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sábado, 17 de fevereiro de 2024

Uma distinção fundamental

Outro dia, voltando para casa de uma festa, passei em frente a uma das diversas igrejas protestantes no meu bairro e em poucos segundos de dentro do ônibus ouvi algo que imediatamente acendeu um sinal de alerta em minha mente. Uma voz masculina, provavelmente de um pastor, dizia não haver um “pecômetro” para medir o pecado, de tal modo que o roubo de uma agulha equivaleria ao roubo de algo muito mais caro, que não consegui compreender o que era. Esse tipo de análise do pecado cabe bem ao protestantismo, mas também já ouvi de católicos, sacerdotes inclusive, que diziam não haver pecadinho e pecadão.

De fato todo pecado é um mal que ofende a Deus e rebaixa o homem, de modo tal que para nos livrar de todo pecado foi necessário o sacrifício do Próprio Filho que derramou o Seu sangue para libertar cada ser humano da escravidão e jugo do pecado. No entanto, essa realidade não altera o fato de que nem todo pecado tem a mesma gravidade, pois como disse o Senhor frente a Pilatos, quem O entregava cometia pecado maior.

A Igreja, mãe e mestre, em posse legítima das Sagradas Escrituras e de sua interpretação, distinguindo a gravidade dos pecados dividiu-os em veniais e mortais. O pe. João Batista Lehmann em sua obra, “Na luz perpétua - vol. 1”, diz-nos o seguinte acerca deles:


O pecado mortal é de todos o mal maior e deve ser evitado a todo custo, porque é ele que nos exclui da felicidade eterna. Pecados veniais não têm este efeito, mas predispõem a alma a consentir em infidelidades maiores e preparam o caminho para o pecado mortal. (p. 70)


Como podemos observar, essa doutrina do pecado não visa diminuir o impacto ou gravidade dos pecados como insinuam alguns críticos da Igreja, mas dimensionar devidamente as ações humanas, pois Deus possui a totalidade da misericórdia concomitante à totalidade da justiça. Como justo juiz, Nosso Senhor pesa e pondera e conhece as profundezas da intimidade de cada um e no uso de Sua misericórdia nos legou o sacramento da confissão que apaga em nós os pecados, ainda que não completamente os seus efeitos.

Somente à luz do conjunto da doutrina, ou seja, da totalidade do mistério da Redenção resguardado pela Igreja, é possível entender devidamente o pecado e a sua estrutura desde a Queda. É justamente esse desconhecimento ou afastamento da verdadeira doutrina que gera falas como a que descrevi no início no texto, que podem se assentar num princípio verdadeiro, a saber, que o todo pecado gera um mal, mas que falha ao se concentrar nisso sem considerar outras dimensões dessa realidade, que é de fato terrível. Esse procedimento se enquadra no conceito de heresia que consiste literalmente numa separação ou escolha arbitrária de um ponto da doutrina em detrimento dos demais. Aos católicos nos cabe eliminar em nós tal proceder.  


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