofia é um empreendimento racional que visa a Verdade, sim “A Verdade”, por mais que esta tenha se tornado um tabu, vista como uma farsa ou um desejo juvenil de épocas perdidas. Realidade e Verdade duas buscas que permanecem no horizonte daqueles que ainda restaram, como Quixote, à revelia do escárnio, tentando lançar-se uma segunda vez ao mar.     

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 3ª parte - Final

Finalizando estas reflexões retomo a passagem do, “Críton”, de Platão citada anteriormente. Tentar demonstrar que se tem razão simplesmente por se ter muita gente a favor de determinada ideia ou princípio não é um bom argumento nem nos conduz necessariamente à verdade e a justiça. Pelo contrário se formos analisar historicamente quando alguém ou algum grupo percebeu que poderia estimular a multidão para que esta agisse de forma padronizada a certos estímulos levaram o “povo” a condenar um filósofo da estirpe de Sócrates, a preferir Barrabás a Cristo, entre tantos outros exemplos.
  Não quero dizer com isso que não se deve levar em consideração o que as pessoas pensam, mas há que se ter cuidado com a justificativa de que a maioria sempre tem razão ou que “a voz do povo é a voz de Deus”. Quem afirma coisas desse tipo desconhece a noção de justiça.
Reconheço que há sim a necessidade de que as pessoas se contraponham a um governo injusto, mas que não façam disso um subterfúgio para implantar “justiçamentos” e espalhar pelo país um rastro de destruição, que por mais que se repita na imprensa não é algo advindo de vândalos infiltrados, pois é inerente ao processo revolucionário utilizar de medidas radicais associadas a medidas aparentemente civilizadas, para que vença de qualquer forma seja pela força ou pelo “processo democrático”.
Para terminar reitero minhas críticas ao caráter das manifestações no Brasil que surgiram de insatisfações apropriadas, mas que foram instrumentalizadas e careceram de propostas palpáveis. Àqueles que gostariam de pesquisar e conhecer algum exemplo de resistência justa menciono os cristeros do México.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nota relâmpago III

Ao rememorar os 25 anos das sagrações episcopais de quatros bispos da Fraternidade São Pio X a Fraternidade emitiu uma declaração que considero essencial para compreendermos as razões de se afirmar que o Concílio Vaticano desestruturou a Igreja Católica adotando elementos anticristãos como sendo cristãos. Hoje passado já algum tempo temos ainda mais indícios do que se tinha à época do quão perniciosas foram as inovações promovidas após o Concílio (pelos frutos conhecemos as árvores). Recomendo a todos a leitura dessa declaração disponível no seguinte site:  http://www.fsspx.com.br/exe2/declaracao-por-ocasiao-do-25o-aniversario-das-sagracoes-episcopais-30-de-junho-de-1988-27-de-junho-de-2013/

sábado, 29 de junho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 2ª parte

Terminei a primeira parte dessa análise dizendo que não acredito que a série de manifestações pelo Brasil seja algo espontâneo, apesar do fato de ninguém, grupo ou pessoa ter reivindicado sua liderança. São diversas bandeiras, milhares de reinvindicações e isso dificulta qualquer análise sistemática. O que dá a sensação de espontaneidade a isso é o fato de que as insatisfações populares não são recentes e vêm se acumulando há muito tempo com os reincidentes escândalos políticos que aparecem no país. Apesar disso como já afirmei não se pode apontar que tudo isso ocorreu naturalmente sem intervenção de grupos que há muito tempo em nome da democracia visam na verdade implantar um programa autoritário com o intuito de cada vez mais estender a ação estatal até que o Estado interfira nas mais básicas ações da vida particular.
 Boa parte dos manifestantes não tem a mínima ideia de que mesmo ao levantar bandeiras com justas reivindicações, como a diminuição dos gastos públicos, auxiliam o projeto que em longo prazo tem o objetivo justamente de promover o contrário.  Isso acontece porque quem está preparado para colher os frutos, menos os amargos, dessa “revolução popular” não são aqueles que representam a vontade do povo, são o que tem uma agenda progressista que já está sendo posta em movimento há muito tempo.
As reações governamentais já começaram e o populismo está “correndo solto”. Com medo do que as multidões vão dizer já articulam projetos no sentido contrário do bom senso que deve prevalecer, pois as multidões não são confiáveis no sentido da promoção da justiça como nos aponta o excepcional trecho transcrito abaixo.

“Sócrates- Logo, meu excelente amigo, não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si. Assim sendo, para começar, não apontas o bom caminho quando nos prescreves que nos inquietemos com o pensamento da multidão a respeito do justo, do belo, do bem e de seus contrários. A multidão, no entanto, dirá alguém, é bem capaz de nos matar.”

