Alguns alunos têm me
procurado querendo saber minha opinião acerca das manifestações que se
espalharam Brasil afora, muitos visivelmente animados com o “espreguiçamento do
gigante chamado Brasil” que estaria prestes a acordar definitivamente por meio
de um levante popular. Não acredito que o caso seja este nem pretendo dar
“opiniões”, que podem ser infundadas, algo que considero estar por detrás da
péssima qualidade do jornalismo brasileiro, que prefere se pautar em opiniões
desconexas que em fatos e argumentos bem documentados e elaborados. Pois bem
feitas essas considerações iniciais passemos em revista aos fatos.
Há alguns dias em São
Paulo iniciou-se uma série de manifestações contra o aumento da passagem de
ônibus na cidade. Enquanto isso também eclodiram manifestações em outras partes
do país a partir do dia 15/06, dia da abertura da Copa das Confederações, tendo
em vista mostrar a insatisfação contra o alto custo público do evento. Para bem
analisar esses fatos há que se fazer um distanciamento metodológico a fim de
entender com mais elementos tudo o que tem ocorrido nesses últimos dias.
Primeiramente há que se destacar a cobertura jornalística em torno dos fatos
que não esconde uma seleção dos aspectos a serem mostrados ao grande público. Digo
isso porque recentemente em Brasília houve um ato público de milhares de protestantes
(evangélicos pentecostais em sua maioria) que mereceu tão somente uns poucos
segundos nas coberturas televisivas e poucas páginas nos grandes jornais
(clique aqui
para mais informações). Também na França houve um ato de enormes proporções (aqui)
que a grande imprensa fez questão de ignorar o que não ocorreu com a chamada “primavera
árabe” que prometia rosas, mas só distribui espinhos.
Não devemos nos limitar
também a analisar somente aquilo que é veiculado pelas confusas lideranças como
sendo o objetivo dos protestos que se diz apartidário, mas tem vínculos
ideológicos com os partidos que abertamente se declaram socialistas. E isso é
essencial para compreendermos essa série de protestos. Disse aos meus alunos
para observarem as diferenças nos discursos de quem aderiu às manifestações de
forma assistemática querendo apenas reclamar melhores condições de vida e
transparência política, daqueles que já possuem experiência no jogo político e
conseguem articular melhor os seus objetivos que são manifestos claramente por
uma terminologia revolucionária dizendo que tais manifestações devem ser vistas
como um momento de insatisfação proletária daqueles que são explorados e
reivindicam uma “tomada popular do poder”, um eufemismo da famosa “ditadura do
proletariado”. Estrategicamente alguns
grupos políticos serão obviamente favorecidos mesmo que isso não seja claro no
momento. Quando disse isso um aluno espantado disse que defendia as
manifestações, mas não compactuava com os ideais socialistas o que o faria ver
com outros olhos o que se afirma acerca de tais manifestações.
Quando digo tudo isso
algumas pessoas se dizem boquiabertas com meu “espírito reacionário” e como eu enquanto
um professor posso compactuar com os “poderosos”. Na verdade eu é que deveria
estar boquiaberto com essa interpretação, o fato de não apoiar alguém não
significa que você apoia o inimigo deste alguém, o fato de não apoiar as
manifestações tendo em vista o fundo revolucionário anárquico ou socialista
destas não significa compactuar com os altos preços dos serviços e produtos ou
mesmo a corrupção que nos assola. Simplesmente não defendo os caminhos tomados
por nossos governantes nem os que serão tomados pelos revolucionários que hoje aparentemente
não têm um projeto bem definido ao grande público, mas evidentemente já os têm
nas pessoas que se apresentarão como defensores da moral e da pátria quando a
poeira baixar, haja vista que não sou tão ingênuo para achar que tudo isso é
uma ação espontânea do povo.
(Continua)
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