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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestar, mas para quê mesmo? 1ª parte

Alguns alunos têm me procurado querendo saber minha opinião acerca das manifestações que se espalharam Brasil afora, muitos visivelmente animados com o “espreguiçamento do gigante chamado Brasil” que estaria prestes a acordar definitivamente por meio de um levante popular. Não acredito que o caso seja este nem pretendo dar “opiniões”, que podem ser infundadas, algo que considero estar por detrás da péssima qualidade do jornalismo brasileiro, que prefere se pautar em opiniões desconexas que em fatos e argumentos bem documentados e elaborados. Pois bem feitas essas considerações iniciais passemos em revista aos fatos.
Há alguns dias em São Paulo iniciou-se uma série de manifestações contra o aumento da passagem de ônibus na cidade. Enquanto isso também eclodiram manifestações em outras partes do país a partir do dia 15/06, dia da abertura da Copa das Confederações, tendo em vista mostrar a insatisfação contra o alto custo público do evento. Para bem analisar esses fatos há que se fazer um distanciamento metodológico a fim de entender com mais elementos tudo o que tem ocorrido nesses últimos dias. Primeiramente há que se destacar a cobertura jornalística em torno dos fatos que não esconde uma seleção dos aspectos a serem mostrados ao grande público. Digo isso porque recentemente em Brasília houve um ato público de milhares de protestantes (evangélicos pentecostais em sua maioria) que mereceu tão somente uns poucos segundos nas coberturas televisivas e poucas páginas nos grandes jornais (clique aqui para mais informações). Também na França houve um ato de enormes proporções (aqui) que a grande imprensa fez questão de ignorar o que não ocorreu com a chamada “primavera árabe” que prometia rosas, mas só distribui espinhos.
Não devemos nos limitar também a analisar somente aquilo que é veiculado pelas confusas lideranças como sendo o objetivo dos protestos que se diz apartidário, mas tem vínculos ideológicos com os partidos que abertamente se declaram socialistas. E isso é essencial para compreendermos essa série de protestos. Disse aos meus alunos para observarem as diferenças nos discursos de quem aderiu às manifestações de forma assistemática querendo apenas reclamar melhores condições de vida e transparência política, daqueles que já possuem experiência no jogo político e conseguem articular melhor os seus objetivos que são manifestos claramente por uma terminologia revolucionária dizendo que tais manifestações devem ser vistas como um momento de insatisfação proletária daqueles que são explorados e reivindicam uma “tomada popular do poder”, um eufemismo da famosa “ditadura do proletariado”.  Estrategicamente alguns grupos políticos serão obviamente favorecidos mesmo que isso não seja claro no momento. Quando disse isso um aluno espantado disse que defendia as manifestações, mas não compactuava com os ideais socialistas o que o faria ver com outros olhos o que se afirma acerca de tais manifestações.
Quando digo tudo isso algumas pessoas se dizem boquiabertas com meu “espírito reacionário” e como eu enquanto um professor posso compactuar com os “poderosos”. Na verdade eu é que deveria estar boquiaberto com essa interpretação, o fato de não apoiar alguém não significa que você apoia o inimigo deste alguém, o fato de não apoiar as manifestações tendo em vista o fundo revolucionário anárquico ou socialista destas não significa compactuar com os altos preços dos serviços e produtos ou mesmo a corrupção que nos assola. Simplesmente não defendo os caminhos tomados por nossos governantes nem os que serão tomados pelos revolucionários que hoje aparentemente não têm um projeto bem definido ao grande público, mas evidentemente já os têm nas pessoas que se apresentarão como defensores da moral e da pátria quando a poeira baixar, haja vista que não sou tão ingênuo para achar que tudo isso é uma ação espontânea do povo.  

(Continua)

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