Fonte: Platão. Critão (Críton) ou do Dever

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 1ª parte

Alguns alunos têm me procurado querendo saber minha opinião acerca das manifestações que se espalharam Brasil afora, muitos visivelmente animados com o “espreguiçamento do gigante chamado Brasil” que estaria prestes a acordar definitivamente por meio de um levante popular. Não acredito que o caso seja este nem pretendo dar “opiniões”, que podem ser infundadas, algo que considero estar por detrás da péssima qualidade do jornalismo brasileiro, que prefere se pautar em opiniões desconexas que em fatos e argumentos bem documentados e elaborados. Pois bem feitas essas considerações iniciais passemos em revista aos fatos.
Há alguns dias em São Paulo iniciou-se uma série de manifestações contra o aumento da passagem de ônibus na cidade. Enquanto isso também eclodiram manifestações em outras partes do país a partir do dia 15/06, dia da abertura da Copa das Confederações, tendo em vista mostrar a insatisfação contra o alto custo público do evento. Para bem analisar esses fatos há que se fazer um distanciamento metodológico a fim de entender com mais elementos tudo o que tem ocorrido nesses últimos dias. Primeiramente há que se destacar a cobertura jornalística em torno dos fatos que não esconde uma seleção dos aspectos a serem mostrados ao grande público. Digo isso porque recentemente em Brasília houve um ato público de milhares de protestantes (evangélicos pentecostais em sua maioria) que mereceu tão somente uns poucos segundos nas coberturas televisivas e poucas páginas nos grandes jornais (clique aqui para mais informações). Também na França houve um ato de enormes proporções (aqui) que a grande imprensa fez questão de ignorar o que não ocorreu com a chamada “primavera árabe” que prometia rosas, mas só distribui espinhos.
Não devemos nos limitar também a analisar somente aquilo que é veiculado pelas confusas lideranças como sendo o objetivo dos protestos que se diz apartidário, mas tem vínculos ideológicos com os partidos que abertamente se declaram socialistas. E isso é essencial para compreendermos essa série de protestos. Disse aos meus alunos para observarem as diferenças nos discursos de quem aderiu às manifestações de forma assistemática querendo apenas reclamar melhores condições de vida e transparência política, daqueles que já possuem experiência no jogo político e conseguem articular melhor os seus objetivos que são manifestos claramente por uma terminologia revolucionária dizendo que tais manifestações devem ser vistas como um momento de insatisfação proletária daqueles que são explorados e reivindicam uma “tomada popular do poder”, um eufemismo da famosa “ditadura do proletariado”.  Estrategicamente alguns grupos políticos serão obviamente favorecidos mesmo que isso não seja claro no momento. Quando disse isso um aluno espantado disse que defendia as manifestações, mas não compactuava com os ideais socialistas o que o faria ver com outros olhos o que se afirma acerca de tais manifestações.
Quando digo tudo isso algumas pessoas se dizem boquiabertas com meu “espírito reacionário” e como eu enquanto um professor posso compactuar com os “poderosos”. Na verdade eu é que deveria estar boquiaberto com essa interpretação, o fato de não apoiar alguém não significa que você apoia o inimigo deste alguém, o fato de não apoiar as manifestações tendo em vista o fundo revolucionário anárquico ou socialista destas não significa compactuar com os altos preços dos serviços e produtos ou mesmo a corrupção que nos assola. Simplesmente não defendo os caminhos tomados por nossos governantes nem os que serão tomados pelos revolucionários que hoje aparentemente não têm um projeto bem definido ao grande público, mas evidentemente já os têm nas pessoas que se apresentarão como defensores da moral e da pátria quando a poeira baixar, haja vista que não sou tão ingênuo para achar que tudo isso é uma ação espontânea do povo.  

(Continua)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pensamento avulso XII

Deparo-me com a notícia de que foram presos chefes de uma quadrilha “especializada” no crime popularmente conhecido como “saidinha de banco” (para mais informações clique aqui). Leio a notícia e fico a pensar na famosa tese sociológica de que o crime se origina num cenário social desfavorável ao criminoso que impossibilitado de prover o seu sustento de forma honesta é obrigado a recorrer a atividades ilícitas, criminosas. Acontece que os criminosos em questão não se enquadram nesse perfil de maneira alguma, são todos bem nutridos e utilizam o dinheiro não para sobreviverem para bem viverem, de forma luxuosa.
Evidentemente devo excluir então a hipótese de que a saidinha de banco seja um “crime de fome”. Mas, ainda há a tentação, que está por detrás da tese acima apontada, em continuar se analisando o crime como resultante unicamente de processos sociais discriminatórios nos quais a maior culpa sempre é da sociedade ou a culpa inteira. Utiliza-se então todo tipo de subterfúgios, de justificativas escorregadias para manter o núcleo dessa argumentação sociológica. Daí surge teóricos e especialistas para afirmarem que os padrões analíticos da tese de que a sociedade é culpada pelo crime permanecem. A tese então se desdobra da seguinte forma: a sociedade impõe modelos de consumo através da valorização propagandística de pessoas afortunadas em detrimento daqueles que não conseguem se estabelecer como consumidores quantitativamente relevantes. Então, aqueles que não se enquadram nesse perfil buscam a todo custo ascender social e economicamente mesmo que seja através do crime. Isso não é culpa direta dessas pessoas, mas da “sociedade” que os instiga.
 Tal argumentação é extremamente equivocada e fragmentária afinal considera o homem somente a partir de critérios materialistas como se este fosse uma caixa preta na qual certos estímulos produzem respostas bem definidas. Um equívoco claro é culpar a “sociedade” pelos crimes, afinal se tomamos uma sociedade tão heterogênea quanto a atual vemos que o fato de se culpar a sociedade pelo crime estendendo tal culpa a todos, inclusive a quem discorda do padrão consumista, chega a ser uma desonestidade intelectual.
Estendi-me demais nessa que era para ser apenas uma breve postagem. O objetivo era o de demonstrar sucintamente utilizando um exemplo claro que não se deve atribuir a todos membros da sociedade a culpa por todos os crimes, pois pode se chegar a tamanho absurdo de se dizer que a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza que foi queimada por possuir apenas trinta reais em sua conta bancária era culpada, ainda que simbolicamente, pelo atentado criminoso que sofreu e culminou em sua morte.


