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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Pensamento avulso LXXVIII

Muito se fala do dogmatismo religioso e sua inflexibilidade. Nesse tipo de fala o termo dogma assume uma conotação negativa que nem de longe se aproxima de seu significado preciso e claro que lhe dá a doutrina católica. Com essa confusão pessoas dotadas de certa escolarização se afastam daquilo que supõem ser um fanatismo que nessa visão limitada abarca desde o senhorzinho sertanejo que reza o terço após um cansativo dia de trabalho a um assassino que espera com sua ação receber um prêmio num outro mundo.

Mora nessa visão aquele velho problema do reducionismo que reduz a uma sentença simplória um fenômeno altamente complexo. E quem faz isso sequer reflete que o dogmatismo que impõe ao religioso em geral é muito mais aplicável ao "intelectual ungido" que pôs essa ideia de jerico em sua cabeça. O intelectual moderno é muito mais intolerante e preso a alguma ideia do que jamais foi um religioso, mesmo o mais "fundamentalista". O religioso por mais fanático que possa ser deve recorrer ao real e admite mudanças no rumo da história que independem dele seja por conta do destino ou de um deus.

Já o intelectual ungido não. Se algo do real contradiz suas previsões é preciso que o real se readéque. E como isso é impossível lhe resta apontar para um futuro desconhecido e utópico onde as coisas estarão em seu devido lugar como estão descritas em suas teses. Ou quem sabe culpar alguém numa clara terceirização de responsabilidade por seu erro, afinal nem tudo deu certo como previa a teoria porque alguém, que não ele, errou no meio do caminho. Eis o dogmatismo mais funesto que busca tudo explicar a partir de um ponto seja econômico, social ou político, ou seja, o ponto de partida do intelectual ou de seu grupo que substituem todos os deuses querendo supera-los, mas no fim são só homens repetindo o pecado primeiro: "E sereis como deuses..."  


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