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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre a tolerância

Sobre a tolerância (texto extraído do discurso proferido na câmara municipal de Pedro Leopoldo):

Segundo o dicionário Houaiss tolerância significa: “ato ou efeito de tolerar; indulgência, condescendência, tendência a admitir, nos outros, maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes ou mesmo diametralmente opostas às adotadas por si mesmo”. A tolerância consiste dessa forma no reconhecimento da fragilidade não apenas dos outros, mas também nossa. A partir desse reconhecimento é possível conceder ao outro e a nós mesmos um espaço de perdão e diálogo.

Jesus Cristo como é relatado no Evangelho é tolerante com as pessoas, perdoa os seus pecados, entretanto, essa tolerância não se estende ao erro, em relação ao pecado e às atitudes errôneas Jesus é extremamente intolerante. Uma passagem que ilustra bem o que quero dizer é o conhecido trecho bíblico da mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Nela Jesus demonstra que não veio para julgar e condenar, mas para acolher e perdoar, nos ensinando a fazer o mesmo. Os escribas e fariseus, com o coração cheio de malícia procuravam testar a Jesus colocando-o numa situação difícil se Ele dissesse que não a apedrejassem estaria indo contra a lei, se aceitasse que a apedrejassem estaria indo contra sua pregação. Jesus inteligentemente percebendo a intenção deles fica em silêncio a princípio, rabiscando no chão, com a insistência, que muitas vezes é a nossa, Jesus nos dá uma grande lição, derrubando fórmulas de puritanismo vazio: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” (Jo 8, 7).

Os escribas e fariseus tiveram a atitude que muitas vezes temos em relação às outras pessoas queremos exercer o papel de acusadores, juízes e carrascos, mas nos esquecemos que também somos pecadores. A tolerância demonstrada por Jesus se manifesta àquela mulher e a todos nós, mas é necessário um compromisso firme de não mais pecar, a tolerância exige em contrapartida renúncia e firmeza de caráter daquele que é acolhido.

A tolerância vivida por Jesus se funda na misericórdia, mas ao contrário do que muita gente pensa, não é uma aceitação total e irrestrita de tudo o que se possa fazer. Antes da tolerância vem o amor, e é a partir do amor que temos a tarefa de corrigir o erro para desta forma nos tornamos verdadeiramente tolerantes e não insensatos que dizem sim ao pecado, com a justificativa de serem tolerantes. Tal atitude não se configura como tolerância e sim permissividade.

Em sua obra Ética a Nicômaco Aristóteles destaca que a virtude é alcançada como meio termo, ou seja, para ser virtuoso é necessário encontrar um equilíbrio entre os extremos. Citamos um exemplo do próprio livro que cita a mansidão uma virtude moral que se encontra entre a ira e “simplicidade”. Esse meio termo não advém da aritmética e da própria situação vivida, em questões éticas não deve se generalizar, a partir de princípios gerais deve se partir para cada caso, tendo como “operador” da medida a phrónesis (sabedoria prática). Como tolerância também significa “diferença ou margem de erro admissível em relação a uma medida ou a um padrão”, deve nesse sentido estar equilibrada nem tanto a mais nem tanto a menos em relação ao que é necessário para que possamos fazê-la procedente do amor.

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