(Certamente tudo isso será tema de outras postagens).

terça-feira, 28 de maio de 2013

Uma grande aula sobre o mundo “medieval”


Gostaria de indicar nesta postagem uma grande aula sobre o mundo católico “medieval” ministrada pelo prof. Orlando Fedeli. O professor além de conhecedor do assunto era um entusiasta do estudo de história medieval e um apologista católico. Para os críticos que enchem os comentários no site Youtube seria necessário, então separar o conteúdo da aula das observações entusiásticas do professor. No que tange à história e aos dados apresentados por ele há algum equívoco? Se sim nos mostre documentalmente como deve ser feito por aqueles que estudam seriamente a história e não por achismo que beiram o ridículo a ponto de algumas pessoas atribuírem à conta da Idade Média Católica os processos inquisitivos dos poderes civis já no séc. XVI, século este já influenciado em grande parte pela ideias renascentistas e marcado pela perda de boa parte do prestígio político da Igreja Católica.
Para aqueles que querem estudar honestamente a história se despindo de preconceitos infantis a aula abaixo reproduzida é um bom começo: anotem os nomes de reis, catedrais, etc. citados pelo professor e pesquisem mais profundamente chegando às conclusões necessárias. Digo por experiência própria, eu que repetia as mentiras históricas que se espalham acerca desse tema e que tive a saudável ideia de verificar (estudando) se o que eu ouvia e repetia sem critério era verdade.
Para constar verifique a postagem “Mentirinha básica que nos ensinam na escola e escute a aula abaixo:






domingo, 19 de maio de 2013

Nota relâmpago II


A situação da Igreja Católica Apostólica Romana na Europa é cada vez mais desoladora, entretanto católicos brasileiros leigos e até muitos do clero infelizmente não se dão conta desse triste fenômeno de descristianização do povo europeu que pode acontecer também em outras partes do mundo e aqui no Brasil também, apesar de não parecer no momento (comento isso em outra oportunidade).
Esse fenômeno é o reflexo de séculos de reconstrução, ou melhor desconstrução, do mundo católico no qual as pessoas que antes encontravam na Igreja os sacramentos, instituídos pelo próprio Cristo, como sustento para a Salvação das almas encontram hoje ou discursos emotivistas ou discursos políticos ideológicos, ambos vazios e repletos de bom mocismo.
O vídeo abaixo nos traz uma cena triste da demolição da igreja de Saint-Jacques d’Abbeville na França. A demolição externa, a demolição dos templos até então depósitos do Sacrário, do Cristo Vivo, ou mesmo sua reutilização como boates e afins é o reflexo de uma demolição maior, a demolição da fé, da retirada do próprio Cristo do coração das pessoas. Hoje a “igreja” que sobrevive é aquela em que a centralidade de Jesus Cristo se perdeu, mas ainda há resistência. Igrejas são destruídas ou modificadas porque a Verdadeira Fé vacila, mas a promessa de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (São Mateus 16, 18) nos anima a não desistir e a resistir.




quinta-feira, 16 de maio de 2013

Nota relâmpago


Deparei-me com a seguinte notícia, “Cientistas clonam célula-tronco humana”, e interessado li a breve reportagem (aqui). Aproveitei para ler os comentários e constatei algo que já venho observando a muito tempo: a ignorância histórica de muitas pessoas e uma raiva adolescente contra a Igreja malvada que não permite que as ciências avancem. Ambas as atitudes, ignorância e raiva, alimentam-se reciprocamente num movimento circular, o ódio não permite estudo sério e gera a ignorância, a ignorância faz com que a pessoa não conheça as coisas como realmente são e abre precedentes para más interpretações e consequentemente para o ódio.
Em relação à clonagem citada pela reportagem tenho que buscar mais dados, ver a publicação oficial dos pesquisadores, mas já antecipando lanço um importante dito para reflexão:
“Nem tudo que pode ser feito deve ser feito!”   

domingo, 5 de maio de 2013

Santo Terço e procissão contra o aborto no Brasil


Na defesa da vida, a favor da doutrina católica, católicos de Belo Horizonte apresentam sua melhor arma: A ORAÇÃO.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

"O sofrimento é breve. A recompensa é eterna." (Santo Padre Pio de Pietrelcina)


