Mais uma crise econômica
mundial foi deflagrada, desta vez no início do mês passado e presidentes, ministros e
economistas concederam entrevistas tentando acalmar os ânimos ou propor
soluções mais ou menos radicais. Nesses discursos percebe-se claramente a
preocupação com impactos econômicos de uma crise, a menção esporádica e
secundária de seu impacto social e o quase nulo referimento às implicações
éticas de uma crise global. Quando nos deparamos com os diversos depoimentos
verificamos que a economia ou as relações econômicas são determinantes para
todas as escolhas, cortes de gastos – ainda que em serviços essenciais –
medidas para se preservar o mercado, o crescimento e o lucro. O horizonte
máximo de perspectiva é dado não pela bondade ou ordenamento dos atos tendo em
vista o bem ou algo que lhe equivalha, mas tão somente a “saúde” do mercado.
O mercado é
“antropomorfizado” através de adjetivos como nervoso, calmo, satisfeito e ele
assume o estatuto de uma espécie de entidade à qual devemos nossas vidas.
Qualquer semelhança com os antigos deuses não é mera coincidência. Põe-se em
relevo também a questão valorativa: estaria a economia a serviço do homem? O
que se verifica nas repercussões sobre a crise é a de justamente se recuperar
dela e retornar a crescer. O que não se explicita é o crescer para onde e para
quê. Alguns dizem que com o crescimento econômico e tecnocientífico as pessoas
terão mais acesso a suas benesses e suas vidas melhorarão. Entretanto, os fatos
não confirmam esta tese, afinal milhões de pessoas ainda morrem sem o acesso a
serviços básicos e a disparidade entre ricos e pobres se eleva.
Ora, diz-se que a
economia está a serviço da humanidade – os governantes geralmente – mas a
prática é outra, as ações não acompanham os discursos. O sistema financeiro é o
centro das ações políticas e a personificação do mercado é retrato mais
evidente disso, levam-se em consideração assim suas “emoções” nem sempre
explicadas ou explicáveis. Uma das "explicações" possíveis seria a de que a
economia associada à tecnociência se configura como único espaço possível de
objetividade, mas ausenta-se princípios normativos claros para orientá-la.
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