Pesquisar este blog

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Lei seca e a roupa nova do rei



O conto universalmente conhecido de Hans Christian Andersen (aqui) é paradigmático. De forma aparentemente despretensiosa, para alguns, ele nos possibilita diversas reflexões sobre poder, honestidade, ignorância, etc. Mas o que há em comum entre o conto e a lei seca? Respondo: Muita coisa! O conto demonstra que a autoridade mal administrada gera um reino de medo e ignorância, afinal o medo de que o rei fosse contrariado ou desagradado, fez com que os seus funcionários e súditos fingissem ver o que não viam. Em nome da inteligência e porque não prudência recaíram numa obediência cega.
A lei seca é como a roupa nova do rei na medida em que os representantes do Estado, reis sem coroa e realeza, por mero capricho ou incompetência impingem à população uma lei arbitrária, pois contradiz as experiências evidentes da maioria da população[1] que conhecem pessoas sensatas que são capazes de beber certa quantidade de bebida alcoólica sem provocar acidentes. Certamente eles têm a favor a ciência, mas que ciência, a mesma que tinham os soviéticos ao invadir a Ucrânia, a mesma que tinham os “médicos” nazistas ou a que têm os que fabricam armas de destruição em massa?
Pois então ciência sem razoabilidade não justifica nenhuma ação, pois mais nobre que ela possa parecer a alguns desavisados, que precisam de uma resposta efetiva para os males dos acidentes de trânsito, mas que de maneira alguma compactuam com os princípios autoritários que fundamentam muito do que vem sendo feito politicamente no Brasil.
O que está acontecendo no Brasil é que na incapacidade de fazer o que lhes cabem, por exemplo, punir quem excede os limites e cumprir de fato as leis (que são razoáveis), os representantes estatais estão optando por um legalismo infrutífero  e invasivo, elaborando medidas que objetivam controlar os cidadãos dizendo o que é melhor para eles. Ao invés de possibilitar que a cultura se desenvolva naturalmente, o Estado paizão quer que seus cidadãos sejam eternas crianças, incapazes de escolherem aquilo que é bom para eles próprios.
Acontece que, como no caso do conto já citado, é a inocência de uma criança que quebra a hipocrisia e o fingimento, é a franqueza juvenil que grita: “O rei está nu!”. Se não cabe às crianças gritarem perante os desmandos estatais, cabe a nós adultos imitarmos suas virtudes e dizermos com franqueza que o Estado está nu e quer que nós vejamos crimes inexistentes e fechemos os olhos frentes às suas arbitrariedades. A aplicação da lei seca não é um fato isolado, mas demonstra que os “reis e gurus” de nossa pátria não têm pudor de transformar ideias nobres em medidas totalitárias mascaradas, cheias de bom mocismo.


Continua.
Próximo: Lei seca e a roupa do rei: servilismo dos eclesiásticos?


[1] O argumento neste ponto não é quantitativo do tipo: a maioria quer, então que seja. A ideia é demonstrar que os fatos podem ser comprovados por uma simples observação, o que qualquer um no pleno uso de sua razão pode fazer.


Nenhum comentário:

Postar um comentário