Com estas belas e sábias palavras do santo Pe. Pio de Pietrelcina inicio este texto com tal sentimento de vazio que jamais havia sentido. Faz sete dias que minha mãe partia para a casa do Pai e a saudade é tanta como disse um professor meu, que parece que me foram arrancadas as raízes. Raízes que foram o sustento em tantos momentos de dificuldade, raízes que firmaram o desejo de praticar a justiça e cultivar a bondade.
Certamente minha mãe tinha seus defeitos, como todos nós temos, mas estes parecem agora ínfimos se ponderarmos suas ações e o que ela deixa de legado. Tomo comigo então as palavras de Jesus Cristo: “Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos.” (Mt 7, 17). Certamente Clélia, filha de Deus pelo batismo, era uma árvore frondosa repleta de bons frutos de caridade silenciosa, de dedicação à família e amor a tudo que fazia. Percebi e continuo percebendo os seus frutos quando vejo o quanto seus alunos evoluíram e mais do que isso o quanto a amavam com inocência e simplicidade.
Tenho certeza que o sofrimento por sua perda se ameniza com a certeza de que agora ela se encontra ao lado de nossa Mãe Aparecida e goza em seus braços maternos na presença de Deus, da recompensa eterna. E quanto a nós que aqui permanecemos resta o agradecimento infinito e a missão de continuar seguindo seu exemplo de fé madura sem floreios desnecessários.
Minha mamãe, muito obrigado por fazer de mim um homem de verdade!
   
  
Lino Batista
Belo Horizonte, 11 de abril de 2013   

terça-feira, 19 de março de 2013

Pensamento avulso XI


A presidente do Brasil Sr.ª Dilma Rousseff afirmou que além de defender os pobres cabe também ao novo Papa Francisco “compreender as ‘opções diferenciadas das pessoas’” (aqui).
Palavras soltas assim geralmente geram ambiguidades, por isso, pergunto diretamente à senhora presidente: afinal que opções são essas? Por acaso a senhora fala de opções tão respeitadas pelo seu partido como a prática do aborto, do divórcio, do casamento de pessoas do mesmo sexo e também perseguição política e caluniosa aos adversários? Ou será que a opção de gerar um esquema de “mensalão” para favorecer os seus e depois dizer que não sabia de nada também é uma dessas opções?
Haja “saco” para aturar tanto “lenga-lenga”, se alguém nunca lhe ensinou nada acerca da religião católica apostólica romana, apesar da senhora inclusive ter subido ao ambão da basílica de Nossa Senhora Aparecida, vou lhe dar algumas lições, apesar de eu mesmo não ser um mestre no assunto, o que a deveria deixar envergonhada. Primeira coisa: ninguém nunca respeitou mais a dignidade humana do que a Igreja Católica, mesmo que padres e bispos de má índole não o tenham feito. Segundo: respeitar a dignidade humana não significa compactuar com o pecado, o verdadeiro pastor e guia é aquele que sabe no momento certo ser enérgico e se necessário for castigar quem comete o erro (qualquer pai e mãe minimamente preocupados sabem disso).  
Terceiro e último um verdadeiro papa não deve ceder um milímetro em questões de fé e moral, o que a senhora realmente não deve saber afinal seu partido “vira e mexe” modifica sua posição, um dia é contra no outro é favor, que o diga o senhor Paulo Maluf... Para finalizar este pensamento nem tão avulso assim peço a Deus em oração para que o papa compreenda sim as pessoas, mas que seja como o bom pastor que não compactua com as opções errôneas de suas ovelhas e vai até o fim do mundo para resgatá-las quando de uma escolha errada.
Viva o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Viva o papado!

domingo, 17 de março de 2013

O primeiro Francisco


Não publiquei qualquer postagem acerca da renúncia do papa Bento XVI e a consequente eleição de um novo papa por dois motivos. O primeiro foi o adoecimento de minha mãe que graças a Deus vem melhorando, mas ainda inspira cuidado, por isso, fazendo um parêntese na reflexão que proponho peço a todos os leitores do blog que rezem por sua plena recuperação. O segundo motivo não é da gravidade do primeiro, mas foi o que realmente impossibilitou algum comentário meu a respeito de fato tão espantoso: a ignorância. Frente à renúncia e o conclave silenciei-me para tentar compreender melhor o que está se passando com a Igreja Militante, entretanto, considero que agora empossado o novo papa eu possa tecer algumas considerações que estão ao alcance do meu intelecto e do compromisso como católico leigo.
Pululam na imprensa, notadamente a imprensa radiofônica e da Internet, diversas especulações sobre o acontecido no conclave e agora comentários acerca da escolha do nome Francisco pelo então cardeal Jorge Mario Bergolio. Geralmente os que comentavam e continuam comentando e opinando são vaticanistas com extensa experiência de uma semana no estudo da doutrina católica. Tais especialistas (em sua maioria) animados pelo espirito politicamente correto ficaram então em polvorosa pela escolha desse nome, que evoca afinal a figura do grande São Francisco de Assis e nos faz lembrar também de outros santos homônimos como São Francisco Xavier jesuíta como o atual papa. Mas o que provocou enorme rebuliço por parte da imprensa e do povo em geral é o que toca o imaginário equivocado que se criou em torno de S. Francisco de Assis tido como o precursor de movimentos tão avessos à Verdadeira Igreja Católica, amada por S. Francisco, como os movimentos hippie (sic), ecofascistas e da teologia da libertação (já condenada em seus fundamentos pela Igreja por suas raízes marxistas).
S. Francisco amou sim os pobres e abraçou a pobreza, mas não por causa da pobreza em si mesma, e sim sabendo que amando os pobres (necessitados de todo tipo) amava ainda mais a Cristo (S. Mateus 25) Muito menos S. Francisco compactuaria com o “ecocentrismo” promovido por supostos seguidores seus que abandonam seus preceitos de pai espiritual sereno e intrépido que tinha a Cristo como centro de sua vida, das criaturas que tanto prezava e de toda a história.
Com respeito e afeto filial, mas também com desejo intenso e com insistência cristã espero que o atual papa imite S. Francisco de Assis, o S. Francisco combatente, corajoso e intolerante ao pecado, que perante os erros e descrenças de sua época disse o seguinte[1]:

