A questão que proponho é a seguinte:
a “razão abrange toda a atividade espiritual do ser humano”? Há que se
distinguir aqui o termo abrange: se ele é analítico, ou seja, se a razão
analisa toda a atividade espiritual do ser humano, inclusive ela própria, ou se
ele é constitutivo, logo, se a razão encerra nela mesma toda a dimensão
espiritual do homem. No primeiro sentido a razão enquanto atividade da
inteligência estaria corretamente situada já que a sinergia do Espírito (inteligência e vontade) estaria mantida. O
segundo sentido, caso seja o próprio, estaria equivocado, pois a Inteligênica
(razão) não estrutura a Vontade, ou melhor, a Vontade não emerge da razão[1],
mas juntamente à Inteligência compõe o Espírito.
Outra questão, surge de uma possível
confusão que pode causar a benção introdutória da encíclica “Fides et Ratio” do papa João Paulo II.
Ela coloca numa metáfora fé e razão como “duas asas pelas quais o espírito
humano se eleva para a contemplação da verdade”. Entretanto sabemos pela
Tradição e pelas filosofia e teologia cristãs católicas que a fé tem a primazia
e complementa a insuficiência da nossa razão. Pela metáfora das asas parecem
que ambas contribuem de igual maneira para se alcançar a Verdade que é o
próprio Cristo: “Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim.” Jo 14,6.
Chegamos então ao seguinte quadro: a
fé ilumina, a inteligência acolhe e a vontade impulsiona. A fé (credo) se
caracteriza segundo o “Catecismo Romano” do Concílio Tridentino da seguinte
forma:
“Neste lugar, a palavra ‘Creio’ não tem a significação de ‘pensar’,
‘dar opinião’. [...] Crer é ter uma profunda convicção em seu íntimo. As
verdades de fé devem ser aceitas com firmeza pela inteligência.” p. 90. (Edição
Brasileira, Ed. Vozes, 1951.).
Lino Batista
Obs.: Esse
texto surge de discussões realizadas num curso que estou fazendo e versa sobre
a “racionalidade da fé”.
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