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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Lei seca e a roupa nova do rei: servilismo dos eclesiásticos?



Não são raros na história da Igreja os casos de intromissões e ataques à Igreja por parte do poder temporal, como no caso da Revolução Francesa que “premiou” os religiosos mais fiéis com a guilhotina. A palavra chave aqui é fidelidade, pois houve aqueles que por medo e comodidade traíram a Igreja e abraçaram o mundo, escolhendo para eles a porta larga e infelizmente levando muitos por esse caminho. São esses os que Jesus afirmou serem lobos em pele de cordeiros:

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. (São Mateus 7,13-15)

A brevíssima rememoração feita acima nos serve de exemplo, assim como muitos outros casos, no que concerne às tentações que a Igreja Militante padece. A questão então é: Qual a verdadeira atitude cristã frente aos desafios do mundo? Ou também: Hodiernamente como o clero deve agir afinal a secularização dia a dia é levada a cabo? A resposta para as duas questões é; cabe a todos cristão em momentos de dificuldades agir com coragem. Coragem para enfrentar o mundo e afirmar no fim assim como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” (II Timóteo 4,7)
Na postagem anterior fiz uma comparação entre o conto, “A roupa nova do rei”, e a lei seca, estendo-a a todas a todas as leis e medidas de igual teor ideológico. Associando o que disse no texto anterior com o que afirmei até aqui gostaria de lembrar dois fatos sucedidos no Brasil nos quais duas autoridades católicas deram mostras de virtude cristã. O primeiro se passou na Arquidiocese de Olinda e Recife onde simplesmente fazendo cumprir o que manda a lei da Igreja o então arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho apenas promulgou excomunhões automáticas (latae sententiae) a quem havia promovido o aborto de duas crianças (sobre a repercussão do caso clique  aqui e aqui). O segundo se passou na diocese de Guarulhos onde o então bispo Dom Luiz G. Bergonzini cumprindo seu dever de pastor alertou suas ovelhas sobre os perigos de votar em certos candidatos (conferir aqui e aqui).
O que há em comum entre os casos acima citados além do restrito cumprimento do dever das autoridades eclesiásticas diretamente envolvidas? Infelizmente ambos sofreram duras críticas não apenas dos inimigos declarados da Igreja, o que seria de se esperar, mas também, o que mais nos deveria entristecer, receberam críticas de seus pares ou simplesmente sofreram com o silêncio da omissão ou quando muito alguns nem um pouco animadores “tapinhas nas costas”. Onde estavam os paladinos da moralidade pública que infestam as pastorais da CNBB? Ou onde estavam os defensores das “liberdades democráticas” presentes nas dezenas de universidades católicas espalhadas pelo Brasil? Pouquíssimos deram suas “caras a tapa”, por isso, tais perguntas permanecem exigindo respostas urgentes que clamam manifestações públicas.
Parece-me que mais uma situação próxima das que citei apresenta-se para a Igreja no Brasil hoje com o endurecimento da lei seca e sua “tolerância zero”, pois esta pode prejudicar a celebração do Sacramento central da Igreja, a saber, a Eucaristia em algumas paróquias. É uma lástima, no que sei até o momento, que nenhuma autoridade eclesiástica tenha tido a coragem de apontar publicamente a “nudez do rei”, o que pode ser um tiro no pé, afinal muitos padres precisam se locomover de carro após a missa para atenderem mais igrejas, sendo que eles podem casualmente serem flagrados e autuados por dirigirem embriagados (sic). No entanto, até agora só vimos manifestações “politicamente corretas” (aqui) de bispos que tentam adequar a lei da Igreja e de Cristo às leis do mundo e nos fazem lembrar da passagem em que São Pedro tentou dissuadir Cristo do sofrimento[1]. Poderíamos então levantar mais uma questão: a quem realmente servimos, a Deus ou ao mundo?
Não pretendo aqui, pecador que sou, julgar e condenar homens consagrados por Deus, nem sou hipócrita para afirmar que não sou também tentado a me acomodar, mas, por outro lado Cristo disse que conhece a árvore pelos frutos[2] e mesmo sendo leigo não sou insensato em afirmar que os frutos do servilismo ao Estado moderno por parte do clero não são podres, relembro o caso da Revolução Francesa. Por isso, como leigo gostaria de respeitosamente perguntar aos bispos brasileiros: vale a pena sacrificar nossas tradições litúrgicas para evitar conflitos com um Estado que mostra cada dia mais centralizador e ateu?
Alguns poderiam dizer que não há mais como voltar atrás e que a secularização é um movimento sem volta, mas não acredito nisso. S. Pedro que recebeu do próprio Cristo as chaves do céu, anteriormente o havia negado, mas voltou atrás e sinceramente se arrependeu e como nos disse Chesterton: “São Pedro negou seu Senhor; mas, pelo menos, nunca negou que O tenha negado”. Está é a coragem católica, esta é a virtude cristã. Como fiel peço a Deus que nossos pastores tenham a humildade e a coragem petrina, para que com atitudes de servidão a Deus e abnegação das leis do mundo sirvam de exemplo para mim e muitos outros que vacilam na fé.
Que os nossos eclesiásticos gritem ao rei do mundo com a pureza de crianças e o julgamento de homens[3]: “Você está nu” e rompam com os grilhões da escravidão do pecado. É isso que peço a Deus com fervor para os nossos legítimos pastores.

Referências bíblicas: http://www.bibliacatolica.com.br


 




[1] 21. Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.
22. Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23. Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens! (São Mateus 16,21-23)

[2] Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. (São Mateus 7, 17)

[3] Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede homens. (I Coríntios 14,20)



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