9 Por isso são réprobos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus.
10 De igual modo são hoje em dia réprobos todos aqueles que - embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e a divindade, nem creem que se trata verdadeiramente do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz:
11 "Este é o meu corpo e o sangue da nova Aliança" (cf. Mc 14,22); e:
12 "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna" (cf. Jo 6,55).
13 Por isso é o Espírito do Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do Senhor (cf. Jo 6,62).
14 Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, “comem e bebem a sua condenação” (1 Cor 11,29). [Destaque meu]
15 Portanto, “ó filhos dos homens, até quando tereis duro o coração?” (Sl 4,3). Por que não reconheceis a verdade “nem credes no Filho de Deus” (Jô 9,35)? (Trecho das Admoestações. Cap. 1 – Do corpo do Senhor).

Meus amigos que o papa Francisco seja como o S. Francisco das frases acima e das obras da verdadeira caridade que nos impulsiona à verdade e não o S. Francisco light e politicamente correto que a grande mídia erigiu. Que ele se lembre ou alguém próximo a ele na Santa Sé o lembre que a humildade e pobreza de Espirito não significam simplismo litúrgico ou desleixo pelas coisas de Deus como defendem alguns teólogos. (“Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome Sl 68,10)”. (São João 2, 17).)
Não seria demais lembrar também que a Igreja está neste mundo, mas não é deste mundo e que, portanto deve fugir da tentação de se equivaler a entidades como a ONU que não têm compromisso com a Verdade Revelada de Cristo.  Pressões irão ocorrer externas e internas, mas a barca de S. Pedro deve permanecer firme sem afundar nas ciladas do “mornismo”, na covardia de não se posicionar veementemente frente às ânsias pecaminosas do mundo com medo da “opinião pública” infelizmente dominada pela maldição do politicamente correto, do fale o que as pessoas querem ouvir. Que o papa seja sim, simples, manso e humilde de coração, o que evidentemente não contradiz, mas completam as palavras do Santo Evangelho e ensinamento do Sagrado Magistério: (Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno. São Mateus 5, 37).

Rezemos pele papa! Rezemos pela Igreja!



[1] Cito este escrito de S. Francisco como um exemplo entre tantos outros de que o santo não deve se ater a regras de polidez, mas sim à Verdade mesmo que isso gere palavras duras que sirvam de conversão. Tomas apenas os textos em que S. Francisco fala com doçura aos seus filhos espirituais é desvirtuar sua mensagem mais profunda que é a de conversão e que por isso mesmo gera repreensões rígidas próprias de um pai que ama seus filhos.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tentáculos do Estado


