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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O reinado da doxa


O filósofo grego Platão, um dos maiores pensadores que já existiu, afirmou que é impossível se fazer ciência a partir da opinião (doxa), pois o conhecimento verdadeiro só é possível com a contemplação das ideias perfeitas, eternas e imutáveis existentes no “mundo inteligível”. Pode-se como fez Aristóteles, seu grande discípulo, criticar outros aspectos do pensamento platônico acerca inclusive do “mundo sensível”, entretanto, dificilmente questiona-se sem erro o fato de que a doxa não pode ser fundamento máximo da ciência e do conhecimento. Por outro lado isso não significa que ela não tenha importância alguma, e que um conhecimento verdadeiro pode surgir de uma opinião que se mostrou correta.
Queria com estas palavras demonstrar que por mais que a opinião seja útil ela não pode ter a última palavra em assuntos que demandem reflexões relevantes e sérias. De forma anedótica podemos dizer que a opinião serve para a pessoa escolher se gosta ou não de comer goiabas, mas não para afirmar sem mais se um terreno serve ou não para plantar goiabeiras, para isso é necessário um conhecimento mínimo de agronomia. Apesar disso parecer claro, a “civilização tecnológica” possuidora de vasto arsenal científico, dá cada vez mais espaço para a opinião ou achismo em assunto de extrema relevância. Convivem juntos um rigorismo tecnicista e um subjetivismo niilista! [1]
Este parece ser o cenário atual herdeiro do antropocentrismo e do relativismo. Se a ciência e a técnica tomaram para si toda a razão, sobrou para o “resto” desrazão. Então o que impera em política e religião, por exemplo, quando não os reduzem à ciência tecnicista, é o achismo. Isso gera fenômenos impressionantes. No caso da política lembro que minha mãe diz criticando a democracia liberal que alguns parentes nossos votaram no Fernando Collor à época porque ela “boa pinta”, elegante, etc. No caso da religião cito um caso recente o da renúncia do Santo Padre, o Papa Bento XVI. Nem bem ele havia se pronunciado e irromperam milhares de analistas dando suas opiniões, algumas delas tão descabidas que chegam a ser cômicas.
Caros amigos é por essas e outras que ando meio desconfiado quando ouço perguntas do tipo: O que você acha disso? Qual a sua opinião sobre aquilo?



[1] Isso me faz lembrar a seguinte passagem bíblica: “Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (São Mateus 23,24). Cabe explicar que menciono esta passagem apenas de forma analógica. 


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