Costumo dizer que os
publicitários brasileiros são muito criativos e muitas vezes é mais
interessante assistir às propagandas do que aos próprios programas. Mas nem
sempre toda essa criatividade manifesta ideais nobres voltando-se somente a
apologia de um consumismo sem limites e sem escrúpulos. A competição nem sempre
é leal e o poder de persuasão exercido por argumentos fortes pode trazer
prejuízos a pessoas que não conseguem discernir o que é útil e proveitoso do
que não é.
Sendo mais pontual decidi
fazer uma análise comparativa entre dois comerciais promovidos por empresas do
ramo automobilístico. O primeiro é a de um cachorro simpático que começa a
falar por estar no carro, que possibilitou que ele tivesse um assunto pra falar
(http://www.youtube.com/watch?v=fG07zf5ONRQ&feature=related). O outro é a
de um homem sem gasolina que consegue carona num carro bonito e potente e
percebe que ele é bem melhor do que o carro que ele tem. Ao voltar ele
simplesmente utiliza a gasolina para explodir o seu carro (http://www.youtube.com/watch?v=1Pqt-YEYpS4).
Mais do que analisar tecnicamente as propagandas, por exemplo, a posição de
câmeras, a linguagem, fotografia, sonoplastia, etc. a ideia é analisar as
concepções mercadológicas por detrás do próprio comercial. O sentimento de
desdém com carros que não sejam o da marca visada na segunda propaganda é
gritante. Numa época na qual se valoriza o consumo exacerbado, comerciais desse
tipo figuram como sintomas e proliferadores de uma visão de mundo especifica: a
mercadológica. O primeiro comercial apesar de também ter forte apelo não é tão
violento, pelo contrário é bem sutil. Este demonstra sagacidade e auto
valorização, aquele demonstra a que ponto chegamos quando o assunto é consumo e
venda de produtos.
Ponderar as estratégias
de marketing nos permite tanto
verificar o que correntemente se propõe como valor, tomando aqui o sentido mais
amplo do termo valor, como também permite analisar o que se projeta como valor
no futuro. Reproduz como no segundo exemplo a ideia de que vale a pena
prescindir do que conquistamos para adquirir novidades não importa com que radicalidade.
Não está em jogo somente um carro que seja ou não descartável, pois inclusive
nossas relações afetivas também se tornam descartáveis, se alguém me desagrada
eu descarto essa pessoa da minha vida, mas em contrapartida eu não vejo que
também eu posso ser a pessoas que desagrada alguém. O marketing não pode ser pensado despretensiosamente mesmo porque ele
não está isolado do mundo, mas é por ele criado e nele se constrói.
Continua...
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