O jornal Estado de Minas publicou em seu jornal impresso no dia 25 de fevereiro de 2013, Caderno Gerais, a seguinte reportagem: “Solidária, Lucrativa e Ilegal”. Em resumo, a matéria trata das “caronas” intermunicipais (pagas) combinadas via Internet. O jornalista Tiago de Holanda, que assina a reportagem, menciona o baixo preço da “passagem” dessas caronas e destaca a funcionalidade e eficiência desse sistema organizado pela rede de computadores. Entretanto, como enfatizou o diretor do DRE (Departamento de Estradas de Rodagem) João Afonso Baeta Costa, a prática é ilegal cabendo, portanto, as medidas legais de punição para quem for pego em delito.
Não vou discutir aqui a dimensão jurídica do fato e da lei, mas pensar em “voz alta” sobre a razoabilidade e praticidade de tais caronas. Evidentemente a lei se justifica, afinal em caso de acidentes o ônus pode ficar em certa medida com o Estado que arca com o pagamento de indenizações do seguro obrigatório[1]. Em outra linha de pensamento, mais utilitarista, fica a questão do imposto e dos prejuízos que podem sofrer o transporte coletivo legalmente concedido. Não podemos esquecer estas dimensões, mas é preciso pensar mais profundamente sobre o assunto discutindo sobre a razoabilidade da lei e mais do que isso, questionar a aplicabilidade da sua fiscalização.
Primeiramente ao se analisar qualquer lei, e as de concessões estatais para transporte público não são exceções, deve-se ter em mente o seu objetivo e qual princípio visa defender, afinal nenhuma lei é fim em si mesma. Seguindo esta análise e observando o caso das caronas vejo que os princípios de segurança e ordem pública estão sendo mantidos, ou seja, esse sistema de caronas não afeta diretamente a segurança e a ordem, caso os proprietários dos veículos estejam em dia com a manutenção dos mesmos e respeitem as leis básicas do trânsito. Logo, de acordo com este raciocínio escapamos de um legalismo vazio afirmando que os objetivos aos quais a própria lei serve estão sendo preservados.
Outro ponto do problema é que a fiscalização nesse caso pode ser bastante ineficaz na medida em que muitas dessas caronas combinadas são efetuadas por amigos que se conhecem e não vão apresentar queixas sobre o transporte. No caso de serem pegos em alguma blitz os ocupantes do veículo podem alegar que estão viajando juntos porque são amigos e o agente ou quem quer que seja não pode verificar isso do ponto de vista afetivo, afinal cada um é amigo de quem quiser. Sobra para o DER então fiscalizar a Internet, mas também aí em alguns casos vão ter que conseguir mandatos judiciais para conseguirem acessos, por exemplo, a grupos particulares protegidos pelo sigilo de informações pessoais, o que seria complicado, pois como sabemos nossa justiça é lenta.
Finalizando a reflexão que propus cabe dizer que a tentativa de extinguir as caronas pagas ou não é uma ação extremamente autoritária e contrária à liberdade de sujeitos, adultos e autônomos que têm o direito de saberem o que é melhor para eles mesmos em relação a como vão se locomover. Nossos representantes nas várias esferas do Estado têm que entender que os cidadãos não são crianças que devem ser protegidas a todo instante, o Estado não é onisciente e onipotente, nem tudo está na sua alçada. As pessoas devem ser livres e conscientes de seus atos e se esses forem contrários a lei responde-los, mas o problema fica muito sério quando algumas leis são utilizadas justamente para negar isso aos cidadãos.



[1] É bom lembrar que tal seguro é um imposto como o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), ou seja, todos os proprietários de veículos devem pagar pelo seguro.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Viva a democracia?!


Caros leitores acabei de ler a seguinte notícia: Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer é hostilizado na PUC-SP. Não tenho palavras para descrever tamanho absurdo. Como alunos de uma universidade católica são capazes de destratar um bispo dentro de uma instituição diretamente vinculada à arquidiocese? Como chegamos a este ponto?
Amigos estes são os frutos da democracia liberal, alguns podem dizer que na verdade o mau uso do direito a se manifestar foi o que produziu este ato de barbárie, mas não, o mau uso de um instrumento qualquer se dá de maneira isolada, e esse não foi um caso isolado. O número de atos e manifestações que exemplificam o quero dizer só estão aumentando, vejam por exemplo a recepção da jornalista cubana Yoani Sanchez (aqui, aqui e aqui) [1]. Os maiores defensores da democracia liberal são os primeiros a trai-la, são os que pedem direito a elevar sua voz calando as vozes dos outros, ou seja, a democracia é o direito de alguns, os “revolucionários” (sic). Ó como são democráticos!
Voltando ao caso da PUC-SP temos o fruto bem acabado e crescido da libertinagem que tem sido cultivada inclusive nos meios católicos endossados pelo discurso e pela prática de boa parte do clero pós Concílio Vaticano II. Pois bem criaram os monstros agora lidem com eles. Infelizmente não há como pedir aos manifestantes que tenham coerência e saiam da universidade católica, caso não concordem com as leis da Igreja, afinal para os revolucionários de plantão também os prédios das instituições religiosas devem ser expropriados por um Estado centralizador e paradoxalmente democrático.
Continua...




[1] A crítica que faço aos revolucionários que pedem cabeças ao melhor estilo Revolução Francesa não significa a adesão às posições defendidas por Yoani Sanchez, só utilizei este caso para mostrar a incoerência os revolucionários.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O reinado da doxa


