A história da Igreja nos regala com um grande número de conversões
grandiosas como a do escritor inglês G. K. Chesterton, para citar um nome
relativamente próximo de nós historicamente. Tais conversões são preciosas em
vários sentidos e nos mostram a efetivação da parábola do Bom Pastor. Quando se
fala de grandes conversões um nome que vem à mente de muitas pessoas é o de
Santo Agostinho de Hipona, conversão esta fruto das incansáveis orações de sua
mãe S. Mônica.
Agostinho fora um jovem errante e sua conversão se deu aproximadamente
aos 33 anos após grande inquietação que o levou do neoplatonismo ao
maniqueísmo. Sua história de conversão é extremamente interessante, mas não
será o objeto deste texto. Aos interessados aguardem novos textos e acompanhem
o segundo módulo do curso de Introdução à Filosofia Cristã que será divulgado
nos meios eletrônicos.
O objetivo aqui é compreender alguns elementos da filosofia e teologia
do bispo de Hipona. Nesse intento iremos recorrer à pintura em óleo sobre tela
do pintor Philippe de Champaigne, um dos mais talentosos artistas do século
XVII que passou a se dedicar a obras sacras após a cura milagrosa de sua filha
e que nos brindou com um belo retrato de S. Agostinho, apesar de suas
inclinações ao jansenismo.
A ideia aqui é partindo da contemplação da obra oferecer uns poucos
elementos interpretativos da filosofia cristã em geral e da agostiniana em
particular. Primeiramente gostaria de destacar que a pretensão aqui é singela
tanto no aspecto de análise estética, não sou crítico de arte, quanto no âmbito
filosófico e teológico. Feitas essas exposições iniciais podemos começar nossas
considerações.
O ser humano é dotado de sensibilidade, vontade e inteligência,
voltadas respectivamente ao belo, ao Bem e à Verdade. Com a perda dos dons
preternaturais, oriunda do pecado original, tal ordem foi desvirtuada e a
sensibilidade se voltou ao feio, ao desproporcional, enquanto a vontade e a
inteligência se voltaram ao mal e à mentira, respectivamente. Para que tal
desordem se desfaça é preciso que o ser humano busque auxílio na graça divina.
E ao busca-la ele perceberá que Deus habita a sua própria alma, chegando o
santo a expressar: “Deus nos é mais íntimo, que o nosso próprio íntimo”
(Confissões III, 6, 11; 53,10).
Observando a pintura de Philippe de Champaigne podemos analisar tal
reordenamento da sensibilidade para a vontade e da vontade subordinada à
inteligência da seguinte forma: A verdade representada pelo Sol (acima), em que podemos
ver escrito em latim “veritas”, que é próprio Cristo, a luz do mundo, ilumina a
“cabeça”, ou seja, a inteligência e abrasa o coração (abaixo) que representa a vontade
que coberta pela chama ardente da Verdade leva o homem ao Bem, ao reto caminho.
Dessa forma, por intermédio da graça divina o ser humano é capaz de
encontrar-se a si próprio encontrando a Verdade mesma que habita a profundidade
de seu íntimo. Cabe aqui mencionar também que a vontade é o terreno do
livre-arbítrio que se estiver ordenado à Verdade possibilita ao homem ser
livre, sendo por sua vez a liberdade vinculada ao Bem. Só se é verdadeiramente
livre quando se conhece a Verdade e se orienta por ela e, em última instância,
a Verdade é o próprio Cristo como também o é o Bem.
Outro ponto que gostaria de destacar na pintura é em relação ao que se
encontra sob os pés do santo. Trata-se de livros do monge Pelágio e
provavelmente de Juliano de Eclano, ambos adeptos da heresia pelagiana. Tal
detalhe torna a pintura ainda mais instigante e recomendável, afinal não bastou
ao santo encontrar a verdade, mas lhe coube combater o erro e a mentira, pois a
luz da verdade é como a lâmpada mencionada por Nosso Senhor: ela deve ser posta
à vista, bem como as trevas devem ser dissipadas.
Como foi dito no início, este texto têm poucas pretensões, pois nossa
expectativa é desenvolver mais detalhadamente o assunto no curso de Introdução
à Filosofia Cristã oferecido por mim junto à Associação Cultural São Filipe
Néri. Informações sobre inscrições e mais informações serão divulgadas oportunamente.
Que Maria Santíssima interceda a Deus por nós!
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