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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Pequenos sinais de incivilidade

Hoje, em minha epopeia diária para ir trabalhar pela manhã, seguia apressado por um corredor da estação de ônibus S. Gabriel para a última baldeação rumo ao último ônibus que me levaria a meio quilômetro do meu destino. Apesar de ter percorrido esse caminho dezenas de vezes, foi apenas nesse dia que notei algo no mínimo inusitado para não dizer absurdo.

Nesse amplo corredor de acesso que serve a milhares de passageiros que ali trafegam diariamente, há um extintor de incêndio, o que não apenas é recomendável, mas até mesmo obrigatório. Até aí tudo bem, mas como dizem os memes da internet: “algo de errado não estava certo”. O extintor estava trancado e se não bastasse o absurdo havia um recado que mandava procurar, salvo engano, a administração da estação ou um segurança para destrancá-lo.

Logo imaginei a situação de um incêndio e as pessoas se acotovelando em busca de fugir do local, enquanto algumas pessoas tentariam em vão acessar o extintor, desesperadas e incapazes de encontrar a tal administração. Queira Deus que isso nunca aconteça, mas não é justamente essa a função do aparelho que deve servir em situações de perigo?

Diz-se com essa medida evitar depredações e vandalismos que de fato destroem e dão muito prejuízo, mas essa justificativa para esse procedimento apesar de em certo grau ser procedente, pode mascarar o absurdo da situação, sendo-nos necessário uma análise mais substancial dessa insensatez.
O primeiro ponto que gostaria de destacar é que a muitos pode ser parecer uma bobagem, algo de pouca importância, mas enganam-se, pois situações como essa são sinais escancarados de incivilidade ou barbárie. É o demonstrativo de uma falência na capacidade de sociabilidade básica. Uma sociedade em que pessoas causam estragos, impunemente, a objetos que podem salvar a vida não apenas de outrem, mas delas mesmas não tem como se manter como tal a não ser que a anomia social seja revertida.
E para que haja tal reversão é preciso que tais ações não sejam consideradas como de menor importância, afinal quem não é confiável no pouco, muito provavelmente também não o é no muito. Se uma sociedade é incapaz de garantir que um extintor seja mantido incólume no corredor de uma estação de ônibus, como ela será capaz de se manter enquanto tal?
Infelizmente não temos um povo, mas uma massa disforme, visível em pequenos e grandes sinais. Ainda nos mantemos, mas até quando?


Belo Horizonte, 29 de novembro de 2023


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