Deparo-me
com a notícia de que foram presos chefes de uma quadrilha “especializada” no
crime popularmente conhecido como “saidinha de banco” (para mais informações
clique aqui).
Leio a notícia e fico a pensar na famosa tese sociológica de que o crime se
origina num cenário social desfavorável ao criminoso que impossibilitado de prover
o seu sustento de forma honesta é obrigado a recorrer a atividades ilícitas,
criminosas. Acontece que os criminosos em questão não se enquadram nesse perfil
de maneira alguma, são todos bem nutridos e utilizam o dinheiro não para
sobreviverem para bem viverem, de forma luxuosa.
Evidentemente
devo excluir então a hipótese de que a saidinha de banco seja um “crime de fome”.
Mas, ainda há a tentação, que está por detrás da tese acima apontada, em
continuar se analisando o crime como resultante unicamente de processos sociais
discriminatórios nos quais a maior culpa sempre é da sociedade ou a culpa
inteira. Utiliza-se então todo tipo de subterfúgios, de justificativas escorregadias
para manter o núcleo dessa argumentação sociológica. Daí surge teóricos e
especialistas para afirmarem que os padrões analíticos da tese de que a
sociedade é culpada pelo crime permanecem. A tese então se desdobra da seguinte
forma: a sociedade impõe modelos de consumo através da valorização
propagandística de pessoas afortunadas em detrimento daqueles que não conseguem
se estabelecer como consumidores quantitativamente relevantes. Então, aqueles
que não se enquadram nesse perfil buscam a todo custo ascender social e
economicamente mesmo que seja através do crime. Isso não é culpa direta dessas
pessoas, mas da “sociedade” que os instiga.
Tal argumentação é extremamente equivocada e
fragmentária afinal considera o homem somente a partir de critérios materialistas
como se este fosse uma caixa preta na qual certos estímulos produzem respostas
bem definidas. Um equívoco claro é culpar a “sociedade” pelos crimes, afinal se
tomamos uma sociedade tão heterogênea quanto a atual vemos que o fato de se
culpar a sociedade pelo crime estendendo tal culpa a todos, inclusive a quem
discorda do padrão consumista, chega a ser uma desonestidade intelectual.
Estendi-me
demais nessa que era para ser apenas uma breve postagem. O objetivo era o de
demonstrar sucintamente utilizando um exemplo claro que não se deve atribuir a
todos membros da sociedade a culpa por todos os crimes, pois pode se chegar a
tamanho absurdo de se dizer que a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza que
foi queimada por possuir apenas trinta reais em sua conta bancária era culpada,
ainda que simbolicamente, pelo atentado criminoso que sofreu e culminou em sua
morte.
(Certamente
tudo isso será tema de outras postagens).
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