O filósofo grego Platão, um dos maiores pensadores que já existiu, afirmou que é impossível se fazer ciência a partir da opinião (doxa), pois o conhecimento verdadeiro só é possível com a contemplação das ideias perfeitas, eternas e imutáveis existentes no “mundo inteligível”. Pode-se como fez Aristóteles, seu grande discípulo, criticar outros aspectos do pensamento platônico acerca inclusive do “mundo sensível”, entretanto, dificilmente questiona-se sem erro o fato de que a doxa não pode ser fundamento máximo da ciência e do conhecimento. Por outro lado isso não significa que ela não tenha importância alguma, e que um conhecimento verdadeiro pode surgir de uma opinião que se mostrou correta.
Queria com estas palavras demonstrar que por mais que a opinião seja útil ela não pode ter a última palavra em assuntos que demandem reflexões relevantes e sérias. De forma anedótica podemos dizer que a opinião serve para a pessoa escolher se gosta ou não de comer goiabas, mas não para afirmar sem mais se um terreno serve ou não para plantar goiabeiras, para isso é necessário um conhecimento mínimo de agronomia. Apesar disso parecer claro, a “civilização tecnológica” possuidora de vasto arsenal científico, dá cada vez mais espaço para a opinião ou achismo em assunto de extrema relevância. Convivem juntos um rigorismo tecnicista e um subjetivismo niilista! [1]
Este parece ser o cenário atual herdeiro do antropocentrismo e do relativismo. Se a ciência e a técnica tomaram para si toda a razão, sobrou para o “resto” desrazão. Então o que impera em política e religião, por exemplo, quando não os reduzem à ciência tecnicista, é o achismo. Isso gera fenômenos impressionantes. No caso da política lembro que minha mãe diz criticando a democracia liberal que alguns parentes nossos votaram no Fernando Collor à época porque ela “boa pinta”, elegante, etc. No caso da religião cito um caso recente o da renúncia do Santo Padre, o Papa Bento XVI. Nem bem ele havia se pronunciado e irromperam milhares de analistas dando suas opiniões, algumas delas tão descabidas que chegam a ser cômicas.
Caros amigos é por essas e outras que ando meio desconfiado quando ouço perguntas do tipo: O que você acha disso? Qual a sua opinião sobre aquilo?



[1] Isso me faz lembrar a seguinte passagem bíblica: “Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (São Mateus 23,24). Cabe explicar que menciono esta passagem apenas de forma analógica. 


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Lei seca e a roupa nova do rei: servilismo dos eclesiásticos?



Não são raros na história da Igreja os casos de intromissões e ataques à Igreja por parte do poder temporal, como no caso da Revolução Francesa que “premiou” os religiosos mais fiéis com a guilhotina. A palavra chave aqui é fidelidade, pois houve aqueles que por medo e comodidade traíram a Igreja e abraçaram o mundo, escolhendo para eles a porta larga e infelizmente levando muitos por esse caminho. São esses os que Jesus afirmou serem lobos em pele de cordeiros:

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. (São Mateus 7,13-15)

A brevíssima rememoração feita acima nos serve de exemplo, assim como muitos outros casos, no que concerne às tentações que a Igreja Militante padece. A questão então é: Qual a verdadeira atitude cristã frente aos desafios do mundo? Ou também: Hodiernamente como o clero deve agir afinal a secularização dia a dia é levada a cabo? A resposta para as duas questões é; cabe a todos cristão em momentos de dificuldades agir com coragem. Coragem para enfrentar o mundo e afirmar no fim assim como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” (II Timóteo 4,7)
Na postagem anterior fiz uma comparação entre o conto, “A roupa nova do rei”, e a lei seca, estendo-a a todas a todas as leis e medidas de igual teor ideológico. Associando o que disse no texto anterior com o que afirmei até aqui gostaria de lembrar dois fatos sucedidos no Brasil nos quais duas autoridades católicas deram mostras de virtude cristã. O primeiro se passou na Arquidiocese de Olinda e Recife onde simplesmente fazendo cumprir o que manda a lei da Igreja o então arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho apenas promulgou excomunhões automáticas (latae sententiae) a quem havia promovido o aborto de duas crianças (sobre a repercussão do caso clique  aqui e aqui). O segundo se passou na diocese de Guarulhos onde o então bispo Dom Luiz G. Bergonzini cumprindo seu dever de pastor alertou suas ovelhas sobre os perigos de votar em certos candidatos (conferir aqui e aqui).
O que há em comum entre os casos acima citados além do restrito cumprimento do dever das autoridades eclesiásticas diretamente envolvidas? Infelizmente ambos sofreram duras críticas não apenas dos inimigos declarados da Igreja, o que seria de se esperar, mas também, o que mais nos deveria entristecer, receberam críticas de seus pares ou simplesmente sofreram com o silêncio da omissão ou quando muito alguns nem um pouco animadores “tapinhas nas costas”. Onde estavam os paladinos da moralidade pública que infestam as pastorais da CNBB? Ou onde estavam os defensores das “liberdades democráticas” presentes nas dezenas de universidades católicas espalhadas pelo Brasil? Pouquíssimos deram suas “caras a tapa”, por isso, tais perguntas permanecem exigindo respostas urgentes que clamam manifestações públicas.
Parece-me que mais uma situação próxima das que citei apresenta-se para a Igreja no Brasil hoje com o endurecimento da lei seca e sua “tolerância zero”, pois esta pode prejudicar a celebração do Sacramento central da Igreja, a saber, a Eucaristia em algumas paróquias. É uma lástima, no que sei até o momento, que nenhuma autoridade eclesiástica tenha tido a coragem de apontar publicamente a “nudez do rei”, o que pode ser um tiro no pé, afinal muitos padres precisam se locomover de carro após a missa para atenderem mais igrejas, sendo que eles podem casualmente serem flagrados e autuados por dirigirem embriagados (sic). No entanto, até agora só vimos manifestações “politicamente corretas” (aqui) de bispos que tentam adequar a lei da Igreja e de Cristo às leis do mundo e nos fazem lembrar da passagem em que São Pedro tentou dissuadir Cristo do sofrimento[1]. Poderíamos então levantar mais uma questão: a quem realmente servimos, a Deus ou ao mundo?
Não pretendo aqui, pecador que sou, julgar e condenar homens consagrados por Deus, nem sou hipócrita para afirmar que não sou também tentado a me acomodar, mas, por outro lado Cristo disse que conhece a árvore pelos frutos[2] e mesmo sendo leigo não sou insensato em afirmar que os frutos do servilismo ao Estado moderno por parte do clero não são podres, relembro o caso da Revolução Francesa. Por isso, como leigo gostaria de respeitosamente perguntar aos bispos brasileiros: vale a pena sacrificar nossas tradições litúrgicas para evitar conflitos com um Estado que mostra cada dia mais centralizador e ateu?
Alguns poderiam dizer que não há mais como voltar atrás e que a secularização é um movimento sem volta, mas não acredito nisso. S. Pedro que recebeu do próprio Cristo as chaves do céu, anteriormente o havia negado, mas voltou atrás e sinceramente se arrependeu e como nos disse Chesterton: “São Pedro negou seu Senhor; mas, pelo menos, nunca negou que O tenha negado”. Está é a coragem católica, esta é a virtude cristã. Como fiel peço a Deus que nossos pastores tenham a humildade e a coragem petrina, para que com atitudes de servidão a Deus e abnegação das leis do mundo sirvam de exemplo para mim e muitos outros que vacilam na fé.
Que os nossos eclesiásticos gritem ao rei do mundo com a pureza de crianças e o julgamento de homens[3]: “Você está nu” e rompam com os grilhões da escravidão do pecado. É isso que peço a Deus com fervor para os nossos legítimos pastores.

