Não são raros
na história da Igreja os casos de intromissões e ataques à Igreja por parte do
poder temporal, como no caso da Revolução Francesa que “premiou” os religiosos
mais fiéis com a guilhotina. A palavra chave aqui é fidelidade, pois houve aqueles que por medo e comodidade traíram a
Igreja e abraçaram o mundo, escolhendo para eles a porta larga e infelizmente
levando muitos por esse caminho. São esses os que Jesus afirmou serem lobos em
pele de cordeiros:
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho
que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém,
é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. Guardai-vos
dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são
lobos arrebatadores. (São Mateus 7,13-15)
A brevíssima rememoração feita acima nos serve de exemplo, assim como muitos outros casos, no que concerne às tentações que a Igreja Militante padece. A questão então é: Qual a verdadeira atitude cristã frente aos desafios do mundo? Ou também: Hodiernamente como o clero deve agir afinal a secularização dia a dia é levada a cabo? A resposta para as duas questões é; cabe a todos cristão em momentos de dificuldades agir com coragem. Coragem para enfrentar o mundo e afirmar no fim assim como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” (II Timóteo 4,7)
Na postagem anterior fiz
uma comparação entre o conto, “A roupa nova do rei”, e a lei seca, estendo-a a todas
a todas as leis e medidas de igual teor ideológico. Associando o que disse no
texto anterior com o que afirmei até aqui gostaria de lembrar dois fatos
sucedidos no Brasil nos quais duas autoridades católicas deram mostras de
virtude cristã. O primeiro se passou na Arquidiocese de Olinda e Recife onde
simplesmente fazendo cumprir o que manda a lei da Igreja o então arcebispo Dom
José Cardoso Sobrinho apenas promulgou excomunhões automáticas (latae sententiae) a quem havia promovido o aborto de
duas crianças (sobre a repercussão do caso clique aqui
e aqui).
O segundo se passou na diocese de Guarulhos onde o então bispo Dom Luiz G.
Bergonzini cumprindo seu dever de pastor alertou suas ovelhas sobre os perigos
de votar em certos candidatos (conferir aqui
e aqui).
O que há em comum entre
os casos acima citados além do restrito cumprimento do dever das autoridades
eclesiásticas diretamente envolvidas? Infelizmente ambos sofreram duras
críticas não apenas dos inimigos declarados da Igreja, o que seria de se
esperar, mas também, o que mais nos deveria entristecer, receberam críticas de
seus pares ou simplesmente sofreram com o silêncio da omissão ou quando muito
alguns nem um pouco animadores “tapinhas nas costas”. Onde estavam os paladinos
da moralidade pública que infestam as pastorais da CNBB? Ou onde estavam os
defensores das “liberdades democráticas” presentes nas dezenas de universidades
católicas espalhadas pelo Brasil? Pouquíssimos deram suas “caras a tapa”, por
isso, tais perguntas permanecem exigindo respostas urgentes que clamam
manifestações públicas.
Parece-me que mais uma
situação próxima das que citei apresenta-se para a Igreja no Brasil hoje com o
endurecimento da lei seca e sua “tolerância zero”, pois esta pode prejudicar a celebração
do Sacramento central da Igreja, a saber, a Eucaristia em algumas paróquias. É uma
lástima, no que sei até o momento, que nenhuma autoridade eclesiástica tenha
tido a coragem de apontar publicamente a “nudez do rei”, o que pode ser um tiro
no pé, afinal muitos padres precisam se locomover de carro após a missa para
atenderem mais igrejas, sendo que eles podem casualmente serem flagrados e
autuados por dirigirem embriagados (sic). No entanto, até agora só vimos
manifestações “politicamente corretas” (aqui) de bispos
que tentam adequar a lei da Igreja e de Cristo às leis do mundo e nos fazem
lembrar da passagem em que São Pedro tentou dissuadir Cristo do sofrimento[1].
Poderíamos então levantar mais uma questão: a quem realmente servimos, a Deus
ou ao mundo?
Não pretendo aqui, pecador
que sou, julgar e condenar homens consagrados por Deus, nem sou hipócrita para
afirmar que não sou também tentado a me acomodar, mas, por outro lado Cristo
disse que conhece a árvore pelos frutos[2] e
mesmo sendo leigo não sou insensato em afirmar que os frutos do servilismo ao
Estado moderno por parte do clero não são podres, relembro o caso da Revolução
Francesa. Por isso, como leigo gostaria de respeitosamente perguntar aos bispos
brasileiros: vale a pena sacrificar nossas tradições litúrgicas para evitar
conflitos com um Estado que mostra cada dia mais centralizador e ateu?
Alguns poderiam dizer que
não há mais como voltar atrás e que a secularização é um movimento sem volta,
mas não acredito nisso. S. Pedro que recebeu do próprio Cristo as chaves do
céu, anteriormente o havia negado, mas voltou atrás e sinceramente se
arrependeu e como nos disse Chesterton: “São Pedro negou seu Senhor; mas, pelo
menos, nunca negou que O tenha negado”. Está é a coragem católica, esta é a
virtude cristã. Como fiel peço a Deus que nossos pastores tenham a humildade e
a coragem petrina, para que com atitudes de servidão a Deus e abnegação das
leis do mundo sirvam de exemplo para mim e muitos outros que vacilam na fé.
Que os nossos
eclesiásticos gritem ao rei do mundo com a pureza de crianças e o julgamento de
homens[3]: “Você
está nu” e rompam com os grilhões da escravidão do pecado. É isso que peço a
Deus com fervor para os nossos legítimos pastores.
Referências bíblicas: http://www.bibliacatolica.com.br
[1]
21. Desde então, Jesus começou a
manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da
parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e
ressuscitaria ao terceiro dia.
22. Pedro
então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita
isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23. Mas Jesus, voltando-se para ele,
disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos
não são de Deus, mas dos homens! (São Mateus 16,21-23)
[2]
Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. (São Mateus 7,
17)
[3]
Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede
crianças; mas quanto ao julgamento, sede homens. (I Coríntios 14,20)
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