Referências bíblicas: http://www.bibliacatolica.com.br


 




[1] 21. Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.
22. Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23. Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens! (São Mateus 16,21-23)

[2] Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. (São Mateus 7, 17)

[3] Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede homens. (I Coríntios 14,20)



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Lei seca e a roupa nova do rei



O conto universalmente conhecido de Hans Christian Andersen (aqui) é paradigmático. De forma aparentemente despretensiosa, para alguns, ele nos possibilita diversas reflexões sobre poder, honestidade, ignorância, etc. Mas o que há em comum entre o conto e a lei seca? Respondo: Muita coisa! O conto demonstra que a autoridade mal administrada gera um reino de medo e ignorância, afinal o medo de que o rei fosse contrariado ou desagradado, fez com que os seus funcionários e súditos fingissem ver o que não viam. Em nome da inteligência e porque não prudência recaíram numa obediência cega.
A lei seca é como a roupa nova do rei na medida em que os representantes do Estado, reis sem coroa e realeza, por mero capricho ou incompetência impingem à população uma lei arbitrária, pois contradiz as experiências evidentes da maioria da população[1] que conhecem pessoas sensatas que são capazes de beber certa quantidade de bebida alcoólica sem provocar acidentes. Certamente eles têm a favor a ciência, mas que ciência, a mesma que tinham os soviéticos ao invadir a Ucrânia, a mesma que tinham os “médicos” nazistas ou a que têm os que fabricam armas de destruição em massa?
Pois então ciência sem razoabilidade não justifica nenhuma ação, pois mais nobre que ela possa parecer a alguns desavisados, que precisam de uma resposta efetiva para os males dos acidentes de trânsito, mas que de maneira alguma compactuam com os princípios autoritários que fundamentam muito do que vem sendo feito politicamente no Brasil.
O que está acontecendo no Brasil é que na incapacidade de fazer o que lhes cabem, por exemplo, punir quem excede os limites e cumprir de fato as leis (que são razoáveis), os representantes estatais estão optando por um legalismo infrutífero  e invasivo, elaborando medidas que objetivam controlar os cidadãos dizendo o que é melhor para eles. Ao invés de possibilitar que a cultura se desenvolva naturalmente, o Estado paizão quer que seus cidadãos sejam eternas crianças, incapazes de escolherem aquilo que é bom para eles próprios.
Acontece que, como no caso do conto já citado, é a inocência de uma criança que quebra a hipocrisia e o fingimento, é a franqueza juvenil que grita: “O rei está nu!”. Se não cabe às crianças gritarem perante os desmandos estatais, cabe a nós adultos imitarmos suas virtudes e dizermos com franqueza que o Estado está nu e quer que nós vejamos crimes inexistentes e fechemos os olhos frentes às suas arbitrariedades. A aplicação da lei seca não é um fato isolado, mas demonstra que os “reis e gurus” de nossa pátria não têm pudor de transformar ideias nobres em medidas totalitárias mascaradas, cheias de bom mocismo.


Continua.
Próximo: Lei seca e a roupa do rei: servilismo dos eclesiásticos?


[1] O argumento neste ponto não é quantitativo do tipo: a maioria quer, então que seja. A ideia é demonstrar que os fatos podem ser comprovados por uma simples observação, o que qualquer um no pleno uso de sua razão pode fazer.